Adeus, Charlie Watts

Guilherme Scarpelliniscarpellini.gui@gmail.com Quando Charlie Watts, o lendário baterista dos Rolling Stones, sentava atrás de seu instrumento, era como se estivesse sorvendo chá. Com a postura de um lorde inglês, Sir Watts empunhava a baqueta por entres os dedos da mão esquerda, movimentando-a com tamanha delicadeza, que parecia manusear uma xícara de chá. Sempre impecável no seu terno alinhado, preciso como um metrônomo e ostentando aquela … Continuar lendo Adeus, Charlie Watts

Monstrinhos de queijo

Guilherme Scarpelliniscarpellini.gui@gmail.com Sou daqueles que compra uma peça de roupa e sai da loja com ela no corpo. Ansiedade? Imagina… É só o temor de que um meteoro possa se chocar contra o planeta antes que surja outra oportunidade de estrear a roupa. Não deve ter sido à toa que encontrei alguém do mesmo tipo. No inverno passado, a Dani comprou uma bota de couro … Continuar lendo Monstrinhos de queijo

Algodão doce

Guilherme Scarpelliniscarpellini.gui@gmail.com A Praça do Papa foi o nosso quintal por bons tempos. Morávamos em uma casa de madeira, no alto do bairro Mangabeiras e, da varanda, avistávamos o cartão postal: o obelisco, o gramado verde, a cruz e, como pano de fundo, a Serra do Curral. Coisas nem tão agradáveis também faziam parte do cenário. Brigas, batidas policiais, gente bêbada de Catuaba e sons … Continuar lendo Algodão doce

Roteiro de série

Guilherme Scarpelliniscarpellini.gui@gmail.com Era a hora mais escura da madrugada quando um grupo de homens escalam os muros altos da casa. Disfarçados de oficiais da agência americana antidrogas (DEA, na sigla em inglês), eles são mercenários, treinados pelas forças armadas dos Estados Unidos e com uma missão: matar o presidente. Dentro da casa, um dos mercenários se depara com a primeira-dama e a filha do casal. … Continuar lendo Roteiro de série

Carta aberta aos imunizados

Guilherme Scarpelliniscarpellini.gui@gmail.com Senhor e senhora, Os trintões estamos vivendo em uma bolha. De um lado, as pessoas com que convivemos estão, parcial ou completamente, como você, imunizadas, vivendo a vida quase normal — e nos colocando em risco. De outro lado, estão doentes. Entre a cruz e a espada, escolhemos a bolha. E não ouse furá-la. O fenômeno passa despercebido por você, no alto de … Continuar lendo Carta aberta aos imunizados

Até onde vai a loucura?

Foi quando eu fatiava uma pizza em seis pedaços que, por ironia das circunstâncias, tivemos a ideia: vamos assistir ao documentário da Elize Matsunaga, na Netflix? Era sábado à noite, e eu e a Dani não tínhamos programa melhor. Mergulhamos na história da mulher que matou o marido com um tiro e depois o despachou em malas. Mas como fazê-lo caber em malas seria fisicamente … Continuar lendo Até onde vai a loucura?

Quem escolhe vacina, escolhe o final da fila

Guilherme Scarpelliniscarpellini.gui@gmail.com Imagine você ao fazer compras no supermercado se depara com uma gôndola de vacinas. Um funcionário, que está recompondo o estoque, chama a freguesia: “vamos chegando, estão fresquinhas”. Algumas pessoas aparecem para conferir. Olham uma ampola aqui, outra ali. E torcem os narizes quando encontram o selo de procedência: Instituo Butantan. “Calma que tem para todos os gostos”, diz um vendedor no alto … Continuar lendo Quem escolhe vacina, escolhe o final da fila

Doutor Wanderley, o coveiro e o defunto

Márcio Magno Passos Único médico na cidade, doutor Wanderley acabara de entrar em casa debaixo de um temporal nunca visto. Estava exausto após um dia inteiro de andanças pela zona rural, atendendo o sofrido e carente povo da roça. Médico exemplar e de alto espírito humanista, ele gozava de grande prestígio e respeito de toda a população. Mal esticara as pernas sobre o sofá, tocaram … Continuar lendo Doutor Wanderley, o coveiro e o defunto

Genocida

Guilherme Scarpelliniscarpellini.gui@gmail.com O povo de Pindorama deu um basta no presidente. Já é hora de ir!, o grito ecoou das ruas. Por isso, o pior governante da história daquele povo sofrido — e também muito arrependido — ficou conhecido como Jair. Era mesmo um péssimo presidente esse Jair. Destrambelhado, só abria a boca para falar asneira e abria a boca sempre. Embora sentisse um prazer … Continuar lendo Genocida

Genocídio

Guilherme Scarpelliniscarpellini.gui@gmail.com Ditadores também têm família. Saddam Hussein tinha a sua, e delegou ao primo Ali Hassan al-Majid a missão de expulsar os membros da etnia curda de regiões no norte do Iraque, na década de 1980. Ao cumprir as ordens do parente, usou veneno de rato e gases tão tóxicos que poderiam reduzir os seus pulmões a dois grãos de feijão. Pelo massacre de 150 … Continuar lendo Genocídio