Buscando uma crônica que escrevi há algum tempo para esse Blog, deparei-me com outras que já não me lembrava de seus conteúdos. Isso me remeteu à entrevistas de escritores que alegam amnésia sobre seus textos. Achei delicioso reencontrar alguns dos meus. Também o foi a releitura deles. Busquei, curiosa, aqueles em que a escrita é sobre nossa vivência em um mundo pandêmico. Trago agora essa trajetória cronológica, visto que vivemos uma experiência que deixará suas marcas. Registro minha preocupação com as causas ambientais, a globalização, a interligação das ações ocidentais/orientais e vice-versa.
19 de março – A vida é bela é a primeira crônica com menção a pandemia – uma alusão ao filme homônimo, no qual um pai protege seu filho do horror ao seu redor. Ele utiliza de brincadeiras e jogos para não deixar que seu filho seja submetido à crueldade do momento. Recorre ao imaginário infantil para isso. Em 2020 é recomendado o esclarecimento para nossas crianças sobre o vírus, porque estão sem aulas e distanciadas de pessoas queridas. Mas as brincadeiras e os jogos lúdicos são recursos indispensáveis para manterem a saúde mental. Finalizo a crônica com a pergunta: “quando a primavera chegar, quero ganhar um prêmio. E, meu tanque de guerra será caminhar com leveza, sentindo a brisa no meu rosto e sabendo que vencemos juntos. E você?” Cheguei na primavera de 2020, agora a proposta é para a de 2021.
Em Emergência da fala trago o aparecimento das lives, comunicações on-line e constato: “Todos têm algo a falar e compartilhar. Há emergência!” Os profissionais da saúde mental estão prontos para esse momento de escuta virtual.
N’O mundo do silêncio, relato o conflito em explicar para uma surda/muda o que é a pandemia, os procedimentos de higienização, cuidados com a própria vida e a manutenção de sua rotina e afetos.
Freud no tempo do coronavírus trata-se das mini-séries, recursos intensificados para distração do momento. Freud, título de uma delas – lançada 2020 – recebeu muitas críticas, pois mostra de forma banalizada e irreal a origem da psicanálise. Assisti sem pretensões e me distrai com um enredo surreal num clima de suspense. Fez-me constatar a força desse grande cientista. Ele mesmo poderia dizer: “Falem mal de mim, mas falem”. Me vi presente numa ficção neste tempo em que a psicanálise se apresenta com toda força, reorganizando sua transmissão e ampliando seu alcance para o mundo virtual. Achei simbólico sua reapresentação nesse formato e tempo.
Em 16 de abril – Sublimai-vos!. Com a galera “subindo pelas paredes” o recurso era sublimar do trágico para algo que produzisse um alívio para angústia.
Qual futuro esperar, uma avó preocupada com o neto e com o futuro de nossas crianças.
Viagens: novos cenários na pandemia, a viação e o mercado de turismo se reposicionando. Os planejamentos e previsões de retomada com as medidas de biossegurança. Do caos a recriação. Haja força para o turismo! Gostam de viajar? Pensem nesses profissionais e em como os ajudar.
O homem é o lobo do homem, recorde é uma palavra que feria meus ouvidos e questiono nossos recordes e superações. Cito o filósofo Vladimir Safatle: “o neoliberalismo não chora suas mortes e sim as conta”. Pergunto se o sintoma de nossa civilização é o da produção recordes.
Em 18 de junho – Momento e Máscaras, dez de caminhada – comparo dois momentos que se distanciam em 10 anos. Duas máscaras – uma numa viagem ao Chile e a outra na pandemia. Senta e chora? Não! Sento e escrevo.
Precisamos de mais fiado, quero brisas para nos acalentar depois de 100 dias de isolamento e de 81.000 (à época) mortes de brasileiros.
30 de julho – Religiosidade e o turismo religioso, a crônica fala de três centros religiosos e suas organizações para atenderem aos fiéis – Grande Mesquita de Meca, a Basílica de Nossa Senhora Aparecida e os terreiros de candomblé, umbanda e caboclo da Bahia.
Em casa: a escola, o escritório e família. Como estão todos? É uma reflexão sobre o lar que acolheu a todos: família, escola e escritório. A constatação de que a experiência é subjetiva: cada lar, pessoa adulta ou infantil e profissional. Reinventar e criar é a palavra de ordem.
No luto e na luta – “A pandemia escancarou para o mundo a interligação em que vivem os povos da terra”. É o sabido o que querem negar.
Rave e a turma “nem aí”, o título já é uma denúncia. Mantenho a pergunta: em qual mundo desejam viver? O que esperam dele?
10 de setembro – Reflexões sobre a pandemia. Além de dados estatísticos sobre o mercado de trabalho, reafirmo minha preocupação com a motivação ao consumo sem levar em consideração as questões do excesso e suas sequelas ao meio ambiente. A saída é a esperança, com ações positivas e respeito com a vida na sua diversidade.
Freud, Cartagena, Museo de Oro Zenú e culturas ancestrais: um combo. Numa fuga, viajo para Colômbia e trago a cultura Zenú. Relembro as descobertas de Freud em “Totem e Tabu” e as culturas ancestrais. Apresento a penalidade ancestral do povo Zenú reaplicada na cidade colombiana de Túchin.
24 de setembro – Então é primavera, crônica que é um misto da alegria da recriação da vida com um alerta. Nos dizeres dos poetas apresento isso e concluo com Drummond: “foi preciso (teria sido?) //matar o verde, substituí-lo//pela neutra cor uniforme//que é uniforme do Progresso.
Creio que estou ficando atrevida com a escrita. Na próxima semana, fará um ano da minha coluna no Blog Mirante. No texto passado – Então é primavera, trago um neologismo a “la Sandroca”, como minha colega Rosangela descreveu. Agora, faço uma análise da minha escrita na pandemia. Será que a escrita é para pessoas atrevidas? O que afirmo é que me sinto feliz em fazê-la.
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