Corcel 73

Guilherme Scarpelliniscarpellini.gui@gmail.com Era mais bem tratado que muita gente. Abastecido com gasolina cara, encerado com paninho de estopa, cheirinho no interior, estofados muito bem cuidados e nem uma marquinha de dedos no retrovisor. Não te disse? O Corcel 73 era mesmo mais bem tratado que muita gente. E ai de quem pedisse para dar uma voltinha. O velho enciumado inclinava a cabeça e devolvia aquele … Continuar lendo Corcel 73

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Ah, Minas Gerais

Rosangela Maluf Nasci em Minassou mineiramatreiraNasci em maiosou marianamarinado mar?Sou mariamãe, mulhernas mãos o M do mundono corpo o sol de invernono olhar a neblinaa geada, o friopreguiça de acordarNa alma o desejode cruzar fronteirasrasgar montanhasganhar o marultramarina?Mas no quintalnão tem marareias escaldantestem nãoTem galo que cantagalinha que cacarejapreta velha que chegapra cozinhar e lavarTem cheiro de manga no artem leite entornando lá foratem mingau, … Continuar lendo Ah, Minas Gerais

Pressa pra quê?

Guilherme Scarpelliniscarpellini.gui@gmail.com Um segundo antes de o sinal pular do amarelo para o vermelho, o homem acelerou. Quase deu com um motoqueiro que, não menos impaciente, já arrancava do outro lado. Foi quando ouvi uma voz mansa se arrastar. Delongou-se no caminho entre a boca do interlocutor e os meus ouvidos, mas chegou, íntegra: — Ter pressa pra quê? Então o autor da questão apareceu … Continuar lendo Pressa pra quê?

A última cerveja

Guilherme Scarpelliniscarpellini.gui@gmail.com De repente, Bené anunciou que não compraria mais cerveja. Quando a última garrafa fosse aberta, ele fecharia as portas. Depois de 35 anos funcionando — desde que o dono fosse com a sua cara — o bar do Bené, em Araxá, estava com os dias contados. Os últimos dias se arrastaram feito os movimentos de um velho cansado de lustrar copos lagoinha, como … Continuar lendo A última cerveja

Feijão tropeiro

Nem só de coxinha de frango, guaraná barato e piada com o Cruzeiro se faz uma missão presidencial de respeito em Minas Gerais. Foi outro nobre dever ultraextraoficial, de grande pequeneza cívica e de admirável amor à pátria odiada, que levou o presidente do Brasil a marchar por estas bandas de cá: a busca pela receita perfeita de… políticas públicas? modelos de gestão? boas práticas … Continuar lendo Feijão tropeiro

Zumbi de bronze

Guilherme Scarpelliniscarpellini.gui@gmail.com Depois que eclodiu o levante contra as estátuas de racistas no mundo, eu passei a olhar torto para os homens de pedra que cruzam o meu caminho. Primeiramente, porque são todos homens brancos. Observam-nos de cima para baixo, com a arrogância de quem não desce do pedestal. Depois, ainda que fossem homens e mulheres de pele negra, não seriam negros, mas, invariavelmente, cinzas, … Continuar lendo Zumbi de bronze

Incoerências

  Guilherme Scarpelliniscarpellini.gui@gmail.com Mudei radicalmente os hábitos de vida. Não bebo mais água durante as refeições, porque água prejudica a digestão — agora só se for Coca-Cola. Vendi o meu carro também. Assim, contribuo para um trânsito melhor, já que vou e volto de Uber. Passei a rezar dobrado. Pratico solidariedade e gentileza. Mas não sei o nome do vizinho de frente. Quem disser que sou … Continuar lendo Incoerências

Araxá, terra natal do pão de queijo

Recentemente, dias antes da decretação do confinamento, em viagem até a minha Araxá, o amigo Armando de Angelis, –  que me deu uma carona – assegurou a afirmação dessa chamada. Ressabiado, pedi a ele que me enviasse a tal matéria que garantia ter guardada em casa. Enfim recebi. Querendo inclusive tirar o foco da epidemia, segue abaixo a digitação do texto e o print recebido. … Continuar lendo Araxá, terra natal do pão de queijo

Samba de (des)enredo

Guilherme Scarpellini scarpellini.gui@gmail.com   Chora, cavaco! (Chora não, que chorar é coisa de mariquinha, tá OK?). Dispara, cavaco! Alôooo, comunidade criacionista! Alô, elite brasileira! Está chegando os Acadêmicos da Terra Plana. Canta forte, cordeirinhos, canta… Arrebenta, bateria!   Ô Brasil, teu verde não me engana Pega fogo e ninguém reclama Agora que sou eu o mundo inteiro quer apagar   Ô Brasil, suas ONGs bebem cana … Continuar lendo Samba de (des)enredo