Sandra Belchiolina de Castro
sandra@arteyvida.com.br
CORA CORALINA
Tive a alegria de ver Cora Coralina ser homenageada num roteiro turístico. Também, presenciar o “Caminho de Cora Coralina”, da Agência Estadual de Turismo de Goiás (Goías Turismo), ser o segundo colocado nas iniciativas de destaques do turismo brasileiro. Prêmio para o quesito: Aproveitamento do Patrimônio Cultural para o Turismo.
Assim, Cora Coralina “chegou chegando” pedindo licença para Guimarães Rosa, Carlos Drumond de Andrade (seu grande incentivador) e o Nobel Neruda.
Eles seriam os próximos da lista para as futuras crônicas. E ela, premiada, pediu para abrir alas para que passasse. Assim seja…
Primeiro, falo do caminho. Ele tem um percurso de 300 km, passa por oito municípios: Corumbá de Goiás, Pirenópolis, Jaraguá, Itaguari, São Francisco, culminando em Goiás Velho (casa de Cora Coralina), percurso cercado por bucólicos vilarejos.
Os organizadores informam que o projeto foi escolhido “a partir do conceito de viagem, tanto exterior quanto interior”. O caminho tem o propósito de autoconhecimento e fé.
Está repleto de poesias, rico em paisagem, gastronomia e cultura. Cora é uma grande representante da cultura goiana e conhecida internacionalmente.
Projetos turísticos dessa magnitude, têm como objetivo a fixação das pessoas em suas localidades, mantendo a cultura e distribuindo renda na região. Isso, porque o turismo, na sua dimensão, impacta 43 setores da economia.
Pelo caminho, há 70 poesias escritas por Cora Coralina. A diretora do Museu (casa de Cora), Marlene Velasco, relata que a escolha das poesias se deu por: “que falam do meio ambiente. Cora era uma grande ambientalista, ela fala do meio ambiente, fala de superação, fala de acreditar nos valores humanos”.
Cora Coralina publicou seu primeiro livro aos 76 anos. Mulheres, de sua época, não escreviam publicamente no Brasil.
Muitas vezes, eram proibidas de fazê-lo. Assim, Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas idealizou o codinome: Cora – coração, coralina – que advém do vermelho, cor vermelha; rio da vida de Cora Coralina, que corre às margens e desafia sua casa até hoje em Goiás Velho, sua cidade.
A casa velha da ponte, como é também conhecida, tem amplas janelas e ao seu lado corre o Rio Vermelho. Nela, estão preservados objetos, imagens, mobiliário, livros, cartas.
A cozinha é um lugar especial. Cora foi doceira e sua casa cheira a doce. Quando fiz uma visita há alguns anos, era possível comprar doces por lá. Principalmente os cristalizados.
São histórias e vivênicas de muitos momentos de Cora. É visível a simplicidade de nossa poetisa e sua sensibilidade para vida.
Carlos Drummond descobriu os textos de Cora e mandou para redação do jornal (sendo o único endereço possível para correspondência) a seguinte carta:
Rio de Janeiro, 14 de julho, 1979
Cora Coralina
Não tendo o seu endereço, lanço estas palavras ao vento, na esperança de que ele as deposite em suas mãos. Admiro e amo você como a alguém que vive em estado de graça com a poesia. Seu livro é um encanto, seu lirismo tem a força e a delicadeza das coisas naturais. Ah, você me dá saudades de Minas, tão irmã do teu Goiás! Dá alegria na gente saber que existe, bem no coração do Brasil, um ser Chamado Cora Coralina.
Todo o carinho, toda a admiração do seu
Carlos Drummond de Andrade
Com a riqueza de Cora Coralina e Carlos Drummond de Andrade, seguimos nossos caminhos mais poetizados.
O que nos deixam mais leves na caminhada. Fica aqui meu desejo de muito sucesso para o “Caminho de Cora Coralina”.
Para saber mais:
http://www.museucoracoralina.com.br/site/
http://www.turismo.gov.br/component/content/article.html?id=10644
http://tvbrasil.ebc.com.br/caminhos-da-reportagem/2018/08/no-rastro-da-poesia-no-caminho-de-cora
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