Eduardo de Ávila
Qual entre nós já saiu de um estabelecimento comercial, seja loja ou alimentação, P da vida pelo desdém no atendimento. Eu não deixo por menos, desde que num momento da vida optei por não passar raiva, dou meu coice – seja gestual, verbal ou de qual ordem for – deixando atendentes assustadas/os. Na minha família chama bastiãozei, em reconhecimento a um saudoso cunhado que também não deixava pra trás um mal jeito de terceiros. Não vou em bares, com a frequência do passado – curei com muita força de vontade de alcoolismo já tem mais de 20 anos – mas loja e principalmente cafeteria sou usuário. Essa segunda é passagem obrigatória e diária, pois lá eu falo com amigas/os que trabalham nesse setor sobre o descuido deles no atendimento. Em vão!
Esses casos acima são de atendimento ao cliente, que vai ao local para gastar e quer ser bem atendido. Existem outros muito mais vorazes. O de call center que te condena a conversar com um robô. De nada adianta xingar o equipamento, diferente de juízes de futebol, esses não tem mãe e nem aquele lugar para tomar. Sobre atendimento ao público, seja na área privada ou pública, já sai com vontade de brigar com quem me atendia. Já me ocorreu de perguntar pela segunda ou terceira vez “débito ou crédito”, pois a prosa com colega de trabalho ao lado tirava o foco do trabalho da pessoa. Aí costumo dar a resposta. Conforme já disse N vezes, quero que seja no débito. E a moça ficou brava, azar dela, antes ela do que eu. Mas, se tem algo que está me incomodando, é com relação à minha condição de paciente em tratamento para matar tumores resistentes. Já derrotei o álcool e vou liquidar também nesse novo e desafiador embate.
Tentado sintetizar meus três dias da semana passada – de quinta a sábado – que só me estressaram por ter feito um curso prático e individual para tolerar chatos e maus tratos. Amanheci na quinta com muito mal estar, fui para a rotineira radioterapia e voltei para casa me sentindo ainda pior. Olha, estou encantado com o tratamento acolhedor de quem trabalha na oncologia, desde lá atrás com essa minha convivência com esse amigo da onça até atualmente no Hospital Felício Rocho. Inclusive registrei isso aqui neste semanário pessoal o quanto estava e continuo feliz com o atendimento daquele setor nessa septuagenária casa de saúde da nossa Belo Horizonte. Humanos, sensíveis, alegres, brincalhões, enfim tudo aquilo que um coroa precisa para se sentir amparado e aceito. Dá até pra pensar que voltou a infância.

Mas, como nem tudo são flores, existem as situações que ocorrem paralelamente – reativas ou não ao tratamento -, que levam o paciente ao Pronto Atendimento. Nesse caso, vou comentar dois casos, como não tenho intenção em denegrir e tampouco criar conflito vou preservar os nomes das duas instituições. Como dizia, quinta-feira, acordei diferente e fui só piorando. Dor de cabeça e no corpo, enjoo, ânsia de vômito e duas outras que já estava prevenido relacionadas ao tratamento, diarreia e perda de apetite. Fui tomar um banho e passei mal debaixo do chuveiro. Imediatamente, cedi ao argumento da necessidade imediata de ir ao PA nº 1. Lá chegando as 16h, fui atendido 17 e tal, coleta de material para exames 18:45, registros feitos que faltavam o eletro eram desdenhados pela enfermagem. Por volta de 20h deram conta e assumiram o esquecimento. Realizado com a mesma vontade de atendimento do público, aí nova delonga. A médica tinha deixado o plantão, quem daria continuidade? Ela nem deixou, ao que percebi, informações sobre minha situação Documento de alta em mãos receita também, fui solicitar a retirada do acesso. A mesma (falta) vontade que demonstraram. Sai com a manga cobrindo o braço e no dia seguinte dei jeito dessa retirada. Ali, naquele PA, num volto mais. Desumano. Depois soube de caso similar com pessoa de profissional da saúde no mesmo local e mesma turma. Plantão de 12 x 36 horas de descanso.
Aí passei a sexta bem lusco fusco, sem apetite e energia, sonhando que ia melhorar em algum momento. E nada, fui a uma cafeteria encontrar com duas amigas da saudosa adolescência em Araxá. Começamos o papo animado, lembrando de vivências daquela ocasião, quando repentinamente comecei a tremer. Volto pra casa e me recolho. Não dei conta de mais nada, até trabalhos a serem feitos foram preteridos. Tive bacteremia, mais uma expressão que aprendi nesse curso prático de paciente. Febre de 38,22. Apaguei e dormi, muito mal, até que na manhã do sábado por sugestão de duas médicas queridíssimas – da rádio do Felício Rocho e a outra sobrinha – corri para outro PA, agora o 2, o outro não dava. Foi tudo quase perfeito, não fosse uma única pessoa da enfermagem. Médico super atencioso e interessado. Bateria de exames (seis de sangue e urina), nada observado, mas alguma coisa deu no limite, sugerindo em pedir para mais análises laboratoriais (dois de sangue, Raio X e Ultra Som). Pimba. Gastroenterite infeciosa. Estou aqui, amanhecendo essa nova terça e indo para a radioterapia muito melhor e longe do ideal, aliviado e melhorando lentamente. E assim seguir os próximos dias, meses, anos – quem sabe ainda por décadas – sendo o mesmo cidadão resistente. Tanto na doença pessoal quanto na coletiva.
Por fim, não tem como deixar de contar o diálogo com a enfermeira desse segundo atendimento. Talvez ela não tenha gostado da minha aparência de velhote, barbudo e de boina. Se sim, pode ser algum histórico pessoal, vai entender. Fui tomar um soro, estava desidratado e naquela hora (cheguei lá 11 e pouco e sai 18h, isso seria em torno de 14h) tinha no estomago tão e somente um copo pequeno de yogurt. Ao entrar percebendo a sala gelada pelo ar, registrei o evento da véspera, a reação intempestiva e agressiva me assustou. “porque não trouxe uma blusa de frio”, argumentei que estava ali para me tratar e sai de casa debaixo de um sol forte. “Não tem outro lugar, quer fazer ou não o soro?”. Disse que pediria orientação ao médico. Concomitante ela se levantou e disse que teria de fazer outro furo, pois me movimentei e a veia não estava em condições. Tentei conversar e relatei se movimentei foi instintivamente à picada e não deliberadamente. Nessa altura já me deixou sozinho. Voltei depois, orientado pelo mesmo bom médico, com uma outra enfermeira – de bons tratos – que me colocou num canto sem ar condicionado e fiquei meia hora tomando a medicação. Lá no PA1 também teve algo similar, mas nem tanto ostensivo. No mais, Gerais e buscar a cura.
Em tempo: imagina o que é acompanhar Galo e Dodói Cruz pelo aplicativo, opinião de amigos pelo zap, alguns recortes de lances recebidos. Já em casa assistir os melhores (nem tanto) momentos de um jogo que saímos vencedor e classificados. Ah! E escrever sobre o jogo que vi nas coxas e debaixo da chibata das auxiliares da promoção da saúde e reabilitação. Pior que isso só mesmo a falta de colo. Dói!
Bom Dia Amigo Eduardo! Você além de ser resistência é também resiliência. Leio os seus textos e penso ” Que escritor ímpar “. Socializar a dor e o amor é muito importante em uma sociedade quase que exclusivamente imediatista e consumista. Prossiga! Vencerás! Abraços Fraternos! Patrícia Lechtman
Eduardo,
Grata por compartilhar. Você indica um comportamento desumano em um local que deveria primar pela conduta de atenção e cuidado para com o outro.
Sinto-me indignada. Esta postura deveria chegar ao conhecimento da direção da instituição e os responsáveis serem alertados.
Indica-se, também, um treinamento e acompanhamento dos profissionais de mau atendimento. Caso não se corrijam, que sejam substituídos.
Melhoras a você!
Marly Sorel
Importante chegar a reclamação ‘a direção, com nomes se possível.
Desejo melhoras, com uma boa vitória do Galo amanhã.
Meu amiGALO !! Acompanhar suas resenhas sobre nosso Galo com todo o sofrimento que ele nos proporciona sempre foi e será um prazer. Quanto a estas resenhas com relacao a sua saga contra a doenca fisica minhas vibracoes constantes pela sua pronta recuperacao e com a menor parcela de dor ( fisica ou emocional ).
Ja quanto a estes insensiveis que atendem voce e outras centenas de pacientes com descaso e grosseria, sinto pena e nada mais uma vez que sao analfabetos de humanidade.
Caro Dudu: você nos mostra uma força interior digna dos maiores elogios. Que Deus o ajude a superar esse difícil momento e que tenha na cura seu alvo maior. Um abração.