O mistério no observatório

Guilherme Scarpellini Magricela com peito escavado, espinhas espalhadas pelo rosto, óculos de fundo de garrafa e um punhado de revistinhas da Marvel debaixo do braço. Sim, Bernardinho congregava todas as características de um nerd em um só corpo mal-ajambrado de pré-adolescente. Só por uma façanha ele se destoava dos outros meninos de sua idade: aos 13 anos, o rapaz já dirigia a caminhonete vermelha Ford … Continuar lendo O mistério no observatório

Foto: (foto: Eugênio Silva/O Cruzeiro/Arquivo Estado de Minas - 26/8/1958 - EM)

Domingo no Parque

Rosangela Maluf Passeio minha solidão por alamedas molhadas do parque municipal Estendo minha tristeza em poças d’água criadas pela chuva de ontem Meu olhar procura por entre árvores seculares o turquesa do céu nesta manhã de verão Mergulho minha esperança no verde profundo destes lagos Renovo minha alegria no dourado dos peixes no cintilar das plantas Refaço meu caminho de volta pra casa plena de … Continuar lendo Domingo no Parque

Depois da meia-noite

Depois da meia-noite, o quarto escuro geralmente começava a receber a luminosidade dos postes da rua. Aos poucos, os lampejos iam se incorporando em um tom amarelado, que era lentamente percebido pelo olho direito, que colecionava, em cor marrom escura, astigmatismo e miopia. Podia enxergar, mas duvidava do que via. Uma certeza tinha, pois checara o relógio antes de se deitar: já passava da meia-noite. … Continuar lendo Depois da meia-noite

Dona Vidinha seus horrores e Aócios

Eduardo de Ávila Diferente de “a viúva virgem” do filme brasileiro, que bateu recordes de bilheteria, dona Vidinha é uma solteirona, meia virgem da classe média brasileira. Típica do preconceito reverso. Naquela produção dos anos de chumbo, o coronel Alexandrão morreu na lua de mel e deixou a jovem Cristina – diferente da viúva Porcina – numa tristeza que sugeriu passar uns tempos no Rio … Continuar lendo Dona Vidinha seus horrores e Aócios

O futuro

Guilherme Scarpellini  Imagine você enxergar o mundo através de um retrovisor. Essa era a vida de Otávio, um rapaz preso aos traumas do passado e que não conseguia olhar para frente, somente para trás. Foi quando, imerso em mais uma memória triste, ele deu com o nariz no poste da rua, que decidiu buscar ajuda. Dr. Depoentes, o médico oftalmologista que prometia corrigir as lentes … Continuar lendo O futuro

Reciclagem das palavras e dos afetos - Fonte: Pixabay

Reciclagem das palavras e dos afetos

Daniela Piroli Cabralcontato@danielapiroli.com.br (Texto original publicado em 23 de Setembro de 2020) “As paixões são por natureza inconfessáveis. Como os vícios.”(Francisco de Morais Mendes, em Escreva, Querida) Leonardo estava de malas prontas. Assentado naquele velho sofá marrom desbotado, esperava ansiosamente a chegada da esposa. Ali teriam a derradeira conversa. Fim. Não dá mais. O desejo acabou. As crianças cresceram. Os projetos não combinam, não há … Continuar lendo Reciclagem das palavras e dos afetos

O sonho do meu amigo

Guilherme Scarpellini scarpellini.gui@gmail.com Meu amigo precisou desbloquear o aplicativo do seu banco no caixa eletrônico. Ele entrava na agência da Caixa Econômica, no Centro de Araxá, quando escutou o primeiro disparo. A porta de vidro se estilhaçou à sua frente. As pessoas dentro da agência vieram ao chão e gritaram de desespero. “É tiro!”, alertou um deles. Então veio o segundo disparo, atravessando o corpo … Continuar lendo O sonho do meu amigo

Elvira e a guitarra

Guilherme Scarpellini scarpellini.gui@gmail.com O que os gatos pensam dos seres humanos? São seres limitados em sua miserável existência. Dependem de relógios para não se esquecerem dos compromissos que prefeririam esquecer. Buscam a companhia dos outros para não conviver com eles mesmos. Saem cedo e retornam ao cair da noite. E retornam menores, encurvados e dilacerados. Não bastasse isso, ainda precisam de banho. Que merda é … Continuar lendo Elvira e a guitarra

Pé dormente

Guilherme Scarpellini scarpellini.gui@gmail.com Acordou com o pé dormente. Foi pulando no pé bom até a pia e enxaguou o rosto. Mal havia escovado os dentes e pegou o celular para checar os e-mails. Ao servir o café amargo, já havia olhado outras três vezes. Os primeiros minutos se passaram. Depois, a primeira hora. Então, a segunda… Sem e-mails. Não gostava de manhãs tranquilas. Ao sair … Continuar lendo Pé dormente

Os cinco filhos de dona Branca

Guilherme Scarpellini scarpellini.gui@gmail.com Foi uma vida toda acumulando de tudo. Livros, vasos, fotografias nas prateleiras. Revistas, quadros, velharias nos armários. Móveis por todos os cantos. Coisas em todas as gavetas. Agora que conseguiu vender o mausoléu, onde é que vai enfiar isso tudo? Dona Branca vai se mudar para um apartamento. Quarenta anos atrás, os filhos se amontoavam em volta da mesa. Lilico, Melissa, Tereza, … Continuar lendo Os cinco filhos de dona Branca