Com meus quase 67 anos nesta existência, não me lembro de tanto desinteresse por uma eleição como o da municipal do próximo final de semana. Participei de várias, duas como candidato (uma vitória e uma derrota), e inúmeras vezes por envolvimento partidário e/ou carregado de esperanças em mudanças que tiveram início e foram assassinadas no curso dessas sonhadas transformações.
A responsabilidade desse esfriamento eleitoral recai sobre atores que estão nos três poderes e na mídia. Tanto entre os eleitos para cargos no Executivo e no Legislativo, quanto togados – na magistratura e no Ministério Público – e interesses de grupos econômicos que dominam a grande imprensa nacional. A história recente do Brasil, contada em duas versões apaixonadas e antagônicas, comprova essa afirmação.
Resultou, assim como no futebol que acompanho com a mesma dedicação, em um profundo descrédito dos seus principais alvos de público. Assim como os apaixonados torcedores não confiam na CBF, o eleitorado vem tratando com desconfiança muitos dos que são eleitos pelo voto popular. Desgraçadamente, agravando esse quadro, há a entrega de votos a candidatos em troca de favores pessoais.
Daí a tamanha ausência de debates, como pudemos acompanhar nas eleições – recordando a primeira direta para a presidência pós-regime militar, em 1989 –, quando tivemos candidatos que elevaram o bom debate. O eleito, na ocasião, fugiu desse momento no primeiro turno, uma vez que sua campanha contava com o apadrinhamento e a conivência da então maior rede de comunicação do país. Participou apenas na disputa do segundo turno, quando armaram – confessado depois – em favorecimento dele, e deu no que deu.
Naquela eleição, além do atual presidente Lula – derrotado pelo “colorimento” que desbotou rápido e perdeu o brilho no poder –, tínhamos pessoas honradas na disputa, independentemente de seu traço ideológico. Mário Covas, a plumagem solitária tucana; com sua morte, esse partido desabou. Brizola, Aureliano, Ulisses, Maluf, Freire (comunista de direita, mas que tinha um discurso sedutor), Gabeira, Caiado (até então desconhecido), Enéas (com seus 15 segundos), Afif e outros nanicos.
Com o tempo, esse glamour das eleições gradativamente foi perdendo seu fascínio. Collor e suas medidas econômicas levaram pessoas ao desespero, veio Itamar que devolveu a autoestima com o Plano Real, mas depois Fernando Henrique com seu projeto único de reeleição. Lula – queiram ou não – conseguiu a tão sonhada inclusão, sendo sucedido por Dilma, atingida pelos atores do Judiciário, que passou o poder ao golpista Temer. Depois, a vergonha internacional de um analfabeto e ignorante em sentido amplo. De novo Lula, que não consegue ser o mesmo das vezes anteriores. Culpa do Congresso? Creio que sim, mas isso demonstra a premissa desta reflexão: confiar em quem e como?
Os debates, aqui e por todo lado, estão vazios de propostas e são comemorados por apoiadores pelos ataques pessoais. Em São Paulo, até por cadeiradas em um ator cínico, aplicadas por um apresentador de programa sensacionalista. Aqui, na nossa BH, apesar de ainda não ter havido esse tipo de agressão, ao que soube, só duas verdades apareceram nos debates. Não vi nenhum, mas é inevitável saber das repercussões. Foram de dois candidatos que, em hipótese alguma, teriam meu voto em qualquer dos turnos. Um chamou o outro de puxa-saco de certo líder decadente, no que o outro respondeu que seu acusador não teria a quem seguir, pois por onde passa sai rompido.
Nenhum, mas nenhum deles, empolgou nem sua militância, remunerada ou não. Passo ali na Savassi todos os dias e fico a uma distância relativa, observando esses colaboradores de campanha. Nesse tempo, não consigo visualizar um único que tenha comprometimento com o adesivo que tentam entregar aos que transitam de carro ou a pé. Só no início, quando um bem engomadinho comandava a turma para fazer barulho como se estivessem em caminhada pela praça. Terminada a filmagem, conferiu a câmera e nunca mais voltou. E ainda tentaram misturar água no azeite, o segundo repelindo o primeiro, pois são reconhecidamente heterogêneos.
Esse é o retrato que conseguiram para acabar com o envolvimento do eleitor nas escolhas para cargos eletivos. Sigamos! Boa sorte, Belô!
Que situação chegamos. Votar no menos pior.
Só não é mais preocupante o desinteresse porque olhando o nível dos nossos políticos (não faço exceções e não tenho preferências) a esperança é que talvez o eleitor está acordando e percebendo que seja quem for o eleito o cenário não é para comemoração alguma.