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Resiliente e resistente

Eduardo de Ávila

Sapassado, como de costume, passeando pelo meu quintal (atende por Pátio Savassi), encontro com uma prima muito querida e a prosa se estendeu por quase toda a tarde. Daquelas pessoas agradáveis que ao se despedir já deixa saudade pelo bom astral e energia que te passa sistematicamente. Incrível perceber as características familiares que se perdem com o tempo.

Ela, diferente de mim, opta por “fazer de conta” não ter percebido a uma indelicadeza ou provocação recebida. Me lembrei da minha saudosa vovó Venina, que numa situação dessa, sinalizava a todos discretamente. Vovó juntava os dedos indicador e dedão, passando pela boca – de um lado ao outro – sugerindo “costurar” uma eventual reação. Era admirada por sua resignação. Certamente originária de sua fervorosa fé e formação católica.

Já o neto aqui, depois de uma infância e parte da adolescência aceitando todo tipo de repressão, deixaria dona Venina aflita e rosada. Não que eu seja do perfil de não levar desaforo para casa. Porém, depois de muito me sentir abafado e até “proibido” (sim era a ordem superior em família) em responder no grau da provocação, optei pelo princípio que aprendi nas aulas de física. Ação e reação! Afinal, quem bate esquece, mas quem apanha não esquece. Tem gente ai que não vai se esquecer da minha pessoa nessa existência.

Com isso, desde então, nunca mais sofri por não ter dado a resposta adequada ao provocador. Embora perceba que o dono da ação, sempre se acha ofendido com a reação. Isso se aplica de maneira ampla e geral. E como sou muito apaixonado com o meu time do coração (segredinho, o Galo) e defendo minhas convicções políticas – baseada em priorizar o social – acontece de “engraçadinhas/os” se aventurarem em arriscar uma alfinetada. E sou até adepto do diálogo, gosto de conversar sobre o contraditório, mas até onde o limite me sugere.

E fui narrando a ela sobre algumas situações que ela teve conhecimento e outras que até desconhecia relacionadas com minhas azedas respostas e manifestações sobre essa gente que menciono. Sei que, com esse jeito reativo que adotei, coleciono até essa idade (já 67, quase meia oito anos) menos que os cinco dedos das mãos de pessoas que evitamos contato até no olhar (desafetos) o que é um saldo significativo e gratificante. Fosse eu ainda aquele menino bobo do passado, seriam dezenas e talvez centenas.

Eventualmente chegam a mim considerações negativas destes algozes recíprocos que colecionei ao longo de tantas décadas. Peço e rogo por não saber o que estão comentando, mas não tenho como negar uma realidade. Não gasto um mísero segundo do meu precioso tempo para essa gente. Via de regra extremamente preocupados com a vida alheia e distraídos com seu próprio rabo. Não têm a importância que me reservam nos seus pensamentos. Uma situação é indiscutivelmente verdadeira, experimentaram e conheceram o meu jeito de ser com a imbecilidade. Sempre em dose única. Seguramente com efeito permanente.

Por fim, as situações são hilárias e – sob o olhar perplexo dela – divertimos por horas numa deliciosa conversa sobre nossa terra, amigas/os, família e toda essa diversão que é viver. E que a nossa vida (briquedolandia) ainda dure por um bom tempo, embora – de coração – já me sinta completo por tudo que pude realizar e aproveitar nessa passagem atual passagem pela Terra. A única coisa que peço ao Criador é que na próxima encarnação quero nascer de novo em Araxá, fazer minha vida em Belo Horizonte e torcer pelo Galo. Mereço!

Em tempo: Vou avaliar trazer algumas dessas passagens aqui, sejam elas as diretas ou as indiretas. Essa segunda dói muito mais, reconheço, teve até quem tentou organizar um exército para sua contra reação, mas entre as/os soldadas/os arregimentadas/os muitas/os atiraram na/o titular do recrutamento. E neste final de semana, bem sabático, pude reavaliar muita coisa da minha frágil e doce existência. Viver bem é estar ao lado de quem te acrescenta e completa e não de gente minúscula que precisa crescer e virar dona/o do seu livre arbítrio.

Ce la vie! Viver e não ter a vergonha de ser feliz, recomendou Gonzaguinha.

Blogueiro

View Comments

  • Bom dia, Dudu! É isso mesmo. Seja você mesmo em qualquer circunstância. "Os cães ladram e a caravana passa"

  • Boa Tarde! Amadurecer é passar a ser como de fato somos, continue este homem apaixonado pela vida! A Literatura Agradece!!! Abraços

  • Como é gostoso ler tuas aventuras, teu dia a dia , teus desabafos , vc é uma pessoa maravilhosa , agradável, inteligente , um torcedor apaixonadamente doido pelo Galo , um amigo de longe que eu queria perto de mim …
    Um enorme abraço Dudu !!!

  • Eduardo, ótima escrita! Você compartilha seu jeito de seguir a vida com leveza e alegria! Grata!

  • Grande Eduardo, sempre atento e lúcido! Só esqueceu de comentar a paixão pelo Carnaval da Unidos do morro!
    Grande abraço.

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