As balas grátis

Tais Civitarese

Ronaldo viajou para a Europa. Foi esquiar na Suíça com sua namorada. Escolheu um lindo hotel com paredes revestidas de veludo. Vestiu suas belas roupas acolchoadas e quentes. Calçou luvas.

Ao sair para a estação de esqui, avistou um pote de balas no saguão. Eram gratuitas, uma cortesia da hospedagem. Pegou duas. Entrou no táxi e seguiu o passeio.

Ao retornar para o descanso, pegou mais uma. No outro dia, repetiu a ação. Duas balinhas no bolso na ida. Na volta, a saideira.

Ronaldo jantou no restaurante mais chique da cidade. Comeu fondue e batatas gratinadas. Bebeu um vinho caro de três dígitos. Pediu aquela sobremesa fotogênica.

Ronaldo fez compras. Um belo casaco. Uma carteira em couro. Bolsa de marca e echarpe para a sua companheira.

Fotografou bonitas paisagens em neve. Conseguiu se virar bem no alemão para interagir com os locais. Sentou-se próximo à lareira e calmamente terminou um livro. Voou de volta para casa em uma poltrona confortável.

Mais tarde, ao recordar as férias, contou suas peripécias aos amigos. Uma viagem maravilhosa. Belíssima expedição helvética.

Em seu íntimo, lembrou-se com especial alegria daquilo que lhe dera um prazer particular. Do ato de, diariamente, na recepção do hotel, enfiar a mão enluvada no pote de balas e se apoderar de uma balinha grátis.

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