Não era amor

Tais Civitarese

Cheguei em casa debaixo de chuva. Subi com as compras, encaminhei as crianças para o banho e fui separar os ingredientes da sopa. Nosso cachorro apareceu do outro lado da porta de vidro. Estava com cara de cachorro sem dono. Deixei-o entrar. Antes, sequei suas patas. Ele colou em mim enquanto eu preparava o jantar. Catou cada cisco de abóbora que caiu pelo chão. Lambeu cada pedacinho de casca de alho que voou pelo ar. Panela esquentando no fogão, fui checar o aplicativo da escola.

“Boletim 2021”. Com certa emoção, cliquei para conferir as notas do meu mais velho. Menino estudioso, um brilho! Toda alegre, fui até o quarto contar o resultado para ele. Mostrei uma a uma. Ele sorriu. O cachorro apareceu na porta do corredor, onde não entra. Estava chorando. Pensei: esse cão não consegue ficar um minuto longe de mim!

Liguei para o pai, que quis parabenizar o menino. Com orgulho, o pequeno inflou todinho ao ouvir suas palavras.

A avó telefonou nesse meio tempo e contamos para ela também. Ir bem na escola em plena pandemia realmente merecia louvores.

O choro do cão persistia. Falei com a avó: deixa eu ir que tem panela no fogo, criança no banho e cachorro pedindo carinho aqui.

Saí do quarto, passei pelo corredor e vi a poça. Imensa. Uma piscina de xixi canino em plena sala! Uma mancha amarela de quase 1 metro quadrado a lamber os pés das minhas cadeiras. Era isso. Por causa da chuva, eu tinha fechado a porta. O animal não pôde sair para fazer a toalete na grama. Tentou me avisar de todas as formas. Chorou, chamou, suplicou. E eu achando que era carência! Era apenas… bexiga cheia.

Seguiu-se mais um episódio de minha falta de intimidade com o reino animal. “Fique atento: o choro do cachorro pode não ser o que vc pensa”. Sobretudo se ele for faminto, beberrão e pesar cerca de 35 quilos…

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