Aos amigos do meu colega - Pixabay

Aos amigos do meu colega

Tais Civitarese Quando coisas inexplicáveis acontecem, eu só penso que ainda não houve tempo suficiente para compreendê-las. Compreender, ainda que de um jeito inventado, nos ajuda a aceitar. Nem tudo faz sentido, mas algumas coisas se encaixam apenas longitudinalmente no caos da vida.  É certo que o acaso nos exige uma força sobrehumana para lidar com ele. Muitas vezes, não a temos. Porém, podemos encontrá-la … Continuar lendo Aos amigos do meu colega

Mofo

Tais Civitarese Outro dia me disseram que eu deveria ter uma funcionária em casa em tempo integral “para buscar água para os meus filhos quando eles tivessem sede”. Noutro momento, quando contei que retornaria ao meu trabalho, sugeriram que, ao contrário, eu me tornasse assistente do meu marido, pois havia, dentre suas funções, “muitos formulários chatos para preencher”. Ao ouvir tais ladainhas, pensei que nunca … Continuar lendo Mofo

Normalidade

Tais Civitarese ​Na última terça-feira, retornei ao trabalho. Tal qual eu fazia quando atendia em pronto-socorro, mas invertidos os papéis, mediram minha temperatura logo à entrada. E só depois nos demos boa tarde. O hospital estava vazio, calmo. Todos de máscara. Alguns com touca, capote e luvas. Havia dispensadores de álcool em gel para todos os lados. Bem mais do que antes. E algumas mudanças. … Continuar lendo Normalidade

Com fim Nada

Taís Civitarese Mamãe resolveu sair de casa. Veio me pedir um tipo de permissão. Consenti. Ela não aguenta mais ficar presa. Fico maluca de pensar que ela pode estar ficando maluca de não ir a lugar algum. Semana passada, meu avô agradeceu por ter ido ao dentista. Sinal de que o mundo está realmente um tanto quanto estranho… No início, não me importei de ficar … Continuar lendo Com fim Nada

Carinhos na pandemia

Taís Civitarese Hoje, transgredi. Abracei mamãe. Foi muito rápido, furtivo e escondido. Foi na hora da despedida. Mamãe me olhou com um semblante triste, após algumas horas de conversa na portaria de sua casa. Relembrávamos vovó.  Comentávamos que já fazia quatro meses que ela partira.  Falávamos de saudade, mas também de alegrias. Das boas lembranças que ela deixou e de como ela já demonstrava estar … Continuar lendo Carinhos na pandemia

A promessa

Taís Civitarese Mil novecentos e noventa foi um ano de eleição. No Brasil e no meu colégio. A fim de nos ensinar os princípios básicos do funcionamento de uma democracia, a escola simulou sua própria escolha de governantes, elencados entre os alunos candidatos. Entre esses, estava eu: candidata a deputada estadual pelo terceiro B. Foi assim que inaugurei (e logo, encerrei) minha breve carreira política. … Continuar lendo A promessa

Precisa mudar

Os anos noventa aconteceram há 30 anos. E foi nessa época que fui adolescente. Como todo bom jovem, foi o tempo em que colecionei pequenos traumas. É sobre tal ‘material’ que venho trabalhando arduamente a psiquê ao longo da vida… Estudei em um grande colégio em BH que contava com todos os clichês de um elenco estudantil: a Menina Mais Bonita, o Menino Bom de … Continuar lendo Precisa mudar

Murcha

Taís Civitarese Margarida não se contentava. Ela queria ser notada.  Tinha um ímpeto, uma coceira que lhe provocava até desgaste na pele. Ela precisava de atenção, tinha uma sede, um frisson, quase como uma doença.  Precisava lançar mão de diversos artifícios para que alguma luz recaísse sobre ela. Se estivesse à margem, pulava no rio para se fazer notar. Se não estava no centro, sentia-se … Continuar lendo Murcha