Cælum est ubis solem lucet

Victória Farias Muita carne para pouca vida; todas as minhas vivências transpassam meus poros e fazem tremer de forma involuntária minhas mãos, como se se lembrassem de um toque de choque ou de um beijo surpresa. Nietzsche disse que nenhuma inspiração nasce do vazio; que a maioria delas são como ideias represadas que irrompem e transformam. Para mim, meus pensamentos seguem como medidos por um … Continuar lendo Cælum est ubis solem lucet

Noite Severina

Vinte e sete minutos me separavam do centro da cidade.  Vinte e sete preciosos minutos, que poderiam ser gastos de forma mais inteligente do que passando insistentemente as músicas no Spotify. Não para a minha surpresa e muito menos para o meu deleite, nenhuma delas me agradava. Estávamos parados naquele mesmo lugar, dividindo janela com o mesmo ônibus, há quase uma hora. Pela quarta vez esbarrei … Continuar lendo Noite Severina

Duas da manhã

Victória Farias O momento exato eu nunca saberei precisar. Aqueles gestos ficaram impregnados na minha cabeça e por mais que me esforce, a única informação que consigo me lembrar daquela noite é: são duas da manhã. Talvez, em algum momento, eu tenha tido noção disso; ou talvez tenha deixado de contar os segundos sem sentir. Não saberei dizer com certeza porque nunca conseguirei acessar novamente … Continuar lendo Duas da manhã

Copo Lagoinha

Victória Farias Todas as mentes que lotam os bares de Belo Horizonte, em pleno frio de 8º graus, estão perdidas? Divagando? Procurando alguma coisa afundada em copos Lagoinha? Tentando se encontrar ou encontrar algum igual? Embalados pela bossa nova que move os esqueletos que se debatem, com as cordas do violão relembrando notas que trazem um estranho sentimento de aconchego. A conversa atravessada entre as … Continuar lendo Copo Lagoinha

Sobre o céu azul

Victória Farias Querido Michael,  Você já viu um céu azul? Limpo, sem nuvens e nada atrapalhando o seu vislumbre do espaço? Tão azul que quando você o encara suas pupilas se contraem, sua sobrancelha se abre e sua testa se franze. São poucos os segundos até que o brilho do sol te obrigue a desviar o olhar, mas nesse intervalo de tempo, nesses milésimos em … Continuar lendo Sobre o céu azul

Doze horizontes, um mirante. Crédito: Anaísa de Ávila

Doze horizontes Um mirante

Daniela Piroli Cabral contato@danielapiroli.com.br Ontem foi um dia muito especial para nós do blog Mirante pois foi o lançamento do nosso livro “Doze horizontes, um mirante”, pela editora Sete Autores. Mas antes de começar escrevendo sobre o nosso filho que nasceu ontem eu preciso começar dizendo que não sei se estou mais feliz de ter um livro publicado ou de ter podido comemorar o fim … Continuar lendo Doze horizontes Um mirante

Dia especial para os miranteiros

Eduardo de Ávila Somos doze, os autores dos livros, porém já chegamos a 14 e – acredito – vamos ficar nesse número oferecendo duas leituras por dia. Sem repetir autor, nossa confraria literária conseguiu reunir uma turma plural e engajada, que hoje – culminando – lança um compilado com algumas das crônicas já publicadas ao longo desse tempo que estamos juntos. Convém registrar a fundamental … Continuar lendo Dia especial para os miranteiros

Todos contra um

Victória Farias Eu descobri que era resistente a morfina depois de uma cirurgia. Uma enfermeira veio e informou que estava aplicando 10 ml no soro, o máximo que poderia me oferecer dentro de um espaço de tempo. Não resolveu. Se ela tivesse colocado água mineral ao invés do remédio, talvez o efeito placebo teria melhor resultado.  A dor, em todos os sentidos, era excruciante. Lembro … Continuar lendo Todos contra um

Paul Cézanne - (1892)

A mais engraçada das histórias

24 de agosto de 1983. Um homem de chapéu-coco repousa um resto de cigarro na boca, o mesmo que fumava desde as nove da manhã. Ao meio-dia, o sol acerta o centro da sua cabeça como um policial treinado acertaria um tiro no escuro. Ele se arrepia como se um espírito tivesse o atravessado.  Encostado no poste em frente ao Banco do Brasil, acompanha a … Continuar lendo A mais engraçada das histórias

Estrangeiro

Victória Farias Se fronteira é onde a gente termina, como chama quem mora aqui dentro? Quem tirou passaporte, esperou na fila de embarque, ficou horas dentro de um avião, e pousou nessas terras imaginárias onde eu atuo no papel da minha existência? É estrangeiro da sua fronteira aquele que se olha no espelho e não se reconhece? É um explorador quem continua a procurar, sem … Continuar lendo Estrangeiro