Existir e resistir em tempos modernos

Eduardo de Ávila

Lá nos primeiros tempos dos anos 80, uma letra e música do Lulu Santos me iludiu. Coincidindo com um momento de vida pessoal muito intenso, me formei em Direito no meio de 1982 e ao final do mesmo ano, sufragado pelas urnas araxaense fui eleito vereador da minha cidade. Tudo isso com 24 para 25 anos de vida. E, quero crer, exerci com dignidade em Araxá a confiança dos meus conterrâneos. Assim, penso! Lógico que existe o contraditório. Felizmente!

Pois bem, naquela ocasião com o movimento de resistência à Ditadura, fato reconhecido por todos – não precisa ser historiador – e negado apenas por quem busca visibilidade num campo minado, vivenciei os embalos da redemocratização. E foi nesse ambiente, onde era visível a felicidade coletiva, que o povo unido jamais será vencido ganhou as ruas do país e vivenciamos um grande sonho que parecia irreversível e definitivo.

E Lulu Santos em seu “Tempos modernos“ anunciava vida melhor no futuro, vida mais clara e farta, repleta de toda satisfação, um novo começo de era, de gente fina, elegante e sincera. Concomitante a isso, na vida política desencadeava o movimento por Diretas Já, que culminou com a eleição de Tancredo Neves, ainda que pelo colégio eleitoral. As pessoas se amavam e se curtiam num abraço solidário que parecia ser definitivo.

Mas Tancredo nem assumiu e a Nova República sonhada e festejada não foi como esperado. Pior, Tancredo nem deixou legado de seu DNA político ou familiar. Sarney, inflação galopante; Collor, do confisco ao impeachment; Itamar, do plano Real; FHC, governo que priorizou a tese da reeleição em detrimento das reformas que eram fundamentais aos avanços da economia e da ordem social. Daí pra frente, propositalmente vou evitar, já que o meu pensar pouca importância tem no contexto maior. Que é unicamente liberté, égalité, fraternité. Vale dizer, a exemplo do lema da revolução francesa, sonho com liberdade, igualdade, fraternidade.

Pois que, os tempos são outros e os rumos – lamentavelmente – opostos ao que imaginávamos. Se sonhei viver num país livre e soberano, vejo ações de gente que conspira por golpe. Bate continência para bandeira americana, foge para não ser preso, depois de – acreditem – fracassar nas eleições e ainda tentar intervenção militar e de outros governos de exceção. Saem pelo mundo para aprender com El Salvador e Israel. Pode? Não, só phode!

E pra piorar meu animus pessoal, nem meu time do coração ajuda. Embarcou numa canoa furada e, se não reagirem com urgência e precisão, corremos riscos jamais imaginados. Ai que saudade dos tempos dos anos 60/70/80 do Galo. No campo político, os bons de antigamente deram lugar a falsos pastores e falsos moralistas. E a figura do marqueteiro contribuiu significativamente para esse entristecimento do mundo moderno.

Aqui em MG aportou um sujeito – diga-se que acostumado ao fracasso – adotando uma linha reconhecidamente imbecil. Da agressividade. Sua folha corrida de atendimentos inclui governantes que não deixaram saudades no Rio e aqui mesmo nas Minas Gerais. Derrotado em campanha municipal recente. Pelo apresentado em poucos meses, podemos esperar seu contratante comendo caroço de abacate e até lutando num ringue. É uma opção equivocada que insulta a mineiridade e insufla o conflito e a discórdia (ódio). Não é o caminho para quem quer e deseja um mundo melhor como profetizava pelo Lulu Santos.

6 comentários sobre “Existir e resistir em tempos modernos

  1. Bom Dia! Parabéns pela Coragem! Seu texto retrata a realidade Histórica! Continue sendo resistência! Abraços. Patrícia Lechtman!

    1. Não sei qual parte. Da eleição araxaense que meu candidato foi derrotado?. Eu já não era mais vereador. E quem perdeu foi a cidade. A história comprovou. RSSS

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *