Eduardo de Ávila
Nada diferente do que viram Lô Borges e Milton Nascimento. Afinal é a mesma paisagem de qualquer janela, seja na cidade grande ou num lugarejo distante no interior de Minas Gerais. Conforme Guimarães Rosa, ao se referir a grande diversidade cultural e natural do território mineiro, “Minas são muitas”. Meu saudoso primo e dileto parceiro de muitas incursões noturnas em Belo Horizonte, Dirceu Ferreira, sentenciou “desculpe a dupla esnobação, sou mineiro de Araxá!.
Faço essa digressão sistematicamente, quando – especialmente nos finais de semana – desfruto e me permito apreciar as cenas dessa cidade que me acolheu em 1974. De lá para cá nossa relação de amor se solidificou que não mudaria daqui para a melhor Passargada que pudesse tentar me seduzir. Sobre esnobação, cidadão honorário de BH desde 18 de março de 2016. Uma honra! Isso não impede, ao contrário até estimula, viajar pela história da minha vida. Penso, tivesse meus pais escolhido outro lugar para que eu seguisse meus estudos, se teria sido tão feliz e realizado quanto essa BH me presenteou e ainda me permite.
Nascido na doce, bucólica, aprazível e acolhedora Araxá, numa rígida família de classe média, aprendi valores que os tempos recentes sofrem por sua carência. Liberdade, igualdade e fraternidade (lema da revolução francesa Liberté, égalité e fratenité, ainda que sem a intenção num ambiente extremamente conservador). A solidariedade me guiou na vida e ainda me direciona os passos nos tempos atuais. Tem seu preço, pois existem pessoas que não entendem, talvez por esquecimento das aulas de história e ignorar o que dizem sistematicamente em suas orações.
Isso não me impede por respeitar o contraditório, ainda que sem reciprocidade, e curtir as memórias que trago destes 67 bem vividos anos. Deixei a janela frontal do meu quarto de dormir, enquanto redigia esse texto, me permitindo ir numa pequena varandinha que tenho o privilégio e noutra perspectiva de imagem, seguir meu devaneio pessoal. Tentei ver a igreja do Carmo, mas ela só me veio no imaginário. Junto dela as imagens da Matriz de Araxá e a Igrejinha de Argenita, arraial de Ibiá e próximo a fazenda do papai.
E numa fração de tempo, alguns minutos pois em segundos não me deixariam curtir tanto as imagens dessas lembranças, passeei por quase sete décadas. Menino de calça curta, aprendendo as letras e números no Delfim Moreira, sempre com boas notas. Já sentindo as primeiras manifestações do corpo, na pré adolescência já não era considerado um bom aluno, aos padrões e exigências de um colégio padrão aos costumes da época. Cheguei a temer por “virar gente”, traduzido pela exigência de um diploma de doutor. Consegui dois, Direito e Jornalismo, mas me realizei noutra combinação. Viver e não ter a vergonha de ser feliz, sugerido por Gonzaguinha.
E daqui, de volta para a janela que me desperta – no meio de semana só a cortina quase transparente e no fds usando blecaute – me flagro rindo e curtindo desses meus tempos. Namoros e filhas. Repetiria tudo outra vez, se preciso fosse ou tivesse uma reoportunização, até as situações desconfortáveis. Elas equilibram e nos permitem moldar ações e reações. Assim como isso que estamos passando e convivendo ao lado de pessoas que sempre respeitamos e se acham na condição suprema – coitadas – em julgar nossas escolhas. Imaginem, esses mesmos sem qualquer conhecimento científico, avaliam decisões de cortes judiciais, boletins médicos e tanto conteúdo que ignoram. Não posso querer que entendam que o meu pensar é tão e somente daquela solidariedade que aprendi na infância. Foi um aprendizado definitivo e não por conveniência. Sigamos!
Sobre o último parágrafo caro Amigo temporão deixo um trecho de uma canção de outro componente do Clube da Esquina,sem me permite, lógico!
> “Anda, quero te dizer nenhum segredo
Falo desse chão da nossa casa
Vem que ‘tá na hora de arrumar’
Tempo, quero viver mais duzentos anos
Quero não ferir meu semelhante
Nem por isso quero me ferir
Vamos precisar de todo mundo
Pra banir do mundo a opressão
Para construir a vida nova
Vamos precisar de muito amor
A felicidade mora ao lado
E quem não é tolo pode ver [•••]”
Forte abraço, prezado.
#SEMANISTIA
Manifestação perfeita
Que beleza!
Eduardo, fiquei encantada com seu texto. Um ser humano sem História está condenado a repetir as mesmas experiências. Orgulhar-se da própria História é também honrar Pai e Mãe. Somos Ancestralidade. Abraços, Patrícia Lechtman.
A janela de onde você contempla a vida mostra campos fartos de natureza solidária! A natureza que mora dentro e vibra no araxaense cidadão honorário de Beagá!
Amigo querido, vc mantém-se fiel ao seu compromisso de não nos deixar esquecer de nossa infância em Araxá através de suas reminiscências tão ricas em detalhes! ❤️
“Entre janelas e varandas, a vida passa: Araxá na lembrança, Belo Horizonte no coração”.
Adorei porque além de poético é o meu sentimento. Bebo das duas águas e isto é minha riqueza, fortaleço e amadureço por tudo que realidades diversas me permitem usufruir…
Salve, salve para as janelas da vida, amigo!
Só quem abre janelas merece a beleza da paisagem. Abraço, meu amigo.