Encontros e despedidas

Sandra Belchiolina
sandra@arteyvida.com.br

Semana de Páscoa — renascimento, flores e frutos que se abrem no hemisfério norte. Sementes semeadas no hemisfério sul, promessas de frutos e flores futuras. Entre esses momentos de comemorações e brindes à vida, há aqueles que partem. O que me faz lembrar da canção de Milton Nascimento “Encontros e despedidas”.

Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar

E assim chegar e partir
São só dois lados da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro é também despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar.
É a vida desse meu lugar.
É a vida…

Assim, nessa estação em que um grupo de amigas se encontrou no passado, seguindo juntas pelos trilhos da vida, uma delas parte para nunca mais voltar. Nesse misto de emoções e memórias, a vida segue e podemos celebrar e despedir dos muitos encontros vividos, das risadas, da contação de casos e da vida compartilhada nesses rincões do nosso Brasil. Passeio pelas minhas lembranças sabendo que as “migas” comungam com muitas delas.

Essas recordações viajam desde a minha chegada na que denominarei “primeira vila”. Almoçar nos enormes restaurantes chamados “bandejões” (denominação à época para o que hoje conhecemos como “comida a quilo”), experiência totalmente nova para mim. O bar do Genildo era nosso ponto de encontro, além das nossas casas e do clube esportivo. Rodas de conversa e bailes faziam nosso lazer. As caminhadas pela névoa nas estradas e ruas empoeiradas com a delícia do frescor do ar nas montanhas com cheiro da flor assa-peixe, que encontramos no município de Ouro Preto e Mariana. As abelhas gostam muito do seu pólen.

A minha “casinha branca pequenininha” era simples, mas muitas coisas a enfeitavam e a produção de um lar se dava. No quintal havia os canteiros com alface, cenouras, couve, beterraba e até um pé de goiaba. A casa, porém, tinha pequenas assombrações — os escorpiões — que apareciam constantemente, sendo comum sua presença na região.

Vivíamos num tempo impensável para um jovem que tem hoje idade inferior a 30 anos — não tínhamos disponível telefone nos idos de 1984/85 no local. Os telefones da Vila eram todos ligados à central da empresa e quem tinha o aparelho em casa eram somente os que possuíam cargos de gerência. O restante dos funcionários eram dependentes de um telefone público que havia numa pracinha próxima da nossa casa. E não é que sobrevivemos a isso!?

Nós, mulheres, tecíamos laços afetivos, com troca de conhecimentos sobre a criação dos filhos, sobre livros, filmes, programas de TV que iniciavam a luta pelas causas femininas. Somasse a isso os trabalhos realizados para além da família. Escutamos e sonhamos com as músicas de Gal, Bethânia, Simone. As músicas de Simone tornou-se um hino para mim e cumadre Mara. Elas embalaram nossas prosas por muitas horas.

Essa escrita surge de um turbilhão de emoções quando a primeira amiga dessa turma, pioneira em muitas construções por esse país, pegou o trem e partiu para nunca mais. Nós continuamos no embarque e desembarque dessa vida; testemunhando nossas conquistas e sonhos realizados, assim como o que ao longo do tempo se modernizou, dinamizou e fluiu.

Assim são os dois lados da mesma moeda e é assim a vida desse nosso lugar.

3 comentários sobre “Encontros e despedidas

  1. Adorei o seu texto “Encontros e Despedidas”. Parabéns Sandra. Muitas lembranças de amigas presentes e ausentes.
    Beijos. Daurinha

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