Traindo a mim mesmo

Eduardo de Ávila

Nada do que parece ser, refiro a traição de fugir a algo que já havia me determinado a seguir. O título sugere pensar em algo diferente, que cada um carrega na sua cabeça e consciência. Até porque quem trai a confiança, de qualquer ordem ou natureza, está – na verdade – sendo infiel e enganando a si próprio. Seja amoroso, juramento, segredo ou uma obrigação. O que estou tentando justificar é que vou entrar numa seara que jurei deixar fora das minhas ocupações, preocupações, enfim evitar esse debate relacionado à polarização que estamos vivendo e que parece não dar passagem e folga no nosso dia a dia.

Como se não bastasse, embora eu tente evitar, ainda ter de conviver com adeptos de fake News que agora contam com a colaboração da inteligência artificial. Gente que não sabe raciocinar, desprovidos de lógica básica para defender o que nem entendem, mal somam um mais um e não diferem estupro (crime sexual) de estrupo (barulho, tumulto). E nem vou entrar noutras expressões usuais desses toscos que detonam nossos ouvidos. Pois é, na semana passada, depois de o governador visitar El Salvador, o prefeito vai para Israel. Ambos em busca de experiência com a segurança pública. Tira o tubo, diria qualquer liberal ou democrata em analogia ao bordão do general ditador e personagem do Jô Soares nos anos 80. Concomitante a isso, os depoimentos inéditos de um ex-presidente e seus comparsas da tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023.

Fico meio que a espreita, ouvindo os arroubos – dos dois lados – na avaliação da inquirição que prendeu a atenção de muitos brasileiros. Alguns interessados em entender e fazer juízo, já os partidários devastados pela paixão – como uma torcida no estádio de futebol – esperando os memes e fakes de cada lado. E tome mensagem nas redes sociais. Até que comigo tem melhorado, pois andei dando retorno à altura e com a devida falta de tolerância pela invasão das minhas ferramentas virtuais. “Ah! Eduardo, que grosseria!” Ora, grosseria é a pessoa saber o meu pensar e me enviar fake News com a intenção clara e intencional de encher o velho e cansado saco.

E ainda tem aquelas/es malas, do perfil mencionado acima – que não sabem matemática, português – ler e interpretar -, e fazem parte dessa nova classe social brasileira. Pobres de classe rica, conhecidos como pobres de direita e fake cristãos, condenados ao emburrecimento por nunca terem aprendido nada nas aulas de história. Decoravam, respondiam na múltipla escolha e sem dissertação, e agora se acham doutores graças aos memes falsos (como essa gente tem tempo para tanta mentira) e contando com a IA para redigir suas teses. Mas repassam sem ler e sequer sabem do que se trata.

Semana passada, estava lá eu numa fila bancária, quando me aparece um velho e antigo conhecido de um único tema. Conhecem aquela máxima “temo o homem de um livro só”? Aquela pessoa que quando te encontra, tem dois dias ou dez anos, tem a mesma frase ou comentário para puxar o PR – papo ruim. No caso era futebol, dai dei meu costumeiro chega pra lá, parece que afetou o incauto. Até porque meu time tem só quatro pontos a menos que o do infeliz. O meu em crise e o dele no ápice, donde se conclui que está em estado de delírio momentâneo.

Dito de lá, respondido de cá, tentando seguir no pretendido conflito, disse para todos que eu era comunista. Nem sei qual a relação do futebol e do diálogo áspero com o tema que o cara tentou emplacar. Dai fiz a mesma pergunta que faço sempre. Mas “o que é o comunismo”? Ele, imediatamente, olhando para o chão e apontando para baixo disse “é todo mundo ter uma vida comum”. “Comum como (?)”, indaguei! Vida sem desigualdades e exploração, imagino. Pois não é que o infeliz é um – entre – os 58.206.354 brasileiros que pensam optar pelo Lula em detrimento do mentiroso e cagão miNto é ser comunista.

Dessa gente que agora pede anistia, tentando comparar esses golpistas com quem resistiu à Ditadura de 64. Gente que foi pega com o batom – seja na mão ou na cueca – conspirando e incitando o ódio e a violência. Que tem todo direito de defesa respeitado e até com espetáculo em busca de audiência de veículos comparsas do golpe do século passado e da recente tentativa. De bandidos reais, com direito a ampla defesa, diferente da tortura na Ditadura que democraticamente defendem (contém sim muita ironia). Trocando em miúdos, jacus e analfabetos, desde autoridades até o mais insignificante imbecil repassador de notícias mentirosas. Terno muito esse discurso engomadinho – de poderoso ou iludido – negando a realidade.

O que dizer depois disso? São esses acéfalos os responsáveis por essa situação que estamos atravessando. Idiotas, infelizes, que tentam se impor aos demais com esse ódio, divisão de classe, fomentando a exploração da mão de obra. A maioria desses, nem possuem esse poder imaginário. Esse vídeo que sugiro assistir é brilhante para entender a dificuldade de conviver com analfabetos, burros, hipócritas e chatos. Tira o tubo e me leva pra outro lugar. Onde for deve ser melhor que viver ao lado dessa gente. É um desabafo sim, por isso me traí de um juramento que queria ter sido obrigação. Já o segundo vídeo é o planeta que sonhamos. Ou é proibido sonhar?

6 comentários sobre “Traindo a mim mesmo

  1. Estamos na mesma “vibe” , irritados pela “IA”, pasmos com a ignorância que paira nas redes!
    Jurei ficar à parte, mas permita-me o plage, volto “trair a mim mesmo”!

  2. Caro Eduardo, eu não consigo mais perder tempo com este tipo de pessoa. É complicado convercer um idiota daquilo que ele quer acreditar. Como diria Carl Sagan, eles não se interessam pela razão, pela verdade, mas sim para aquilo que lhes agradam os ouvidos. Em relação aos veículos de imprensa do RJ, eles estavam mantendo uma relação boa com a verdade e o atual presidente enquanto o ex presidente Bozo representava algum risco, agora que viram que ele é um cachorro morto, voltaram a utilizar das meias verdades que lhes interessam. Grande abraço.

  3. Bom Dia! Realmente “Tempos Desafiadorares”! A humanidade precisa resgatar a ética e redescobrir a força da tolerância e do amor. Só teremos paz quando investirmos na justiça social. Parabéns pelo texto e pela coragem.

  4. Eduardo, este pessoal realmente consegue nos tirar do sério. Não entendem bem a realidade, desacreditam a ciência, acreditam em coisas tipo terraplana, na inocência de Bolsonaro, nas mensagens de ETs, nos chips da vacina, homenageiam pneus e coisas do tipo. Mal sabem ler, o que dirá interpretar condutas, textos e falas. Seus argumentos são tão profundos quanto nata de leite. Canso de ouvir Lula é ladrão e comunista, vc é comunista, o Brasil está horrível, o bolsa família forja preguiçosos, os professores são comunistas, as universidades são antros de maconheiros, etc, etc
    Das duas uma, ou são inocentes úteis ou perversos enrustidos que odeiam o Brasil e especialmente , os pobres e desassistidos.

  5. Eduardo,
    Você aborda com inteligência o incremento de atitudes superficiais nas diferentes posições políticas.
    Grata.

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