Saga ou odisseia na melhor idade

Eduardo de Ávila

O eufemismo “melhor idade” em nada me incomoda, ainda que fosse usado terceira, idoso ou velhice. Até prova em contrário ou salvo por reações futuras, tenho sabido conviver com tranquilidade e até uma boa dose de ironia com esse momento que imaginava ser tão longe. Foi nada! Um pulinho! Fico a me lembrar do meu saudoso pai, parecia tão velhinho e convivendo com doenças, no caso coronariana e câncer de próstata. Pois é, já vivi bem mais que ele e sou caçula temporão, adoro essa condição. Perguntem às minhas irmãs e ao irmão. Até mesmo, pena que não estão aqui, os que já anteciparam a passagem. Não sou luxento, mas abuso da condição. No bom sentido, claro!

Pois bem, ao que me motiva esse post de hoje. Semanas atrás dizia aqui sobre exames e acompanhamento médico. Que a minha danada da operadora do plano de saúde negou um exame fundamental, pior, bem fundamentada negativa. A tal ANS privilegia cânceres para a realização de pets e o meu – herança genética do lado paterno (além dele, o avô e os dois meus irmãos fomos todos contemplados – loteria na contra mão) – não consta da lista de suas obrigatoriedades. Depois de dois meses pelejando, tive de assumir o alto custo. Até que houveram cinco bondosas almas – família, amigo e de outras relações – oferecendo para assumir o custo. Declinei e, claro, é caro mas de meu interesse e responsabilidade.

E lá me preparo para o dia do exame. Antes, ele é fundamental para localizar onde está o traíra do tumor dentro do organismo, ainda que a prostactomia total tenha sido realizada. Restos do demônio permaneceram e ameaçam o corpo físico. Tem outros detalhes, mas não veem ao caso. Marcado para o meio dia, levanto pós preparo, me planejo para a maratona (três a quatro horas no local), até que nove da manhã, por whatsapp sou informado do adiamento por falta de uma tal radiofármaco. Chateado, recorri à minha parceira de vida (resignação),  por aguardar esse faltoso – que até então nem sabia o que era – aparecer. Nova marcação, noutro local, exatamente na terça-feira anterior (uma semana passada). Na segunda começo os preparos desde cedo, até que no início da noite, novo adiamento pelo mesmo motivo.

De chateado para puto foi num piscar de olhos. Aí vou entender a situação. Radiofármaco é um medicamento com materiais radioativos para combater e diagnosticar doenças graves – no caso o indesejado câncer – fundamental para o mencionado pet psma. Esse insumo é produzido e distribuído pelo IPEN – Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares -, e o fornecimento vem sofrendo interrupções. Sem entrar no mérito, ao que pude entender e conversei pra todo lado – interesse pela entrada desse radiofármaco (mais caro) – através de empresas privadas. Enquanto isso, nós os doentes seguimos como estatística para o interesse e poderio econômico. Mas, ao caso em pauta. Desse segundo adiamento ficou marcado para a quinta, dois dias após, para o agora já sonhado exame. Depois dele é que devo entrar em radioterapia para matar o bicho definitivamente.

Antes de seguir, alguém que não me lembro quem (já esforcei) me contou uma historinha sobre conviver com o câncer. É como a onça e o caçador. Ela, no caso representando a doença, está dormindo. Se o caçador, doente e tratamento, não der um jeito logo de matar o bicho quando acordar já será tarde e vai devorar sem deixar rastros. No caso do caçador distraído, pode render BO e investigação, já em se tratando de vida, nada mais que uma certidão de óbito. Sem vitimismo, tento seguir com leveza, mas que é um tremendo descaso é inquestionável. A começar da operadora do plano de saúde, que vende e propaga fazer transplante e transportar de helicóptero, mas te nega um exame essencial para sua sobrevivência. Ah! A ANS não obriga, to nem aí para a Agência de Saúde, me preocupo é com a minha saúde.

Mas, vamos ao penúltimo capítulo. Lá fui eu e minha boa disposição para finalmente fazer o pet psma. Cancelado. Motivo, falta do radiofármaco. Haja! Tive de convocar outro exército que tenho para situações emergenciais. Se na primeira usei a resignação, desta vez chamei a resiliência. Se partir para o ataque, seguramente, as dificuldades irão aumentar. Como disse, somos estatísticas, nada mais, é assim que funciona. Enquanto isso, a onça tá lá dormindo, e eu torcendo para ela não acordar. Se fizer barulho pode despertar o bicho e aí não vai ter salvação. Se correr o bicho pega e se ficar o bicho come. Tá remarcado para hoje, mas pode ser amanhã, quinta, semana que vem ou nunca. Por segurança, sigo o regime e orientações. Sem exercícios físicos, academia e pilates. Alimentação sem carboidrato e açúcar. Que falta me faz um arroz, massa e adoçar o café. PQP! Sigamos!

5 comentários sobre “Saga ou odisseia na melhor idade

  1. Bom Dia! Eduardo você é “esperança “. Pessoas comprometidas com: a fé, a saúde, a ética, a família, o esporte, o jornalismo ousado e com o amor ao próximo nunca estarão sozinhas. É importante divulgar sua persistência, auxilia muita gente que se encontra nesta situação e não sabe como agir e se entrega. Envio daqui meu abraço fraterno e minhas orações. Patrícia Lechtman.

  2. Continuo na torcida, você é um grande cara, sei que vai dar certo, lutar, lutar, lutar (sempre), vencer, vencer, vencer! Abraços

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