Feijão tropeiro

Nem só de coxinha de frango, guaraná barato e piada com o Cruzeiro se faz uma missão presidencial de respeito em Minas Gerais.

Foi outro nobre dever ultraextraoficial, de grande pequeneza cívica e de admirável amor à pátria odiada, que levou o presidente do Brasil a marchar por estas bandas de cá: a busca pela receita perfeita de… políticas públicas? modelos de gestão? boas práticas de governança?

Não, de feijão tropeiro.

Isso mesmo, feijão tropeiro. Como se sabe, o presidente não é um homem dado a culturas populares (vide a live com o sanfoneiro, em que o instrumento é duramente castigado em frente à câmera). Mas certamente ele já ouviu que todo mineiro come quieto. Assim também ouviu que o mineiro jamais questiona o que vai dentro de uma panelada de feijão tropeiro. Vê aquela mistura de carnes, ovos, feijão, farinha e lascas de torresmos peludos, e não pestaneja: traça tudo com cerveja.

Pois está aí a receita ideal para o sucesso deste governo. Afinal de contas, tudo depende de como enfiar goela abaixo de 70% da população um panelão cheio de gorduras saturadas de imoralidades, atrocidades, improbidades e coisas piores e tal, como a nomeação de um ministro com doutorado em Ctrl + C e Ctrl + V, mas que não colou.

O presidente Bolsonaro comeu coxinha de frango durante visita a Araguari, no Triângulo Mineiro Reprodução/Twitter)

Inspirado no ex-quase-ministro, o presidente copiou a seguinte receita: a uma panela de feijão, adicione toucinhos, pernil e carne seca. Trate-os como se trata uma democracia: cortando-os em pedacinhos. Misture os três poderes com clara de ovos. E bata tudo com colher de pau — sim, pode ser cassetete. Adicione linguiça. Tudo bem. Corta a linguiça dos bolsominions. Mas não deixe de acrescentar o Queiroz. E mexa em fogo alto até dissolvê-lo.

Pegue uma frigideira. Jogue nela uma porção de jornalistas, uma dúzia de cientistas, um bando de artistas. Mexa. Agora esqueça a frigideira. Deixe queimar.

Por fim, misture o conteúdo das panelas e acrescente farinha do tipo avião da FAB. Adicione religião a gosto — do pastor. E sangue à vontade. Agora está pronto. Acompanha com cerveja gelada, que é para a digestão ocorrer em clima de paz e amor.

Serve até quatro: zero um, zero dois, zero três e zero quatro — e derruba uma nação inteira.

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