A Menstruação do Presidente

Rosangela Maluf Senhor presidente, Inegavelmente, o senhor pertenceu, durante toda sua vida, a um universo predominantemente masculino. Pai, irmãos, tios, primos, amigos, depois filhos, militares, vereadores, deputados, senadores, ministros, assessores & cia. Talvez por isso o senhor não entenda nada sobre menstruação. Como quase nada lhe interessa, não creio que tenha conversado com suas mulheres.  Como não possui o hábito da leitura, certamente quase nada … Continuar lendo A Menstruação do Presidente

Seu Joaquim & família

Rosangela Maluf Nossos domingos eram esperados, com ansiedade, durante toda a semana. Acordar, tomar café, trocar o pijaminha pela “roupa de missa”, impecavelmente passadinha,  dependurada no armário da mamãe.   O ritual, os coletes em tricô e as gravatinhas borboletas para os meninos, faziam dos meus irmãos, dois príncipes. Eu, quase fantasiada de princesa: vestido de chiffon, rosa clarinho como convinha à uma mocinha. A única … Continuar lendo Seu Joaquim & família

O Homem da Banda

Rosangela Maluf Sempre brincávamos as quatro juntas: Fádwa era mais velha, tinha onze anos. Layla e eu, dez anos e a caçula e mais atrevida, mandona e autoritária, tinha nove anos, mas parecia ser nossa mãe. Yasmin era uma chata. Mas era bom brincarmos juntas. Às vezes saía uma briga: eu ia pra minha casa, as irmãs pra casa delas até que uma de nós … Continuar lendo O Homem da Banda

O mau olhado da dona Filó

Rosangela Maluf Parte I Aos meus olhos de criança, dona Filomena – por ser tão velhinha – deveria estar bem perto da morte. À época, nós, crianças, pensávamos que só gente velha morria. Sempre que o sino tocava e o triste badalar indicava uma morte, a criançada logo imaginava que um de nós perdera um avô. Sim, morriam mais avôs do que avós. A estatística … Continuar lendo O mau olhado da dona Filó

A Moça de Oxford

Rosangela Maluf É muito comum aceitar novos amigos virtuais, baseando-se apenas no número de conhecidos em comum. Foi o que aconteceu quando ela me solicitou amizade, pelo Facebook. Em alguns finais de semana, por culpa dos algoritmos (ou não), o número de solicitações é muito grande, dá até preguiça. E naquele domingo foram muitos os pedidos de amizade, mais de quarenta. Aceitei vários e deletei muitos.  … Continuar lendo A Moça de Oxford

Aurélia em quatro tempos

Rosangela Maluf Primeiro tempo Já era tarde quando Aurélia foi se deitar. Passava das onze horas e a novela terminara fazia tempo; tanto que sua mãe deitou-se logo depois, cansada, com dores na coluna e um mal estar generalizado – como sempre acontecia às sextas feiras. Aurélia pegou no colo a irmã mais nova, que dormira diante da TV, colocando-a na cama de baixo, no … Continuar lendo Aurélia em quatro tempos

Um Dia de cão

Rosangela Maluf Domingo. Acordo com o barulho irritante de um pancadão. Como assim, tão cedo, a esta hora da manhã? Acendo o abajur. Não acredito: 6h12! Gente. Manhã de domingo e este barulho irritante, como é possível? Levanto-me, abro as cortinas. O dia claro, o céu azul, mas o sol ainda não surgiu na paisagem. O som irritante continua. Muitas vozes, alguns gritinhos e o … Continuar lendo Um Dia de cão

O Imprevisível

Rosangela Maluf Aquela menina bem poderia ser sua filha. Aos sessenta, ter uma filha de quarenta era uma possibilidade real. Ela, por sua vez, era pediatra, casada, duas filhas, mas totalmente fora dos padrões.  Layla parecia mesmo uma garota rebelde. Magrinha, miúda, cabelo curto, cor laranja. Tatuagens. Muitos brincos. Muito falante, muito divertida. Responsável no trabalho. Dona de casa exigente. Mãe dedicada de duas meninas … Continuar lendo O Imprevisível