A filha do feirante

Peter Rossi   Em uma das minhas incontáveis incursões em restaurantes ao redor do trabalho, na hora do almoço, me deparei com mais uma situação muito divertida. Com o computador em frente ao rosto, estava revisando um livro a ser lançado em breve. De repente, ouvi uma voz extremamente fina, que chegava ao fundo dos ouvidos, como uma lança, a perfurar meu tímpano. Levantei o … Continuar lendo A filha do feirante

UM REENCONTRO

Rosangela Maluf Ele era muito mais do que ela poderia imaginar. Aquele cara que ela conhecera ainda adolescente, lá no interior, lhe fora apresentado por uma amiga comum que desconhecia completamente a história dos dois. História dos dois? Como assim… Sim, os dois viveram em uma mesma cidadezinha.  Tiveram um namorico, logo proibido pelos pais dela.  Àquela época, o cara em questão usava os cabelos … Continuar lendo UM REENCONTRO

A minha escrita - Fonte: Pixabay

A minha escrita

Daniela Piroli Cabral contato@danielapiroli.com.br A minha escrita é cabana, lugar de retiro e introspecção. A minha escrita é colo, lugar de alento e compreensão. A minha escrita é diário, lugar de fragmentos da história e de confissão. A minha escrita é rotina, lugar de lágrima e organização. A minha escrita é bandeira, lugar de resistência e manifestação. A minha escrita é túmulo, lugar de silêncio … Continuar lendo A minha escrita

Brasil na terra da fantasia

Guilherme Scarpelliniscarpellini.gui@gmail.com Eu às vezes encaro uns tijolões literários, de muitas páginas e letras miúdas, que levam pouco mais de uma eternidade para ser lidos. Foi assim com “As Crônicas de Gelo e Fogo”, de George R. R. Martin. Cinco volumes tão parrudos, que se nos equilibrássemos em cima deles, daria para apertar a ponta do nariz do índio, no alto do edifício Acaiaca — … Continuar lendo Brasil na terra da fantasia

Continho de ficção científica

Guilherme Scarpellinscarpellini.gui@gmail.com Era ainda menino, com os joelhos ralados e o nariz escorrendo, quando Pedrinho começou com essa mania de esconde-esconde. Dava a hora do almoço, e o moleque escondia-se no armário. A mãe dele, coitada, o procurava em todos os cantos, e nada de Pedrinho aparecer. De repente, aparecia — e a marca do chinelo na bunda também. Nem a professora ele perdoava. Uma … Continuar lendo Continho de ficção científica

Pontinho de luz

Guilherme Scarpelliniscarpellini.gui@gmail.com Meu sobrinho nasceu em 2020. Isso quer dizer que ele veio a este mundo ao sabor do caos: às pressas, prematuramente e em meio à aflição de médicos e familiares.   Era segunda-feira, com quase um mês de antecedência, quando ele chegou. Um dia antes, a sua mãe deu entrada no hospital com a pressão arterial batendo nas nuvens. O quadro clínico, silencioso … Continuar lendo Pontinho de luz

Recanto das crônicas

Guilherme Scarpelliniscarpellini.gui@gmail.com Rubem Braga passou três crônicas inteiras atrás de sua borboleta amarela — “Borboleta”, “Borboleta II” e “Borboleta III”, todas elas publicadas no Correio da Manhã, em setembro de 1952 — para, ao cabo da jornada, nada acontecer. Era um pedacinho de delicadeza amarela no céu, que começou roçando os cabelos do Cronista Maior para então sobrevoar as vitrinas e o tráfego de carros, … Continuar lendo Recanto das crônicas

Caso de polícia

Guilherme Scarpelliniscarpellini.gui@gmail.com Vovó Márcia não esperava ninguém quando a campainha tocou. Já se passava das três, e ela ainda tinha de molhar as roseiras, fazer ginástica pelo YouTube, lavar a louça suja na pia e, depois de zanzar pela casa inteira, poderia enfim sentar-se no sofá, quando tricotaria setenta e cinco pares de sapatinhos coloridos para o bisneto, que chega em janeiro. E quem diabos … Continuar lendo Caso de polícia

Escritor da meia-noite

Guilherme Scarpelliniscarpellini.gui@gmail.com O poeta bem disse que ninguém é poeta das oito da manhã às cinco da tarde. Pior sou eu, um cronista da meia-noite às seis da manhã, que costuma dormir neste mesmo horário. O que faz de mim um escritor tão brilhante quanto o desempenho dos candidatos de Jair Bolsonaro no domingo passado. Ainda assim, não desisto de escrever. Ou, quando desisto, o … Continuar lendo Escritor da meia-noite

Corcel 73

Guilherme Scarpelliniscarpellini.gui@gmail.com Era mais bem tratado que muita gente. Abastecido com gasolina cara, encerado com paninho de estopa, cheirinho no interior, estofados muito bem cuidados e nem uma marquinha de dedos no retrovisor. Não te disse? O Corcel 73 era mesmo mais bem tratado que muita gente. E ai de quem pedisse para dar uma voltinha. O velho enciumado inclinava a cabeça e devolvia aquele … Continuar lendo Corcel 73