Rosangela Maluf
Ele era muito mais do que ela poderia imaginar.
Aquele cara que ela conhecera ainda adolescente, lá no interior, lhe fora apresentado por uma amiga comum que desconhecia completamente a história dos dois.
História dos dois? Como assim…
Sim, os dois viveram em uma mesma cidadezinha.
Tiveram um namorico, logo proibido pelos pais dela.
Àquela época, o cara em questão usava os cabelos compridos demais, calças largas demais, cantava num conjunto de rock, não gostava de estudar, era mesmo um mau elemento.
O tempo foi passando e os dois se separaram.
Cada um em um extremo do país sem jamais terem se reencontrado.
Esqueceram-se completamente um do outro.
Nada que os fizesse lembrar da tal cidadezinha, daquele namorico e do distanciamento total de ambos.
O tempo foi passando e os dois nunca mais se viram.
A vida na capital era intensamente vivida.
Ela, que gostava de estudar, terminara há pouco a faculdade de Psicologia.Trabalhava em uma clínica, três dias na semana e nos outros dias dava aulas em um instituo bastante conhecido.
Acabou se casando com um argentino que ela conhecera em Minas e com ele foi morar no Norte do país. Tiveram um filho e quando voltaram para a capital o casamento já estava por um fio. Resolveram então que uma separação seria bem vinda e que o filho, já quase adulto, também ficaria com a mãe e ele, o pai, poderia vê-lo quando quisesse. Nenhum problema. Tudo civilizadamente esclarecido e tranqüilo.
De volta aos tempos atuais, a vida dela fora assim: jamais um pensamento para aquela figurinha que nem namorado havia sido.
Enquanto isto, ele que nunca gostara de estudar, trabalhava com um amigo do pai. Era responsável, disciplinado, eficiente e não ganhava mal como gerente do supermercado. Era muito trabalho, muita gente para administrar, problemas o dia todo, mas a tudo isto ele sobrevivia bravamente.
Uma tarde, de uma terça feira de pouco movimento no supermercado, ele vai para a área de vendas para verificar a reposição de mercadoria, arrumação das prateleiras, o comportamento da equipe na área de vendas. Se esbarra num carrinho de compras e se vira para pedir desculpas.
Nenhuma palavra saiu; nem dele nem dela.
Não houve pedido de desculpas nem maiores informações.
Nenhuma explicação. Nenhum relato do acontecido ao longo de tantos anos.
Nenhum barulho que não fosse o coração dos dois, batendo no mesmo descompasso.
O trabalho na Clínica foi abandonado.
O filho quase adulto foi morar com o pai.
As aulas no Instituto foram passadas para uma colega da Clínica.
E o supermercado recebeu com pesar um pedido de demissão.
Muita vida pela frente, muita mudança, muita calma e muita paz naquela cidadezinha, no interior do Ceará, com menos de cinco mil habitantes, mas bem próxima de uma cidade grande.
Os dois dedicaram-se a se amar…
Em todos os momentos, em todos os lugares, sempre gratos pelo milagre do reencontro e muito felizes, os dois.
E há doze anos tem sido assim…
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Nossa!!! Que história linda!!! Que desfecho!!! Que amor!!! Igual a música do Chico Buarque "Á flor da pele" .