Sobressaltos do dia a dia

Tenho vivido num estado de melancolia, já faz algum tempo, resistindo e vencendo sugestões de desanimo com projetos e fantasias para o tempo que ainda me resta nessa passagem no plano existencial. Não, já vou logo avisando, nada de depressão – por favor – só um tanto desiludido com os rumos que o planeta e os nativos desta terra descoberta por Cabral insistem em caminhar.

Aliado, claro, à dificuldade de superar perdas tão preciosas que a idade vai impondo a cada novo dia. Desde a resistência física, passando em função disso à debilidade e instabilidade da saúde, até chegar em pessoas tão queridas que já não estão neste planeta e foram viver na espiritualidade. Foi lendo o texto, sempre maravilhoso da Rosangela no último domingo, que criei forças para essa curta divagação de hoje.

A cada nova temporada, refiro aos anos em curso, são dezenas de pessoas que viajam lá pra cima. Estou entre aqueles que acreditam em continuidade da alma pós vida. Sem entrar no mérito, assim com tenho evitado nas minhas opções políticas, sou kardecista. Não significa que desrespeite as demais opções, até porque todas elas sinalizam em seguir as lições do Mestre que passou pela Terra tem mais de dois mil anos.

Fato é que já são inúmeras pessoas queridas que embarcaram nessa viagem, seguramente vivendo na espiritualidade com muito mais suavidade que nos tempos de ganância, vaidade, concorrência e arrogância terrestre. A questão é a falta que nos fazem aqui, por melhor que possam estar por lá, deixaram a gente órfão das suas opiniões e prosas do lado de cá. Dói muito essas ausências, e no final de semana numa prosa com uma irmã, voltamos no tempo falando de mamãe, papai, irmã, irmão e outros que marcaram nossas vidas.

Foto: Divulgação | Redes Sociais

Passei o domingo e este início de semana, com mil questões a pensar e resolver, convivendo com a saudade gostosa do que cada uma representou na minha vida. Ri, chorei, debati com cada um nossas polêmicas, acreditando que do outro lado, talvez entendam e me deem razão. Ilusão, pois a convicção minha sempre foi divergente das delas/es. Queria opinião de cada um sobre as decisões que preciso tomar aqui e pedem urgência. Não me deram sinal. Fiquei só!

Entre essas, duas delas seguramente me preocupam mais que qualquer outra de ordem material. Já disse aqui, noutra ocasião, sobre a minha maratona de cirurgias. Nove ao longo dos tempos, três ano passado, sendo que ao sair da última jurei e anunciei que nunca mais me submeto a esse procedimento. Anestesia, UTI, quarto de hospital, recuperação em casa até voltar à normalidade. Normalidade? Nunca mais será como era antes! Né, Bráulio!

Uma delas, trata de estreitamento de esôfago, situação que já me levou numa sala de cirurgia tem quase 20 anos. Pois uma tal de acalasia, nome tão feio quanto os danos que causa, sugere novo procedimento. A outra, como sequência de uma das que me submeti ano passado, também é recomendável. Entre uma e outra, fico com nenhuma. Talvez a segunda, procurando maior alegria de viver. Mas a doutora do primeiro procedimento arregalou os olhos quando eu disse que não vou mais fazer nenhuma operação na minha vida.

Não é insubordinação, mas esgotamento de tolerância a tanta agressão ao organismo. Tampouco acho, embora até reconheça que a resistência vai diminuindo, que a cada nova mesa de cirurgia o tempo de sobrevida diminua. Tanto que esses procedimentos existem para prorrogar a vida. Não tenho medo de nada, menos ainda de encontrar com saudosos parceiros de tempos vividos, pois então vou mergulhar dentro de mim mesmo até decidir. Enquanto isso, vou me deliciando com os versos de Cecília Meireles. Ou isto ou aquilo. Que assim seja!

*imagens: arquivo do blog

6 comentários sobre “Sobressaltos do dia a dia

  1. Meu carissimo amigo, por favor, se submeta a quantos procedimentos forem necessários à manutenção da sua presença entre nós. Você tem importância enorme para muita gente, para a massa e, dentro dela, para mim que tenho o privilégio de ser seu amigo há algumas décadas. Cuide de você.

  2. Querido amigo,
    O desabafo é importante. Não há como escapar do real da morte que nos espreita e nos ronda. Ainda bem que você acredita numa espiritualidade no depois da vida terrena. A canseira de tantos procedimentos e a decisão a tomar se continua na peleja ou deixa o barco correr não é coisa pouca. Siga teu coração e ao deixar a vida te levar, tome a decisão que te acalenta melhor! Saiba sempre que te queremos bem e feliz junto de nós, os teimosos que querem estar por aqui mais tempo❣️

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