Sandra Belchiolina
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Dolores já carregava no nome o peso das dores. Conheceu Antônio, namoraram pouco e casaram logo. Criaram os filhos com esforço e dignidade. Mas a comunicação do jovem casal era precária.
Ela tenta conversar. Ele respondia seco: “se casamento fosse para conversar, homem casava com homem”. Foram infindáveis noites que ouvira: “não é hora para isso”.
Na cabeceira da cama do casal, um Panteão Grego: sucupira com nove colunas torneadas. Dolores, no vazio da falta da palavra, descobriu numa noite que uma das colunas movia. Desde então, passou a subir e descer a coluna, noite após noite, buscando ali o que lhe era negado.
Diz o ditado: “quem não se comunica, se estrumbica”. E assim foi. Duas décadas depois, o casamento acabou.
Sozinha, Dolores deitou-se. Olhou para a cabeceira. Levantou-se, firme.
Pegou o serrote.
Coluna por coluna, derrubou o templo do silêncio.
Nada restou da cabeceira.
Ela em pé.