Eduardo de Ávila
Não podia imaginar, em qualquer momento de décadas já vividas, que chegaria aos tempos atuais com tantos sonhos e energia. Brinco, entre amigos, sobre minha fé religiosa– que me sugere orações ao me recolher para uma noite de sono e também ao acordar –, sempre incluía pedidos por uma vida melhor e mais leve do que vinha experimentando. Pois que, agora, desde a virada da última temporada, rogo ao bom Deus por me dar ainda outras boas décadas para curtir o que esses momentos da melhor idade estão me reservando.
Ainda ativo e produtivo, refiro a questão de trabalho, reservo parte da manhã – bem cedinho – para atividades físicas na academia. Redescobri o Clube Recreativo, presidido pelo amigo e ídolo Beto Bom de Bola, bem pertinho da minha nova casa. Metros separam a portaria do meu prédio e a de lá, percorrido todo dia com uma disposição que certamente tinha deixado em alguma prateleira. Como não vou disputar as olimpíadas, cumpro minha ficha diária e alternada, sem compromisso com a musculatura. Achei o que a luz da vida ainda não tinha me lumiado. Faço exercício pelo prazer e necessidade de melhor viver.
O Recreativo, tradicional na região do Carmo Sion – já chamou Clube dos Viajantes – oferece tudo que necessito. Além da sala de musculação, ainda piscinas, quadras esportivas, salão de jogos e de festas e um parque infantil. Curto ver a alegria das crianças na tenra idade, que completam parte da paisagem que desfruto no alvorecer de cada novo dia. Ainda que, eventualmente, tardia! Aqui tem de tudo, como diria nos meus tempos lá no Araxá. Sapateiro, farmácia, padaria, banco supermercado e muito mais a um pulinho de casa. Falta isso! Peraí que é vapt vupt e sem ladeiras. Bendito novos tempos!
Como se não bastasse era um sonho que, desejado e acalentado por tempos, se tornou realidade. Não, não só pelo espaço ser inteiramente meu e livre do aluguel, mas muito mais que isso. Melhor ou tão bom quanto ser meu, é no lugar que fiz minha vida em meio século de Belo Horizonte. Me mudei para cá tem exatos 50 anos, no início de 1974, completados nos primeiros tempos deste 2024. Morei em pensão e repúblicas, a primeira delas e algumas entre as demais na região da Savassi. Nos últimos 30 anos, mesmo distante, era minha parada obrigatória.
Com isso, outra brincadeira, quando alguém me liga e pergunta onde estou digo que é no quintal. São dois espaços, na verdade, no coração da região que é a praça e o outro no Pátio. Seja num ou no outro, ando como se estivesse na rua em Araxá nos tempos de criança. Conheço muita gente que também sabe quem sou eu. É bom dia pra lá e para cá, já quando volto do trabalho, no final da tarde, repete esse roteiro. Boa tarde e boa noite! No lugar da cervejada de tempos passados, cafezinho com prosa e – quando tem companhia – um bom filme.
De quebra, nos momentos que tenho de usar carro – vou e volto do trampo de ônibus (minha idade me premiou com 0800 do transporte coletivo) – é para compromissos mais distantes. Jogo, claro, do Galo e só dele e mais nenhum outro time. Muito, mas muito raramente, fora desse trajeto também. Até o carnaval, que não abdico nunca, acontece aqui nessa região premium de BH. Se sem isso pouco reclamava da vida, agora assim, louvo a existência e curto esse lumiar no meu caminho. Assim seja!
Parabéns, meu amigo Fidel. Cuide bem de você. O mundo não se dispõe a abrir mão de você. Nós, seus amigos, menos ainda.