Réveillon popular e pra pular

Não programei nada, via de regra e desde os meus tempos lá no Araxá, a virada é pensada com antecedência e uma produção envolve esse momento simbólico. Além de onde passar, roupa e compromissos de mudança. Deixar a bebida, cigarro e novos propósitos antecedem a festa que marca o primeiro de janeiro um dos dias com maior incidência de ressaca do ano.

Já dormi em fila na rua para comprar mesa para o réveillon, em troca do ingresso da festa. Lá na terra, os primeiros foram no clube social da cidade, depois nos amplos e suntuosos salões do Grande Hotel. Assim, nessa sequência, foram também os carnavais.

No Rio de Janeiro, por duas ocasiões. A primeira numa luxuosa cobertura ao lado do Palácio das Laranjeiras – na época residência oficial da Presidência da República – e lá do alto via Costa e Silva chegando e saindo, embora já existisse Brasília. A foto abaixo mostra o local que foi num desses prédios do Parque Guinle. A outra ocasião, décadas depois, vendo os fogos e debaixo de chuva fina e fria na praia de Copacabana.

Em casa, tanto BH quanto Araxá, com familiares e amigos. Uma única vez foi dormindo e já morando sozinho. As outras, aqui na capital, alternaram entre o Minas Tênis Clube e restaurantes como a Casa dos Contos. Fizemos várias viradas naquele espaço que resiste até os dias de hoje. Turma boa, que ainda revejo até os dias de hoje, embora muitos já tenham subido o degrau da espiritualidade. Boas recordações ao longo de muitas décadas.

Pois, desta vez, nada pensei e – consequentemente – nada organizei. Fui deixando o tempo resolver. Não chamei ninguém e tampouco recebi alguma convocação. Ao final da tarde de domingo, numa ligação com a minha filha que está cumprindo mais uma viagem pelo mundo – desta vez no deserto de San Pedro de Atacama – recebi a sugestão de ir para a praça da Liberdade.

Até arrisquei em tentar levar uma pessoa amiga, mas – convenhamos – faltando pouco mais de duas horas não fui prudente. E assim sai logo depois, olhando para os lados e procurando lugar aberto, pensando num jantar depois dos fogos. Pois fui na Casa dos Contos e fiquei na mesma mesa de décadas passadas.

Indo para lá, percebo que o entorno e a própria praça da Liberdade, a exemplo da Castro Alves é do povo como o céu é do avião (salve nosso eterno Caetano), estavam tomadas por cerca de 30 mil pessoas. Custei a achar um lugar pra deixar o carro. Quase desisto, mas acabei milagrosamente solucionando isso, entrando no embalo por volta de dez da noite. Atmosfera maravilhosamente diferente de tudo que já tinha experimentado. Crianças andando, no colo ou no carrinho; gente caminhando e no balanço dos dois palcos com espetáculo musical variado.

Público bem diversificado. Gente pobre, gente rica; doutores, professores e moradores de regiões distantes do local, empresários e trabalhadores. Gente discreta e gente querendo se mostrar. Minha barba branca não me deixa passar em branco (sem intenção de trocadilho infame). Foi também a cor de toda a minha indumentária. Buscando paz e renovação. Teve quem me identificasse por causa do blog do Galo e outras pessoas que brincavam que o Papai Noel estava presente, como essas três simpáticas mocinhas (Tabata, Sara e Vitória) que pediram uma foto com o bom velhinho.

Na exata meia noite, a contagem regressiva, seguida de um espetáculo inesquecível. Um show com drones deixou todos com os olhos fixados no céu de Belo Horizonte. Desde o copo lagoinha, passando por tambores de congado, nossas montanhas, trem de ferro, igrejinha da Pampulha, musicalidade, símbolos da mineiridade, até chegar na bandeira de Minas Gerais encantaram nossa visão por longos minutos. Registre-se que foram utilizados fogos de baixo ruído, projeções e luzes. A exemplo do carnaval de BH, acredito que essa festa popular e pra pular vai pegar e atrair mais e mais público a cada nova virada de ano.

*imagens: 1) portal governo MG, 2) Wikipédia; 3) arquivo pessoal

2 comentários sobre “Réveillon popular e pra pular

  1. Fomos pra lá tb. Ana, Laura, Yaskara e eu “quedamos” emocionados. @AlineCalixto cantando, DJs tocando, projeções na fachada do Palácio, a luz do foguetório, as luzinhas nos jardins da praça e nos olhares, aos milhares…!
    Quando os drones formaram a igrejinha da Pampulha (um salve, Francisco!) e o trenzinho do @Bituca, a festa se completou. Os últimos momentos de 2023 e os primeiros de 2024 estão assim, na história.

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