Tenho convivido com essa realidade, diria até que de maneira leve e feliz, mas sinto muita saudade daqueles que foram mais apressados nessa passagem da vida. Meu último domingo foi de uma dolorida nostalgia. Um ano da ausência de uma irmã, mais que querida, era a alegria e referência familiar. Margarida comandava nossas comemorações e reuniões festivas. No final do ano de 2021, queixando de certo desconforto, aguardou o fim das férias para procurar ajuda médica. Uma doença rara, rápida e fulminante nos deixou órfãos de quem nos protegia e congregava.
Foi um domingo vazio que se misturou com uma essa dor da perda. Por mais que tenhamos curtido os melhores anos de nossas vidas, eu era uma criança e ela já professora do Grupo Escolar, sempre fica a sensação de não ter vivido tudo. Cresci, sempre próximo dela, que – direta ou indiretamente – até na minha Atleticanidade foi influência. Isso pois, seu querido marido (Fausto) e cunhado de nós da irmandade, foi quem me apresentou o Galo para toda a minha vida. Ficou viúva antes dos 30 anos, sem nunca perder o bom humor, por mais que a vida tenha lhe sugerido com bons motivos.
Aliado a esse sentimento da ausência dela, o pensamento me levou a outras perdas ao longo dos tempos. Outro irmão (também Fausto), foi pra mim boa referência de vida – exceto graças ao bom Deus no caso do time do coração –, já está na espiritualidade por quase 10 anos. Mamãe e papai, ela (Maria) tem mais de 20 temporadas e ele (Carlos) já beirando 50. Avós, avôs, tias, tios, primas, primos, amigas, amigos e outras pessoas de menor convivência, mas de boa afinidade. Fiquei tanto angustiado, que reagi em busca de prosa na rua para não me entregar a um processo de profunda tristeza. Tive ainda dois compromissos relacionados ao meu Galo, live e produção de texto para postagem.
Mais tarde, já de volta pra casa e tendo curtido algumas boas conversas, liberado dos compromissos mencionados, entrei noutro processo mais sugestivo. Lembrando de cada uma dessas pessoas que já viraram estrelas, como se conversasse com cada delas, fui fechando meu domingo. Lentamente aliviando e pegando no bom sono. Na companhia do cpap, uma das muitas interferências médicas dos últimos tempos. Fosse só esse capacete do sono, mas são tantas atividades em busca de uma velhice saudável, que ocupam boa parte dos dias nessa idade. Fisioterapia, tomar sol, caminhar e também cumprir as agendas em consultórios. Geriatra, cardiologista, urologista, gastro, endócrino e outros. Antes… antes, como diria um saudoso primo de Araxá. Zé do Beto avisava, melhor antecipar que depois não ter o recurso do retorno.
Superado esse momento de tormento, reagindo como sempre aos bons motivos da vida, passei a ironizar – ainda que internamente – a realidade e aos bons motivos para seguir curtindo o lado bom dessa nossa existência. Somos privilegiados, como até já mencionei aqui e dito por um amigo, jovens tem mais tempo que muita gente nova. Tive um tio (Domingão) que brincava dizendo ter mais amigos do lado de dentro do muro do cemitério que de fora. Cada vez que vou no Araxá, e faço um roteiro sistemático em visita a quem já mudou de plano, me lembro dele. São muitos já nessa nova morada. E saio pelas ruas, apreciando a agitação da juventude – não conheço mais ninguém -, me recordando o quanto fui feliz no meu momento. Aproveitei muito, sem causar qualquer transtorno a terceiros. Por isso, acredito, que entre altos e baixos sigo com o folego daquela ocasião.
Ainda tenho muitos planos e projetos para essa existência. Felizmente! Não os tivesse, estaria me entregando. Sou resistência, até nesse caso. Já quanto a durabilidade, vai depender de dois fatores. Da programação dEle, em quem sempre confiei e tenho devoção, ao meu jeito e escolha. Sem patrulhar quem tem opções mais conservadoras sobre essa convivência com a força superior. O outro, que depende exclusivamente da minha opção pessoal, é de me cuidar e seguir as orientações dos profissionais da saúde que elegi para essa finalidade. Sou disciplinado e me cuido bem, ainda que me ocupe boa parte do dia com esses procedimentos. Hei de envelhecer cada dia mais, sem jamais perder a juventude.
*imagens: arquivo pessoal
Eduardo,
Compartilho de sua reflexão sobre nossos queridos que se foram. Tenho pensado sobre esse nosso momento de “meia-para-mais-idade”, quando vamos vendo minguar a turma que povoou nossa juventude. O nosso resto de tempo depende muito de nosso cuidado, mas ainda assim não sabemos o que o além nos reserva. Vamos aproveitando sempre aqui e agora. Obrigada pelo seu belo texto.
Querida, que bem te-la como amiga de uma vida inteira. Você sempre foi e continua sendo um encanto. Bjos
Grande amigo, boa e longa vida para todos nós da geração da resistência. Belo texto.
Quero seguir nessa, somos resistência! bjo
Lindo texto. Rica reflexão. Que bom que você se cuida. Beijos e saudações atleticanas.