Lá em casa só mesmo as traças e baratas e toda sorte de monstrengos que habitam as gavetas escuras desfrutam da biblioteca. Explico. Guardo uma biblioteca na gaveta do armário — um desses leitores eletrônicos, o Kindle, que armazena meio milhão de livros num objeto do tamanho de um livreto de bolso.
Estão todos os clássicos lá dentro, a um touch de distância — Vidas Secas, Os Sertões, Grande Sertão e, mesmo, a saga Harry Potter inteira — por que não? E ao que depender de mim, não sairão de lá antes de caírem ao domínio público por três vezes e apodrecerem no quinto dos gaveteiros.
Ora essa! Livro para mim é livro de papel. Lê-los num dispositivo eletrônico seria o mesmo que comer sushi usando garfo e faca: os fins contrariam os próprios meios; e comprometem-se os sentidos, a experiência, enfim, o sabor da leitura.
Ninguém me convencerá do contrário. Nem me venha com essa de que carregar o peso das mil, quinhentas e dez páginas de “Os Miseráveis” (Martin Claret) ou dos três volumes de Guerra e Paz (Companhia das Letras) é nada prático.
Pois fique sabendo que só não é mesmo nada prático, como também é desconfortável, desengonçado, penoso, doloroso, mas que saber? está tudo bem. Passamos muito bem, obrigado, nós, que preferimos ler livros a ler computadores.
E não estamos sozinhos. Prova disso é que as páginas de pixels nunca chegaram perto de fazerem as vezes dos bons e velhos papel e capa dura no mercado editorial. As vendas de e-books despencam a cada ano.
Nem precisaria citar os números da derrocada. Pois há tempos, o mais ácido dos mineiros mais bem-humorado das Alterosas, o produtor e autor de livros e jornais e revistas de papel, enfim, o Ziraldo, já profetizava o futuro sem futuro dos livros eletrônicos.
Ao centro de um desses Roda Viva, da TV Cultura, perdido no tempo — mas possível de se encontrar no Youtube, mais precisamente ao final da coluna —, o pai de O Menino Maluquinho resistia a uma chuva de petardos, a favor dos livros eletrônicos, provocada pelo publicitário Antônio Rosa Neto.
— Mas você vê impedimento nesta portabilidade de um livro digital?
— Olha, eu gosto de cheiro de livro… Eu gosto…
— Mas você coloca um cheirinho nele…
— Eu gosto de Malva dentro do livro, violeta dentro do livro… Marca de lágrima… E no livro você tem que grifar, anotar no pé de página, essas coisas…
— Não, mas ele permite. Eu preciso te mostrar este livro. Ele é digital e você faz anotação digital, e você grava, aperta um botãozinho, grava aquela página…
Da roda de entrevistadores, o parceiro do Ziraldo de O Pasquim, o cartunista Jaguar, interferiu na pendenga, levantando a bola para o amigo:
— E esse livro eletrônico, a gente pode levar para o banheiro?
— Pode sim! Ele é portátil, pequeno, muito prático e fácil. E você pode levar para o banheiro…
Ao que o Ziraldo, sem a menor piedade, cortou:
— É, mas não pode limpar com ele…
Todos caíram na risada. Era o início do fim do livro eletrônico.
Eduardo de Ávila Depois de cinco meses sem uma gota de água vinda do céu,…
Silvia Ribeiro Tenho a sensação de estar vendo a vida pelo retrovisor. O tempo passa…
Mário Sérgio No dia 24 de outubro, quinta-feira, foi comemorado o Dia Mundial de Combate…
Tadeu Duarte tadeu.ufmg@gmail.com Depois que publiquei dois textos com a seleção de manchetes que escandalizam…
Wander Aguiar Para nós, brasileiros, a Tailândia geralmente está associada às suas praias de águas…
View Comments
Pois eu amo livros, tenho muitos, inclusive bem antigos, que são da primeira metade do século passado e mesmo assim amo meu Kindle e não o dispenso por nada! Acho que o importante mesmo não é se um é melhor que o outro, cada um consegue os benefícios que quer em cada experiência! Para mim o mais importante é o conteúdo e que a leitura, seja através do papel ou de qualquer tipo de tela, seja mais e mais difundida chegando a mais pessoas e se popularizando mais, inclusive entre aqueles das novas gerações. Um abraço e sucesso!
Concordo em gênero, número e grau... Não importa o formato, mas sim o conteúdo, as experiências que a leitura trará. Gd abraço.
Perfeita, sua opinião, Patrícia.
nossa, que b@st@, cada um que leia pelo meio que quiser. não é pq vc n gosta que tem que determinar o que cada um deve fazer.
E puder !!!
Desde de pequena sempre gostei dos livros físicos, passava horas em bibliotecas lendo-os. Com a chegada da internet ficou ainda melhor porque eu podia pedir livros online (que eram baratos com relação as lojas físicas). Mas desde 2012 tenho preferido utilizar o Kindle por diversas razões, gosto de ler coleções e, dificilmente posso achar os livros físicos das coleções que leio em um mesmo lugar, sendo necessário passar dias e até meses procurando os livros que eu quero; além disso, moro na região norte do Brasil e para um livro chegar aqui é em torno de 30 dias úteis, fora o frete que, hoje, chega a ser o dobro do valor do livro.
Tenho um Kindle e adoro ele. Ele até reavivou meu hábito de leitura que ficou adormecido por um tempo. Hoje em dia não compro mais livros em papel e chego a ler uma média de mais de 5 livros ao mês. Espero que haja um novo investimento neste mercado.
Desde que ganhei um Kindle de presente, passei a ler mais como nunca tinha feito antes, consegui retomae esse ótimo hábito que a vida adulta vinha me tirando aos poucos sem eu nem perceber... pode ser que para você essa tecnologia não seja interessante, mais concerteza é bastante útil, prática e econômica para outros!
Precisa ler mais ... conseguiu emendar dois erros: "mais concerteza"
... chegou a doer!
(caso se interesse, o certo seria "mas, com certeza é bastante útil".)
Bla bla bla...
Nada fácil para quem lê muito e tem que levar os livros pros lugares...
Manda uma carta para que eu possa ler seu texto! :)
Brincadeira não leio um livro físico de forma séria a anos, apenas leio arquivos digitais, livro físico apenas os cartonados para meu filho.
Sério o Kindle me trouxe o hábito de ler novamente, quando não o uso leio pelo celular, ano passado li sem pressa 15 livros, alguns mangás e HQs, o que para mim fora bastante , acostumado ler 4 a 5 livros no ano fora um salto e tanto.
Outra coisa interessante é a quantidade de conteúdo, antigamente ficava preso aos clássicos e besta sellers do momento das prateleiras, nas livrarias do interior do Paraná ficava mais engessado ainda, o que não em impediu de ler senhor dos anéis, o guia do mochileiro das galáxias, os livros do André Vianco, Dalton Trevisan, entre outros, mas pelo Kindle encontro livros de 5 reais de autores que não conhecia, e por esse valor posso me aventurar, e ter algumas boas surpresas.
Se puder me indicar algo de ficção científica ficaria grato, ser for aquele hard sci fi melhor ainda.
Brincadeira, não leio um livro físico de forma séria HÁ ANOS, ...
Sua análise é tão superficial. O livro como item de consumo é muito mais atrativo que um livro digital. Você nunca leu livros digitais, se apega ao passado e por isso não enxerga o futuro. O problema está no preço praticado pelas editoras. Você pode não concordar, mas volte neste comentário daqui a alguns anos.
Seja saudosista mas tente enxergar, e respeitar, o novo.
Se fosse pelo motivo apresentado, ainda estaríamos escrevendo/lendo em paredes de pedra.
Fim do "seu" livro eletrônico.