Daniela Mata Machado
Além do horizonte deve ter
Algum lugar bonito pra viver em paz
Onde eu possa encontrar a natureza
Alegria e felicidade com certeza
Quando o meu olhar cruzava o da minha amiga, a gente fazia os nossos olhos dançarem e nós duas sabíamos que a música era essa, de Roberto Carlos. Geralmente acontecia durante reuniões aborrecidas, que a gente jurava que poderiam ser resolvidas com um e-mail e que, invariavelmente, terminavam com a definição da data de outro encontro, onde os assuntos que não haviam sido decididos naquele colóquio deveriam ser retomados para o encaminhamento de uma solução no próximo. A gente saía dali com cara de tédio e minutos depois caíamos na gargalhada.
Hoje eu escrevo esta crônica em meio a um calor insano e penso que talvez você a leia quando as chuvas torrenciais que a meteorologia anuncia estiverem caindo sobre as nossas cabeças. O ventilador que eu literalmente agarrei, no feriado de 15 de novembro, na única loja de um shopping center de Belo Horizonte que, por sorte, havia recebido algumas unidades naquele momento, está girando à minha frente. Mas ainda estou suando, minha pele está brilhando e a roupa está colando no corpo. Me sinto dentro do filme Do the right thing, de Spike Lee, que eu gostava de assistir antes mesmo daquela época em que cantarolava mentalmente a música do Rei, na esperança de escapar de uma reunião aborrecida.
No Instagram, eu vejo pessoas lindas, com uns sorrisos brancos e perfeitos que nunca pareceram existir antes das redes sociais se fazerem tão presentes nas nossas vidas. Nós antes tínhamos os dentes um pouco tortos – ou, no meu caso, um tanto pequenos –, a pele meio manchada ou acneica – a depender da idade – e não repetíamos com tanta insistência essa necessidade de sermos positivos. Éramos alegres, tristes, melancólicos, intensos… e, no meio do caos, éramos sempre, mesmo os mais mal-humorados, incrivelmente esperançosos.
A temperatura do planeta tende a aumentar um pouco por ano e lidamos com isso numa disputa por ventiladores dentro de um shopping center. Cadê você, Lu? Estamos aqui, nesta reunião interminável para decidir o futuro da humanidade e já sabemos que daqui a pouco alguém diz que está na hora do almoço e marca para continuarmos numa outra data. Será que vai dar tempo, Lu? Será que a gente ainda vai se encontrar pra cantar aquela canção do Roberto?
Lá nesse lugar o amanhecer é lindo
Com flores festejando mais um dia que vem vindo