Feminismo? Jura?

Luciana Sampaio Moreira

Sou feminista e agradecida pela queima de sutiãs, pelas manifestações e projetos que me renderam e rendem direitos que minhas avós e mães não tiveram. Mas o que estão fazendo com a pauta feminista? Que história é essa de desbancar e subjugar os homens, como se o mundo, a vida e tudo mais fosse atingir um estado de plenitude total sem eles? Isso vale apenas para maridos, chefes e colegas de trabalho ou também para os familiares e os filhos que elas geraram ou pretendem ter em algum momento?

Porque perguntar não ofende. E se estou entendendo tudo errado, que tal uma resposta bem clara do que está acontecendo? Eu nunca entendi o feminismo como algo contrário ao machismo, mas como uma causa social, política e econômica de gênero que visa garantir e ampliar direitos para as mulheres e instaurar um novo e produtivo modelo de sociedade. Sim, eu quero mais não apenas para mim, mas para minhas iguais!

No entanto, tenho observado que nos últimos tempos, essa pauta caríssima tem sido usada de forma equivocada para fomentar uma espécie de guerra dos sexos, no melhor estilo “nós contra eles”. Enquanto isso, percebo que velhas ideias machistas e racistas ainda encontram eco entre as mulheres. Ideias de que filhos homens podem ter mais autonomia que as meninas, que médicos homens são melhores e, na hora de votar, a ideia de que homens entendem mais de política continua em vigor. As sinhás modernas vivem se lamuriando nas redes sociais pela falta de faxineiras, empregadas e babás…

Será que não falta uma autocrítica antes de apontar o dedo para o colega e gritar “culpado”? Será que essa ideia é apenas para “dar o troco”? No passado, colocaram as mulheres dentro de casa, para cuidar da casa e dos filhos, em serviços subalternos e invisibilizados. Hoje, o que se pretende é dominar os homens para demonstrar superioridade. Mas a que preço? Mais estresse, ansiedade e trabalho?

É bom lembrar que, na natureza, existe uma complementariedade de energias, habilidades e competências que podem render melhores resultados com menos esforço físico e mental para as partes envolvidas.

E não é esse o sonho dourado das mulheres da atualidade, reduzir a carga de ter que dar conta de tudo junto e misturado ao mesmo tempo e, ainda, ser feliz, linda, magra, saudável e realizadíssima? Mulher é emoção, mas também é razão. E homem é razão, mas também é emoção. E nesse contexto, podemos falar de tipos diferentes de emoção e de razão.

Elas não dão conta de tudo e nem eles são autossuficientes. Assim, apostar no revanchismo barato e panfletário que cria mais um inimigo — como se já não bastasse os que enfrentamos todos os dias — vai gerar apenas expectativas e ideias mirabolantes que em nada fortalecem a pauta feminista.

Acredito que as mulheres precisam ampliar sua participação nos vários espaços. Lugar de mulher é onde ela quiser. Com respeito e admiração, homens que realmente gostam de mulheres vão compreendendo que é preciso aparar certas arestas e abandonar determinadas práticas para que a parceria dos gêneros possa acontecer de fato, e que a harmonia — um negócio que está ali no mesmo patamar da paz e da saúde — consiga reinar.

Porque na guerra, nada se constrói a não ser ruínas e estratégias de contra-ataque.

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