Deusas

Rosângela Maluf Algumas mulheres são suaves anjos doces e dóceis inspiram paz respiram flor transpiram luz… Essas mulheres nascem como fadas crescem feito árvores ramificam amadurecem e dão frutos Aparecem pela manhã brilhando feito sol são o entardecer com luzes cores e sons vagam pela noite imersas em ondas viram lua Raras mulheres são bruxas muito poucas são sábias algumas, aprendem poucas, sobrevivem e aos … Continuar lendo Deusas

Graciliana

Graciliana

Rosângela Maluf Quando Graciliana se casou não houve quem não duvidasse daquilo tudo… Ainda que pobretona e sem muito saber, era moça bonita, cheia de vida, graciosa, com sua saia rodada, a andar descalça pelas ruelas da vila. E foi numa dessas ruelas que seu Tenório a viu e foi tomado por puro encantamento. Aquele velhote, fedido e desengonçado, era dono de uma imensa plantação … Continuar lendo Graciliana

O banho de Yara

Rosangela Maluf O ponto principal era que o sol inundasse todo o box. Todo o banheiro, mesmo o espacinho por detrás da porta, atrás do velho cesto de vime, sobre o qual os gatos jaziam preguiçosos, tomando seu banho de sol e de língua. Era um ritual consagrado ao prazer, à dedicação a si própria, ao estar a sós consigo e, ainda melhor, usufruir plenamente … Continuar lendo O banho de Yara

A Menstruação do Presidente

Rosangela Maluf Senhor presidente, Inegavelmente, o senhor pertenceu, durante toda sua vida, a um universo predominantemente masculino. Pai, irmãos, tios, primos, amigos, depois filhos, militares, vereadores, deputados, senadores, ministros, assessores & cia. Talvez por isso o senhor não entenda nada sobre menstruação. Como quase nada lhe interessa, não creio que tenha conversado com suas mulheres.  Como não possui o hábito da leitura, certamente quase nada … Continuar lendo A Menstruação do Presidente

Seu Joaquim & família

Rosangela Maluf Nossos domingos eram esperados, com ansiedade, durante toda a semana. Acordar, tomar café, trocar o pijaminha pela “roupa de missa”, impecavelmente passadinha,  dependurada no armário da mamãe.   O ritual, os coletes em tricô e as gravatinhas borboletas para os meninos, faziam dos meus irmãos, dois príncipes. Eu, quase fantasiada de princesa: vestido de chiffon, rosa clarinho como convinha à uma mocinha. A única … Continuar lendo Seu Joaquim & família

O Homem da Banda

Rosangela Maluf Sempre brincávamos as quatro juntas: Fádwa era mais velha, tinha onze anos. Layla e eu, dez anos e a caçula e mais atrevida, mandona e autoritária, tinha nove anos, mas parecia ser nossa mãe. Yasmin era uma chata. Mas era bom brincarmos juntas. Às vezes saía uma briga: eu ia pra minha casa, as irmãs pra casa delas até que uma de nós … Continuar lendo O Homem da Banda

O mau olhado da dona Filó

Rosangela Maluf Parte I Aos meus olhos de criança, dona Filomena – por ser tão velhinha – deveria estar bem perto da morte. À época, nós, crianças, pensávamos que só gente velha morria. Sempre que o sino tocava e o triste badalar indicava uma morte, a criançada logo imaginava que um de nós perdera um avô. Sim, morriam mais avôs do que avós. A estatística … Continuar lendo O mau olhado da dona Filó

A Moça de Oxford

Rosangela Maluf É muito comum aceitar novos amigos virtuais, baseando-se apenas no número de conhecidos em comum. Foi o que aconteceu quando ela me solicitou amizade, pelo Facebook. Em alguns finais de semana, por culpa dos algoritmos (ou não), o número de solicitações é muito grande, dá até preguiça. E naquele domingo foram muitos os pedidos de amizade, mais de quarenta. Aceitei vários e deletei muitos.  … Continuar lendo A Moça de Oxford

Aurélia em quatro tempos

Rosangela Maluf Primeiro tempo Já era tarde quando Aurélia foi se deitar. Passava das onze horas e a novela terminara fazia tempo; tanto que sua mãe deitou-se logo depois, cansada, com dores na coluna e um mal estar generalizado – como sempre acontecia às sextas feiras. Aurélia pegou no colo a irmã mais nova, que dormira diante da TV, colocando-a na cama de baixo, no … Continuar lendo Aurélia em quatro tempos