O sonho do meu amigo

Reprodução/Pixabay
Guilherme Scarpellini
scarpellini.gui@gmail.com

Meu amigo precisou desbloquear o aplicativo do seu banco no caixa eletrônico. Ele entrava na agência da Caixa Econômica, no Centro de Araxá, quando escutou o primeiro disparo.

A porta de vidro se estilhaçou à sua frente. As pessoas dentro da agência vieram ao chão e gritaram de desespero. “É tiro!”, alertou um deles. Então veio o segundo disparo, atravessando o corpo esguio do vigilante.

Amigo meu não se acovarda. Ele se arrastou até alcançar o vigilante, que ainda agonizava no chão, e arrancou o revólver preso no coldre. De pé e com sede de sangue, se escondeu atrás de uma pilastra, de frente para a porta.

Outro disparo aconteceu, arrancando uma grossa camada de concreto da pilastra que protegia o meu amigo. Com arma em punho, ele se esgueirou do esconderijo e cerrou os olhos, em busca do inimigo.

Foi quando ouviu um novo disparo e sentiu o sangue escorrer pela camisa.

Ferimento no ombro não mata. Mas serviu para aguçar ainda mais a fúria do meu amigo e para revelar o esconderijo do atirador: a janela do terceiro andar do edifício Minas Caixa, onde um homem encapuzado apontava um rifle com mira de precisão.

Localizado o assassino, iniciou-se a perseguição.

Desviando-se de uma rajada de tiros, meu amigo entrou no prédio sangrando e com o revólver em punho. O porteiro não teve escolha, apenas ficou olhando. O velho elevador demorou quase três minutos para atingir o terceiro andar.

Pé na porta do apartamento que dava vista para a agência bancária, uma rápida vasculhada nos cômodos… e nada.

O assassino já havia se mandado.

Foi até a mesma janela utilizada pelo atirador e viu duas viaturas lá embaixo. Os policiais foram recebidos a tiros de rifle.

Tiros que agora vinham de dois andares acima.

A porta estava entreaberta. Meu amigo entrou silenciosamente, e o homem de capuz, que ainda tentava vencer os policiais, não o percebeu.

Meu amigo apertou o cão do revólver vagarosamente para não fazer barulho. Quando estava a menos de um metro do assassino, falou: “Perdeu”.

O atirador pôs o rifle no chão e levantou as mãos. Com o dedo firme no gatilho, meu amigo esticou o braço e se aproximou, lentamente.

Mas, quando puxou o capuz do rosto do atirador, soltou um grito de pavor. A imagem que se revelou diante de si não podia ser mais apavorante, pois era a do seu próprio rosto.

Esse foi o sonho do meu amigo Rodrigo. Sim, ele é um pouco maluco demais.

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