Resistindo ao fanatismo

Eduardo de Ávila

Já começo essa reflexão, até para me posicionar, que existe uma diferença abissal entre fanático e apaixonado. Muita gente tem o hábito de, no meu caso, dizer que sou fanático com o meu Galo. Não é verdade, sou apaixonado sim pelo time do meu coração. Eu e milhões de Atleticanos, talvez o que pode me expor é o fato de não evitar falar dessa paixão (não fanatismo) assinando blog diário aqui no UAI, participando de vários podcasts e lives. E em todas essas situações não fazer rodeios, entretanto – embora não pareça – tenho respeito pelo adversário. Confesso minha antipatia pelo flamídia e assumo rivalidade local, longe de querer o fim de um ou de outro. Tiro sarro, mas com quem tenho boa convivência, conheço gente que vai para a porta ou grita da janela para provocar. Não faz meu tipo e gênero. Tenho parentes e amigos que são torcedores dos dois adversários e me relaciono bem com todos.

Mas não é sobre torcida e meu jeito Atleticano de ser que me motiva a essa prosa. Tenho passado por um momento de quase (só quase) introspecção aproximando dos setenta anos de vida. Ainda próximo, daqui a um pouquinho, 68 bem vividos tempos. Tenho dito a pessoas por quem guardo e tenho afeto que estou – embora sem qualquer pressa – pronto para o destino que Ele determinar ao meu futuro. Afirmo e estou convencido, se tem algo que me conforta é que aproveitei muito cada momento da minha existência. Com limitações de ordem material – que muito me conforta, pois percebo quem com tanta folga de caixa não sabe viver a plena felicidade -, não perdia e ainda me mantenho ativo por curtir cada momento e oportunidade que me são oferecidos pela Divindade. Em sentido amplo. Eu acredito! Expressão Atleticana, mas no caso refiro aos Deuses.

Sou apaixonado pelo meu time, mas não fanático. Sou apaixonado pela vida e tantos amigos que ela me premiou, mas não devoto fanatismo nessas relações. Explico! A paixão motiva e entusiasma todas as relações, o fanatismo extrapola a racionalidade e conduz a pessoa ao exagero irracional. E presenciamos isso em muitas relações de vida. Não só no time de futebol de cada um, que tem levado a guerras urbanas entre facções de torcedores. Na religião e na própria política, situações que deveriam unir e não separar. Optei pelo kardecismo fazem já mais de duas – já quase três – décadas, pois lá senti e constatei que a alma é imortal e existem várias encarnações. Não que seja perfeito, tive experiências que não me agradaram, mas longe da culpabilidade e percepção de o nome do Pai e do Filho serem utilizados para interesses de pessoas e/ou de grupos. E o mais interessante, não atacar ou questionar outras crenças. Amar ao próximo com a si mesmo. Evoluir sempre!

E é nesse contexto que tenho tentado levar meus dias e me preparar ao que o futuro ainda me reserva. Já venho me melhorando tem bastante tempo. De fumante inveterado e alcoolismo, condições que jamais admitimos, consegui vencer os dois vícios. Já se passam de 30 anos sem tabaco e 25 sem a parceira cerveja de toda noite. E sigo com a mesma meta de correção e fuga de erros dia a dia. Não me acho melhor que ninguém, mas seguramente estou melhor que aqueles que não oferecem resistência às tentações de toda ordem. Sobretudo essas que são originárias do fanatismo. Presencio, com uma dose cada vez mais branda de tristeza, gente da minha geração se entregando ao discurso tosco e disseminador de ódio em defesa de quem nunca se mostrou solidário e tenha esboçado gestos de solidariedade. Mas representam e simbolizam o contraditório a aquilo espalhado por fake News das redes sociais. Não conversam, impõem; optam por reações agressivas, não aceitando o contraditório. Tendem ao fanatismo por manter essa postura.

Tenho evitado, na medida do possível esse tipo de embate, sobretudo com quem pelo histórico de nossas vidas sugere que seja preservado. Até mesmo, nem vou dizer tolerando e sim escondendo meu sentimento de tristeza, quando tomo conhecimento de considerações levianas que me são dirigidas no covarde anonimato. Melhor assim, pois nesse confronto de paixão e fanatismo, vou seguir com minhas convicções apaixonadas. Admiro, cada vez mais, quem mantém divergências e sabe evitar o assunto. A vida é uma passagem, curta ou não, que experimentamos para aprimorar nossas almas e espíritos. Tento dar valor ao meu tempo, pois o que passa não volta (ainda que bons registros), e – acredito – a vida bem usada é muito mais longa. Não por acaso, sistematicamente, somos colocados à prova com desafios que apontam a tolerância como a melhor opção viver bem.

Só para fechar esse devaneio semanal, não consigo deixar de mencionar sobre sem a intenção de provocar, mas me delicio com música. Sobretudo da minha geração que viveu um dos momentos mais ricos da produção cultural de todos os tempos. Desde a Bossa Nova, Jovem Guarda, Tropicália até chegar na MPB que abraça esses três e outros gêneros musicais. Sem deixar de mencionar o samba e as marchas de carnaval. Vivemos uma geração conhecida e reconhecida como “anos dourados”, que até hoje embalam nossas memórias e contagiam moças e moças mais jovens. Pois, chocado, presencio quem negue os agora oitentões como Caetano, Gil, Chico, Betânia, Paulinho da Viola e tantos outros por nossas opções ao futuro do Brasil que está logo ali e estamos na linha de chegada. Puro fanatismo em defesa de pregações, no caso anticomunista, que sequer existem ao nosso entorno. Enquanto isso, ainda sonhando, canto músicas dessa época com a paixão daqueles bons tempos que ainda alimentam minha ilusão e utopia de um mundo melhor, igualitário e feliz. Sigamos!

7 comentários sobre “Resistindo ao fanatismo

  1. Oi Eduardo de Ávila! Texto bem reflexivo! Não empreste seus ouvidos aos invejosos de plantão. Ser passional é maravilhosamente esplêndido! A paixão nos move! Abraços Fraternos! Patrícia Lechtman.

  2. Comungo dos seus pensamentos. O fanatismo cega. A paixão é razão com convicções racionais. Ponto de vista individual não é verdade absoluta. Viva a paixão, por mais que a sua seja diferente da de outrem. Saudações celestes.

  3. Grata por nos propiciar reflexão importante sobre entusiasmo e fanatismo. Precisamos cuidar sempre em não cairmos no excesso.
    Abraço afetuoso, caro amigo.

  4. Estou a caminhar, agora a saber, nessa direção, cuidando muito mais de mim e multiplicando compaixão. Respiro a solitude, procuro beber virtude e fugir do que nos ilude. Talvez tenhamos nos encontrado, nas nossas andanças em direção à Plenitude Humana. Parabéns por existir e ser tal como é.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *