Falta de urbanidade

Quem sabe, ainda que tardiamente, os novos tempos sinalizem para uma mudança de hábitos e comportamento nas relações interpessoais. Percebo muita gente confundindo autenticidade e personalidade com rispidez e grosseria. Pessoa autêntica é quem não tem receio de expressar o que sente. Já personalidade, refere ao modo de agir, quando é forte por não passar despercebida no ambiente e serem determinadas em suas opiniões.

Mas, ao que estamos vivendo e convivendo – com muita dificuldade – é muitas vezes uma grosseria desenfreada frequentemente ao nosso lado. Saio todo dia cedinho para sessão de fisioterapia, caminho quase dez quarteirões para ir e o mesmo trajeto para a volta. Tendo dormido, bem ou mal, os primeiros momentos da manhã – geralmente – determinam como será o correr daquele dia.

Daí, ao cruzar com alguém – ainda que desconhecido – lanço um acanhado “bom-dia”. Muitos respondem efusivamente, já alguns até viram a cara. E sigo, com essa cara de bobo – sem confundir com o Carabobo que é o time que o Galo vai jogar em fevereiro pela Libertadores – na esperança que as relações sejam amistosas e afetivas. Na fisioterapia é uma festa, igual salão de beleza ou barbearia, todo mundo falando ao mesmo tempo. Poucos ouvindo, mas é um ambiente alegre.

Daí eu e muitos entre nós, que frequentamos o comércio, seja supermercado, farmácia, cafeteria ou outro qualquer, experimentamos a desatenção do atendente. Numa farmácia de shopping, que fica no nível Mariana, entrei e duas atendentes na linha de frente numa animada conversa pessoal, se encarregaram de se livrar da minha presença e me sinalizaram para ir até o balcão. Lá descobri que o produto que eu queria, era com uma das duas primeiras, sai e fui embora sem comprar.

Dias atrás, até comentei aqui e pelas redes sociais, outra farmácia – no caso do Diamond – depois de uma longa espera na fila a atendente única do caixa se recusou a receber a compra em dinheiro, afirmando que o caixa dela só operava com cartão. Nunca mais voltei nessa unidade e dessa rede só vou numa da Avenida Contorno ao lado do Pátio Savassi. Lá sempre fui atendido de cara boa.

Falo de minha experiência pessoal, e sei que cada um de nós tem casos semelhantes em situações diversas. Mas, desde novembro do ano passado, me tornei passageiro de ônibus – beneficiado pela idade – e estou experimentando uma realidade que desconhecia. Curioso, embora não me ligue em prosa alheia, me divirto com as conversas em voz alta dos passageiros. É interessante, pois ouço cada coisa que não imaginava.

Entretanto, me choca a ausência de cortesia de jovens que invadem o espaço reservado ao idoso e tomam conta dos assentos. Estudantes com fone de ouvido, com o olhar distante, para não serem repreendidos por ocuparem as vagas que a idade nos premiou. E o duro, ao que penso, deveriam ser retirados do lugar indevido. Mas quem faria isso? Não tem trocador, as empresas – para baratear custo – impõe ao motorista a cobrança da passagem e ele não pode parar o veículo para tentar colocar disciplina nos usuários.

Com isso, presencio, além dessa afronta a nós velhinhos muita gente entrando e saindo – num acordo com o motorista – pela mesma porta da frente. Economia porca que dá prejuízo aos donos das linhas de ônibus urbanos. Tivesse cobrador, como nos tempos passados, seguramente fariam melhor receita e esses jovens não estariam ocupando nossos lugares. Economia que gera prejuízo e, consequentemente, grosseria.

E sigamos a vida urbana.

Em tempo: Fotos e considerações pós post. Como disse acima, configurado na manhã de hoje. Das oito vagas pra idosos, seis ocupadas por distraídos e egoístas jovens. Viagem de 8h15m, sem cobrador.

2 comentários sobre “Falta de urbanidade

  1. E as salas de cinema? Vivente chega em meio á exibição da película,falando alto ao celular,atropelando conscientemente as canelas do expectador sem solicitar a devida licença p ocupar a poltrona q lhe é melhor condizente,sendo q a primeira da fila está desocupada,continua falando ao celular pouco se importando com os outros… Saudades do cinema raiz,onde o lanterninha era a “otoridade máxima” na bagaça toda. Hoje o lanterninha é o próprio desavisado q sem se importar com os demais,se acha na sala de sua casa e “toca o f…-se” na maior cara dura. Joga a pipoca p cima,sobe na poltrona,atrapalha aos demais,etc etc …e aí de vc caso solicite silêncio p ver…! Sou de uma época em q ir ao cinema era um programa legal,da hora sabe!
    Abraço meu amigo temporão!

  2. Sou solidária ao seu sentir, D’avila!
    Também eu, já alcançada pelo Estatuto do Idoso e vitimada por uma mobilidade reduzida, venho sentindo na pele sobre o que dizes.
    Contudo, grande é minha esperança: nós desumana humanidade mudaremos, si per amore, sia
    Abraço fraterno!

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