A arte em aguentar um tudólogo

Eduardo de Ávila

Qual entre nós, basta observar, nunca teve de aturar um sujeito sabe tudo ao seu lado? Via de regra, sem medo de errar, trata-se de um frustrado – entre outras razões – que sequer naquilo que deveria se ater tem boa qualificação. O especialista em tudologia, se da área de exatas, dá pitaco em assuntos relacionados à biologia e humanas. E assim, se das outras duas, também se atreve nas demais.

Trata-se de um chato, frustrado – tem lá suas motivações para essa reação – metido a conselheiro onde nem é chamado. Me afastei de alguns gêneros dessa espécie e o bem que isso me fez e faz é de fácil medição. Não que sejam envolventes, ao contrário, mas aquela tal “gentileza” em dar ouvidos causa desgaste. Fingir estar atento e que avalia a possibilidade de colocar em prática ou – pior – efetivamente segue a orientação do idiota e ignorante. No sentido de desconhecimento do assunto e não agressivamente falando.

Eles estão ao nosso lado, desde o ambiente familiar, banco escolar, no trabalho e – as vezes – até na poltrona ao lado do ônibus urbano ou na direção de um taxi ou aplicativo. Quando era mais jovem, nisso já se passam algumas décadas, costumava render assunto com todos, tudólogos ou não! Em tempos recentes, optei pela ranzinzisse. Sugiro, ainda que dissimulada, afinal isso nunca coube em mim. Prefiro fazer o gênero a ter de aguentar PR – papo ruim.

E, assumo, num passado – felizmente – já distante, acabei permitindo essa desconfortável intromissão até em decisões a tomar. Foi preciso descobrir e entender que o melhor conselheiro que possuímos – não estou sugerindo o mesmo, por favor – é a intuição que temos para nossas reflexões e tomadas de decisões. Desde a vida pessoal e profissional, evidentemente que assumindo ônus e bônus, e – nessa fase da melhor idade – relacionadas à saúde.

Tendo passado por alguns procedimentos médicos, sempre ouço opiniões e sugestões, indicações, todas muito bem vindas de gente querida que desejam o melhor para os tempos que ainda me restam no plano físico. Sou lhes grato, e – via de regra – me servem de avaliação para a decisão a ser tomada com o parecer final da intuição. Se desse espaço a um profissional da tudologia, seguramente o tumor do intestino – retirado tem mais de quatro anos – ainda estaria aguardando a decisão do doutor sabe tudo. E a hérnia, que ainda me incomoda, lá no final da fila das prioridades.

Como sou adepto da sugestão de Caetano Veloso, numa de suas brilhantes composições, defendo que “gente quer ser feliz”. E completo com Ferreira Gullar. “Eu não quero ter razão, quero é ser feliz”. E está sendo assim, em meio aos percalços que a vida me coloca pelo caminho, como a angustia de assistir a falta de empatia daqueles que pisoteiam sobre as classes menos favorecidas.

Gente que se acha empoderada e que seu gozo é o falso domínio aos mais fracos. Gente que adora poder e dinheiro, embora não tendo nenhum dos dois, sente prazer em contar vantagem de terceiros que invejam e lhe servem de espelho. É comum, entre os tudólogos, mencionar exemplos a serem seguidos de endinheirados, mesmo que a fortuna adquirida – sabidamente – foi construída em ações que se confrontam com a moralidade e os bons costumes. Adoro minha vidinha mais ou menos. Mais feliz e menos culposa. Assim seja!

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