Como venci o monstro

Tais Civitarese Olhei bem dentro dos olhos do monstro. Suava a pálpebra, logo abaixo das sobrancelhas. Senti a lenta a dilatação das minhas pupilas. E uma contração estranha no músculo ao lado do nariz que afunda quando sinto medo. O ar entrava nas narinas em lufadas curtas e rápidas. Do resto do corpo, não dou notícia… Quando mirei sua face, ele não me pareceu tão … Continuar lendo Como venci o monstro

O dia mais feliz da minha vida

Tais Civitarese Até hoje, me lembro daquele dia. O mais feliz da minha vida. Não, não foi no meu casamento. Nesta ocasião, estava tão cansada da odisseia de preparativos misturados a plantões – além de uma enxaqueca do cão -, que por pouco a noite de núpcias não foi suspensa por ordem de Morfeu… O dia mais feliz da minha vida foi quando eu soube … Continuar lendo O dia mais feliz da minha vida

Não era amor

Tais Civitarese Cheguei em casa debaixo de chuva. Subi com as compras, encaminhei as crianças para o banho e fui separar os ingredientes da sopa. Nosso cachorro apareceu do outro lado da porta de vidro. Estava com cara de cachorro sem dono. Deixei-o entrar. Antes, sequei suas patas. Ele colou em mim enquanto eu preparava o jantar. Catou cada cisco de abóbora que caiu pelo … Continuar lendo Não era amor

Pernilongo

Tais Civitarese Eu adoro matar pernilongo. Principalmente se for no ar. E mais ainda se, após espalmá-lo, perceber uma gota de sangue nas minhas mãos. Sinal de que me vinguei com justiça do inconveniente sanguessuga da família. Provavelmente, a sociedade protetora dos pernilongos virá me processar (ou algum amigo budista, a quem respeito, se incomode com esta declaração). A verdade é que o bom senso … Continuar lendo Pernilongo

Trincheiras comerciais

Tais Civitarese O banco quer me ligar, mas eu não sou obrigada a falar com ele. O banco é a epítome do sistema. Recusar sua ligação é minha rebeldia vespertina. O interesse, obviamente, é deles. O tempo e os ouvidos, no entanto, são meus. Não lhes devo absolutamente nada. Abstenho-me até da educação diante desta máquina mortífera. Não irei atender. Não tenho nada a conversar. … Continuar lendo Trincheiras comerciais

A revelação

Tais Civitarese Clara sentiu que aquele era o momento. Todos em família, sentados à mesa. Estavam reunidos para o jantar. Ela não aguentava mais guardar aquela verdade apenas para si mesma. Precisava fazer o que devia ser feito. Bebeu um gole d’água, limpou a garganta e disse em alto e bom som: – Eu votei no Bolsonaro. Fez-se um silêncio. Sua mãe deixou cair o … Continuar lendo A revelação

Famílias-margarina

Tais Civitarese Não existem famílias-margarina. Se vir uma, desconfie. Até porque a margarina já era. Boa mesmo é a manteiga, o requeijão ou a geléia. Há sempre um esqueleto (ou alguém) dentro do armário. Há sempre algo escondido debaixo do tapete. Durante muito tempo, assim propagandeou-se o objetivo de uma vida: formar e constituir famílias-margarina. Casa, cachorro, carro, cota do clube. Um filho e uma … Continuar lendo Famílias-margarina

Liberdade Karenina

Tais Civitarese Meu marido deixou crescer o bigode e por este motivo resolvi ler “Anna Karenina”. Já conhecia a história através do filme de Joe Wright, de 2012. A versão não é considerada uma das melhores, porém causou-me muito impacto na época, quando assisti. De todos os personagens, o mais marcante para mim foi ele mesmo, o bigodudo conde Vronsky. Sim, eis aqui o meu … Continuar lendo Liberdade Karenina