Monstrinhos de queijo

Reprodução/GettyImages
Guilherme Scarpellini
scarpellini.gui@gmail.com

Sou daqueles que compra uma peça de roupa e sai da loja com ela no corpo. Ansiedade? Imagina… É só o temor de que um meteoro possa se chocar contra o planeta antes que surja outra oportunidade de estrear a roupa.

Não deve ter sido à toa que encontrei alguém do mesmo tipo. No inverno passado, a Dani comprou uma bota de couro preta, daquelas que cobrem até o joelho, estilo Paquitas da Xuxa. Como era quarentena, ela calçou as botas só para assistir à Netflix comigo. Outra vez nem estranhei quando ela acordou às seis e meia da manhã para ir à academia. Na véspera, ela havia ganhado um par de tênis novo.

Foi no último domingo que alcançamos o pico da insanidade conjugal. Almoçamos na casa da minha sogra, e ela nos deu um air fryer — uma fritadeira sem óleo. O problema é que, ao chegarmos em casa, não havia nada para fritar. Era dez pras cinco, e só queríamos tomar o chá das cinco. Mas tínhamos uma feitadeira sem óleo. Tínhamos também pãezinhos de queijo no congelador. Então resolvemos usar.

Nos primeiros dez minutos correu tudo bem. Os pãezinhos de queijo iam esquentando dentro da parafernália, e cheguei acreditar que o chá da tarde ia sair. Então os pãezinhos, em vez de assar, fritar, cozinhar, sei lá, começaram a derreter.

Um pãozinho se juntou ao outro. Outro se juntou parcialmente ao outro. Em poucos segundos eles viraram um só e, ao mesmo tempo, eram vários pãezinhos ligados por um tentáculo de queijo. A chaleira já ia apitando, mas a fritadeira não estava nem perto de terminar a criação.

De repente, uma luz de esperança. Alguns pãezinhos de queijo começaram a crescer. Outros cresceram apenas parcialmente. Uns ficaram brancos e tortos e com aspecto horrível. Outros ficaram corados e tortos e com aspecto igualmente horrível. No final das contas não teve jeito: o chá acabou sendo com monstrinhos de queijo.

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Em 2016, eu tive a oportunidade de assistir ao Tarcísio Meira no Palácio das Artes. A peça era “O Camareiro”. Aquele homão conseguiu preencher todos os cantos do Grande Teatro com o seu vozeirão, talento e beleza. Perder Paulo José e Tarcísio Meira na mesma semana é perder demais.

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