Eduardo de Ávila
Na última semana, voltando do velório da mãe de um amigo, percebi algo que ainda não havia registrado em minhas observações do cotidiano. Nos tempos atuais, contrapondo aos meus tempos de juventude, a minha rotina tem sido muito diferente. Surpreendente? Nem sei, mas me recordo cada vez mais do meu saudoso pai que dizia cada “abobrinha”, mas que estão se comprovando na rotina atual.
Papai, já contei aqui tinha, tinha um exercício de futurologia que me deixava com vergonha dos meus amigos. Na verdade, depois de tempos, percebi que ele lia muito e tinha grande interesse por artigos científicos. Quando afirmou que chegaria um tempo que íamos conversar pelo telefone, enxergando a outra pessoa numa tela. , tive vontade de ser lançado ao espaço. Parecia “caducar”. E ele tinha razão, pois também dizia que a velocidade do tempo parecia aumentar com o passar dos anos.
Pois é que, tenho constatado isso a cada nova temporada, sendo que na minha reflexão percebo que utilizo muito mais tempo em despedidas de pessoas que estão mudando de plano que em encontros festivos. Fui associando outras constatações, como – por exemplo – a repreenda sistemática da cardiologista e do neurologista que me acompanham. Tenho um pacote com terminação em “gista” invejável. Mas esses dois são os que me censuram quando comento dormir menos de cinco horas por noite. O uso do cipap não me deixa fantasiar (mentir) diferente. Ele marca tudo, até o tempo do sono.
Daí, em contraponto, lembro das noites mal dormidas da adolescência e juventude, que provocavam o tal “trocar o dia pela noite”, porém com oito, dez ou mais horas em sono profundo. Notadamente nas férias. Minha mãe ficava “uma onça”. Os períodos escolares permitiam quatro meses sem aulas. Dezembro, Janeiro, Fevereiro e Julho eram nossos trunfos e triunfos para curtir o ano estudantil. Tendo ou não bom desempenho e aprovação. No meu caso, com muita nostalgia e justa motivação, ouvia da minha mãe: “Vagabundagem”. Fato é que essa fase parecia não ter fim, tudo era lento e sugeria imaginar que a vida seria para todo o sempre linda, leve e solta.
Nos tempos atuais, com tanta evolução – especialmente na ciência – experimentamos uma altíssima velocidade. Inimaginável para quem viveu a jovem guarda, tropicália e resistência ao regime militar. Hoje, envelhecidos, tem jovem daquela ocasião que pede militarismo! Conflito da evolução com involução.
Tudo isso e muito mais, como os namoros durante o recesso escolar e carnaval em fevereiro ou mesmo em março, com muito romantismo. Hoje os coroas somos nós, aquela geração maravilhosa, que nasceu e brincava de carrinho e bola de capotão (meninos), boneca e bola de plástico levezinha (meninas) não existe.
Perdemos amigas/os e alguns privilegiados ainda têm seus pais. A maioria nem isso. No meu caso, com 66 anos, tive pai até os 19 e mãe até meus 44 anos. Meu pai nem chegou a completar 64, ou seja, já tenho mais tempo de vida que ele. Papai era um conservador atualizado, sempre atento e ligado em temas tecnológicos. Eu, uma negação! Ah! Era conservador e não reacionário.
A saudade dele e dela é tão grande, como de qualquer entre nós, que as vezes me flagro em prosas com ele ou com ela, querendo saber o que pensam daquele menino caçula. Fujão, me pegaram uma vez quase na estrada rural, indo para a fazenda. Tinha talvez uns cinco anos. No primário brilhei, dali pra frente nem tanto. Entre vários legados deles, o melhor é a irmandade. Éramos seis, reduzidos a seis, mantemos nossos encontros. No último fim de semana reunimos em quatro. A prosa não tem fim.
Mas diverti muito e como poucos, pois acabei surpreendendo. De tanto ouvir que não ia ser nada na vida, dando trabalho no colégio salesiano, conquistei dois diplomas. Direito e Jornalismo. Mamãe presenciou ambos, mas papai nenhum. Nem o vestibular do primeiro. Mas o que queria mesmo resenhar era sobre como viver e sobreviver num mundo tão egoísta e individualista. Nem o conservadorismo deles ia tolerar tanta babaquice e aberração que estamos presenciando. Sigamos!
Saudades .do meu tio que ne incetivava a ler..e da ninha anada madrinha que foi ums verdadeira mãe.
Amei, amei, amei. Só o final poderia ter sido menos duro, mais poético como todo o resto.
Adorei este texto, como todos que Eduardo escreve. E mais ainda, que vivenciei vários destes momentos.
Esse artigo caiu como uma luva em mim, sou um septuagenário. Me remeteu a minha juventude.