Eduardo de Ávila
Uma pessoa amiga, muito querida e com ares de preocupação, me aborda sobre meus últimos textos. Sutilmente sinalizou que parecem muito nostálgicos e com a intenção de deixar registrado minhas vivências e emoções ao longo dos tempos. Sim, mas nem de longe – como me pareceu – estou me despedindo. Toc toc toc…ainda vou incomodar muita gente que acredita me constranger.
Já contei aqui sobre meus passos e experiências, e confesso ter sido moldado mais pela vida que por genética. Em síntese. De bom aluno no primário a conhecer reprovação no ginásio, depois fazer o científico em meia dúzia de colégios (isso mesmo, seis). Só quem é antigo para entender. Desacreditado e quase convencido que não ia ser aprovado em vestibular, fiz dois cursos superiores. Direito e Jornalismo, sendo uma negação no primeiro e razoavelmente bem sucedido no segundo. Costumo dizer que engano bem nessa escolha.
Superei a timidez da adolescência apelando para o álcool, que anos mais tarde me fez travar uma luta para abandonar o vício. Fiquei abstêmio, mas mantive uma certa irreverência, o que incomoda quem quer aparecer contrapondo meu jeito de ser e de pensar. Provocam e se vitimizam, tentando me imputar a condição de grosseiro. Mas que consigo fazer essa gente vazar de perto, é inegável. Que seja feita então a conveniente opinião desses quase cinco desafetos.
Mas, de volta ao meu aconchego. O que tem, na verdade, me estimulado a viajar pela minha história são as boas e doces lembranças. Já tenho quase 70 anos de idade, beirando 50 de trabalho e contribuição previdenciária, sem poder me dar ao luxo de aposentar. Evidente que por razões de compromissos que ainda tenho comigo e de quem depende do meu trabalho. Se assim o fizer, o prejuízo será enorme, então vou levando enquanto ainda tenho motivação e me sinto produtivo. E, confesso, é legal ter essa responsabilidade diária e dar conta de cumprir uma agenda bem ajustada.
Ainda me sobra tempo para muita atividade pessoal, não só as fundamentais e saudáveis academia e pilates, mas participar de lives e escrever um blog diário do meu Galo. Esse aqui no Mirante toda terça. Vou sempre ao cinema, cafeterias, iniciei neste ano a filarmônica (assistir e não tocar), me sobrando até tempo – acreditem – para namorar. Pena que não foi adiante, nossos projetos de vida – pela diferença de gerações – não coincidiram e nos tornamos amigos. Bons amigos, juro! E tenho enorme apreço pela quase dona dos meus restos de tempos. Ela me faz bem, tenho a pretensão de corresponder nesse caso. As prosas, respeitosas, de pessoas que sabem ouvir e falar ao seu tempo. E mais, também me dou bem com quem num momento da existência se associou a mim e me fez ser pai – quero dizer -, não carregando rancor de relações do passado. Ao contrário, já ouvi dela própria que sou um bom pai e ex-companheiro.
E nesse imbróglio, vou assistindo – insisto que sem nenhuma pressa – a passagem de inúmeras/os amigas/os. Tempos atrás, perdia um/a ou outro/a amigo/a por ano, passou a ser mais; agora todo mês tem partidas, às vezes duas ou três. Que não vire semanal. Embora eu participe de poucos grupos nas redes sociais, nem mesmo de família (conflito político, futebolístico e religioso), neles aparecem o anúncio de gente próxima que mudou de plano. São de tempos dos bancos acadêmicos, de vida profissional (jornalistas), conterrâneos e específicos do Galo e por liberdades democráticas.
Lá aparecem manifestações interessantes sobre esse tema de mudança para a vida espiritual. Ninguém tem pressa. Já passei por alguns sobressaltos, destacando dois tumores, sendo o primeiro totalmente extirpado. Já o segundo, além de mais literalmente brochante, insiste em ramificações que devem me levar para a quimio ou rádioterapia. Nem por isso me entrego. Lembro de um dos amigos que se foi recentemente. Roberto Elísio evitava avião. Disseram a ele que a programação de partida já acompanha cada um de nós, daí ele respondia “e se for o dia do piloto”.
Fato é que estamos aqui de passagem e essa viagem tem fim. Não me apavoro e curto cada momento vivido. Uma amiga (Eliza Peixoto), num desses grupos, disse “cada dia um vai embora encontrar com os outros lá em cima. Lá deve estar uma festa. E aqui…”! Outra (Miryan Christus) reagiu imediatamente “sim, mas prefiro continuar aqui mesmo. Teremos a eternidade para fazer essa farra”.
E tem virado rotina encontrar com essa velha guarda em velórios do Colina, Bonfim, Zelo, House, Metro Pax. Meu saudoso tio Domingos, o Domingão lá do Araxá, dizia que tinha mais amigos dentro daquele terreno murado que nas ruas da cidade. Vaaapooo! Por fim, reafirmo, não tenho pressa de ir embora, entretanto estou sempre preparado e grato pela vida feliz que tive, tenho e ainda pretendo ficar por mais algumas décadas. Que assim seja!
Bom Dia! Eduardo, sempre muitíssimo agradecida pelos seus textos que retratam coragem, responsabilidade e alegria no viver. A vida terrena é muito maravilhosa quando sentimos felizes,amados e reconhecidos pelas pessoas que amamos. Abraços.
Querida! Obrigado! Vc sempre estimulante nessas minhas despretensiosas postagens.
Amigo, amigo meu!! Saudades de você, queridão. Pequena biografia de um grande homem!!! Emocionante texto!
Obrigado, Wilma! Vc tem um amplo cômodo na minha passagem pela vida. Nossas boas prosas sempre foram produtivas.
A vida é bela e os percalços estão aí para que possamos aprender a valorizá-la. Caminhando e cantando,sigamos caro Amigo temporão .
Forte abraço.
Nunca parar de cantar, que nem o nosso time ao amanhecer o novo dia.
Olá Eduardo, Não se importe com os comentários sobre seu saudosismo ter ares de despedida. Eles nos ajudam a lembrar de nossos fatos da infância que dão sentido ao nosso presente. Também compartilho com Miryan Cristus e com você a ideia de que a vida é pra ser vivida intensamente, mesmo que muitas vezes, sejamos assombrados pela nossa finitude. Abraços.
E é o que temos feito, né Maralice! Viver intensamente, com o mesmo sabor dos tempos já distantes.
Nesse tema, concordo como o
nosso amigo seu xará, o Eduardo Costa. Ele é kardecista convicto e, quando o assunto é finitude, ele costuma dizer: estou pronto. Mas não tenho pressa.
Nisso todos acordamos, sem pressa. Ainda temos muita lenha pra queimar, desde nosso quintal na Savassi, até nas esticadas pela Esquina Santê. Assim seja!
Amei , Eduardo .
Muito feliz com nossos cafezinhos , sempre estimulantes .Apesar de nossas divergências, ou talvez , por causa delas .
Viva a discordância civilizada !
Vida longa aos nossos encontros !
Grande abraço .
Querida Neia! Prosear com vc e seu querido Paulinho é das maiores preciosidades que desfruto. Não divergimos, ao contrário, convergimos por caminhos diferentes. O que seria do Galo sem essa sua opção diferente? Bora marcar o próximo?