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Reagindo às intempestividades

Eduardo de Ávila

O tempo passa e alguns seguem imutáveis e sem reagir aos novos momentos. A pandemia parece ter condenado pessoas ao “aceite” e acomodação. Sou reativo, sempre fui desde criança e adolescência, buscando meu espaço e respeitando os demais nos limites sugeridos pelo que aprendi e selecionei como convenientes. Não invado território alheio, da mesma maneira que não permito avançar sobre o espaço que é só meu.

Quando a covid ameaçou a nós todos, imediatamente me tranquei dentro de casa, logo eu que adoro conviver e trocar experiências, através de boas prosas. Foram meses de isolamento, onde por graça dos tempos cibernéticos, convivia com familiares e amigos através do permitido pelas redes sociais. Em meio a tantas incertezas, aniversários e datas comemorativas foram festejadas on-line.

No momento que tudo parecia voltar à normalidade, uma sequência de intervenções cirúrgicas – relatadas aqui neste espaço do Mirante – e a perda irreparável de uma irmã (que foi uma mãe comigo, não tinha filhos), acresceu e parecia me condenar ao desânimo. Diria que, ainda buscando superar essas adversidades, de algum tempo para cá percebo meu corpo e espírito reagirem a tudo isso.

Fisioterapia diária, aliada a adaptação do uso do CPAP (temia não conseguir, pois desde o primeiro dia, venho dormindo bem como não ocorria), e – disciplinadamente – tomando os tais três litros de água recomendados. Dizia, ou mentia, que ingeria isso diariamente, até que passei a medir. Não tomava, agora tenho regularidade. Tudo isso, aliado a vida espiritual, têm indicado o caminho da reação e da cura. Digo cura física e mental.

A coluna e os quatro parafusos já não incomodam tanto quanto nos primeiros meses. A retirada completa da próstata, que assusta a todo homem, não é tão traumática como sugere a apreensão preliminar. Basta uma coisa, disciplina no tratamento pós-cirurgia que a alegria – mesmo aos 65 anos – volta no ritmo dessa idade. E, a fisioterapeuta que me atende, assegura que sou bastante determinado e organizado. Daí, obtenho resultados práticos.

Na questão espiritual, sob a qual me dedico a quase trinta anos, com a opção kardecista e sem alardes ou buscando holofote, tenho trabalhado o conforto não só pela perda recente da irmã Margarida, mas de tantos outros que já vivem no plano superior. Além dela, Fausto – outro irmão querido -, mamãe e papai. Já se foram três cunhados: outro Fausto (que me ensinou tanta coisa), Fernando e Luiz, além de dezenas de parentes próximos, amigas e amigos.

Diferente de quem diz conversar com os mortos, mantenho com eles um diálogo particular. Margarida, essa dor recente e que parecia difícil de ser superada, tem me dado insistentes e interessantes sinais. Ela, do lado de lá, já mostrou o quanto tem acompanhado nossas vidas daqui. Mantém lá a mesma leveza que a caracterizou do nosso lado, numa alegria que só me lembro quando eu ainda era adolescente. Numa das reflexões que tivemos, parecia ser na sala aqui de casa como nos tempos que ela ainda tinha vida e trocávamos confidências e inconfidências, ela docemente me confortou com o sinal de que a minha rebeldia e resistência são valores muito superiores aos materiais. E são esses valores que sedimentam a vida eterna, onde ela está revivendo toda a felicidade que um dia já desfrutou.

Diante disso, para fechar essa prosa – que para quem não tem fé e vive no conflito material parece ser surreal -, quero afirmar que as opções que temos em vida fazem parte do nosso preparo para a espiritualidade. Meu time do coração, minhas opções políticas e econômicas, entre outras escolhas, não me foram dadas para motivar o conflito, mas sim incentivar a tolerância. Reagir, pra encerrar, não é enfrentar e sim entender e aceitar o pensar diferente.

Valeu Balida!

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View Comments

  • Eduardo meu amiGALO !! Que texto interessante … reflexoes leves, intuitivas e que mostram a forma suave e firme ( paradoxal nao ? ) com que voce encara os acontecimentos em sua vida. Parabens !!

  • Meu carissimo amigo Fidel. Nesses nossos 40 e tantos anos de amizade, sempre vi em você, além de muitas outras qualidades, a virtude de sempre lutar, à sua maneira, por tudo. Sua alma é atleticana. Sabe buscar força onde parece que já não tem. Sabe dar a volta por cima e ser feliz, até quando parece não mais haver a possibilidade de virar o jogo. Você tem o espírito de GALO . Você sabe lutar, lutar, lutar. Sabe vencer, vencer, vencer.

    • Caro, os embates e trombadas daqueles primeiros tempos - você testemunhou várias - lapidaram pra chegar aqui. Sigamos!!!

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