Sobressaltos do envelhecimento

Eduardo de Ávila

Por mais tranquilidade que possamos ter, mesmo sabendo que a única certeza que temos em meio a tantas dúvidas durante a existência, a nossa hora vai chegar. Diferente daquela cantoria no vestiário de um time carioca, o Real Madrid sobreviveu e quem se achava é que segue pagando o preço da arrogância. Imagino, por tudo que experimentei durante a vida, vamos passar sim por um julgamento que vai determinar a vida espiritual e até mesmo eventuais reencarnações.

E foi assim, durante trancos, barrancos e mesmo solavancos, que cada um de nós foi moldando sua passagem por essa existência. Não existe modelo certo ou errado, as situações – que surgem a cada momento – são ofertas do Criador para que façamos as escolhas que achamos adequadas. Não condeno quem pensa diferente, minha discórdia não sugere que o outro esteja errado. Vale pra tudo. Desde namoros, profissão, com quem conviver, opção ideológica e até o time do coração. Nunca escondi ou dissimulei nenhuma delas. E ainda vivo intensamente cada escolha que a vida me ofereceu.

Estou cá com meus 65 anos, já com cinco doses da vacina (opção pessoal e em respeito a quem convive comigo, sem ter sido diagnosticado nenhuma vez com a tal COVID), mas já tendo passado por inúmeros procedimentos cirúrgicos. Alguns na infância, outros na idade madura, e recentemente convivendo com insistentes agressões ao organismo. Parafusos na coluna e dois tumores, o primeiro já na reta final para ser definitivamente liberado do monitoramento e o outro ainda em fase inicial.

Minha condição de caçula e temporão agora enfrenta a dura realidade das limitações, até então nem tanto preocupantes. Já vivi mais tempo que meu pai. E fico aqui lembrando do quanto achava ele idoso. Minha mãe me privilegiou por resistir mais. Desde a perda de um irmão, passando pela recente partida de uma irmã, aliado às constantes despedidas de amigas/os queridas/os, entrei em estado de alerta. Sem paranoia ou medo da inevitável passagem que me aguarda. Só gostaria que demorasse, mas não tenho poder para determinar algo que Ele já deixou prescrito desde a minha concepção.

Diante dessa realidade, que não me perturba, procuro viver cada momento e cada situação da melhor maneira possível. Não sou santo e nem sou puto, mas sou amigo daqueles que se mostraram iguais nessa condição. Já perdi amigos, por morte e até que ainda vivem, mas nunca deixei de ser o que sempre fui. Há quem aprecie, mas também existe quem não goste. Tem alguns, é verdade, que foram próximos enquanto lhes era interessante. Depois mudaram de patamar, mas eu insisto em seguir no meu padrão desde os tempos de infância e adolescência. Ninguém perdeu com isso, foram nossas escolhas.

Confio no Criador, tenho duas resenhas diárias com Ele, ao acordar e ao adormecer. Me faz bem. Atualmente, como sugere o título da prosa de hoje, vou me adaptando a cada nova surpresa que o envelhecimento me oferece. Dias atrás, por um evento pessoal, lá fui de novo para um consultório. Novos exames e mais uma novidade a me limitar e sugerir cuidados.

Uma certeza eu tenho, não serão os parafusos, tumores, agora atenção com as carótidas que começam a diminuir suas comportas, que tirarão minha alegria de viver. Tão e somente, como sempre, aceitar as limitações que essas situações inerentes ao envelhecimento sugerem e determinam. Não se trata de conformismo, mas – ao contrário – sim de resistência a uma eventual e possível entrega e concessão a um processo de desânimo. Olhar para o passado, conseguir perceber o quanto pude desfrutar e construir numa vida toda, me são suficientes para encarar esses sobressaltos. Xô hipocondria! Xô depressão!

Ah! Ia me esquecendo de algo que julgo ser importantíssimo para chegar a essa conclusão. Durante meus primeiros tempos e até os dias de hoje, se teve algo que sempre me orientou, foi respeito e consideração aos mais velhos. Eventualmente me deparo, muito em função do outro blog que assino (sobre o meu Galo), pessoas achando que podem me desqualificar pela minha idade. “Velho, gagá” e outros adjetivos já me foram ditos. Fico com pena. Jovens que certamente irão sofrer quando a idade chegar como acontece com todos e indistintamente. Só não envelhecem aqueles que são prematuramente chamados de volta.

E me recordo de uma frase dita pelo amigo e ex-governador de Minas Gerais, Alberto Pinto Coelho, “não tenho culpa se sou jovem tem mais tempos que aqueles que se valem dessa agressão”. Sigamos!

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  • Não há problema em ficar velho. O segredo é conseguir ficar velho. Ademais, viva todos os momentos como se fosse o último de sua vida. Uma hora você acerta! Abraços!

  • Nossa vida, nossas escolhas, nossas dores e nosso deleite E vamos em frente até que Ele enfim, opte por nós acolher! Mas, até lá amigo, conterrâneo vamos vivendo as pequenas alegrias do dia a dia! Parabéns pelo texto!

  • Parabéns meu amigo atleticano. Não podemos envelhecer nunca a nossa mente. Você sempre será lembrado pelas escritas que faz durante essa passagem terrena. Abraços e hoje tem o seu galo e hoje tem o meu Cruzeiro pela Copa do Brasil.

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