Silvia Ribeiro
Quando se lembrar de mim não sinta saudades do que fui. Sinta saudades apenas das razões que te levaram ao meu encontro.
Não sinta a minha falta, sou passageira e já passei. Apenas uma sobrevivente que acreditava que a nossa história ainda tinha chão, embora você fizesse questão de desacreditar e panfletar o seu desleixo.
Não tente me encontrar em lugares que provavelmente não mais estarei, sou livre e já me pus a voar. Tampouco queira justificar a sua falta de zelo aliada a um desejo displicente, e nem tente me enredar em teias de arrependimentos, pois essas não me prendem mais.
Fui em busca de sentimentos que não ficassem na defensiva e não cultuasse esperas. Lutei contra a minha própria frieza sem me desfazer do meu predileto bom senso. Convivi com efeitos colaterais de ponderações e receios baseados em teorias defensivas que guardamos quando temos que duelar com o descaso.
Precisei me sentir só, mas não de uma solidão por ser esquecida, muito pelo contrário. Me esvaziei e me senti avulsa sem ter que espizinhar as minhas escolhas nem enviar cartas de perdão. O tempo sempre me proporcionou grandes anestésicos e dessa vez não foi diferente.
Exorcizei algumas expectativas não atendidas e sonhos que se tornaram mal vistos. Obviamente que ainda existem milhares de concessões a serem cumpridas, e várias delas eu sequer imaginei ser capaz, e que ao meu ver correspondem a um adeus franzino sustentado por decisões articuladas que se mostraram pragmáticas demais.
Hoje, me sinto contorcionista da minha própria vida, onde as vezes nem eu mesma sei o que apresentar optando por um ambicioso monólogo. E nesse meio tempo, brinco de ser eu mesma sem estereótipos causando algum tipo de frisson nem explicações para o meu batom vermelho.
E quando acordo sovo a minha autoestima como uma massa que irá se transformar num delicioso pão quentinho, pego a minha bolsa e de forma genuína vou percorrer caminhos que não me façam perguntas e nem queira me dizer o que fazer.
Portanto, não sinta saudades.
A ciência e os quatro tipos de ssudades: a presente, a nostálgica, a magoada e a insana
De todas as formas.
Carapuça serviu em mim
O jeito é vestir né?
Lindo D++++++++++, parabéns Silvia.