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Me livrai de outra, amém e assim seja!

Eduardo de Ávila

Cá estou, trancafiado dentro de casa, obedecendo cada recomendação feita pelo médico quanto à minha última cirurgia. Já até brinquei sobre esse último procedimento duas semanas atrás, mas – confesso – além do pós-operatório, ter de conviver com cenas dos tempos atuais tem sido um horror. Exatamente agora que, as moças e moços dos tempos da adolescência, festejam os 65 anos.

Sou de 1957, e tradicionalmente minhas amigas e amigos do Araxá, festejam essas datas reunindo desde colegas dos tempos do Grupo Escolar até aqueles do ensino ginasial e científico – dos colégios das freiras e dos padres – inicialmente separados rapazes e elas. Em função dessa cirurgia, que não recomenda adiamento, perdi os festejos da temporada.

Fiquei daqui, nesse chato período pós-operatório, seguindo as recomendações. Nada que fosse intolerável, não fosse a companhia – colada no corpo – de uma sonda urinária por longos sete dias. Ainda faltam dois, mas parece que essa mangueira incomoda tem meses. Não sei se por ela, ou por outras motivações, em meio a isso uma ida emergencial no PA, depois de uma noite mal dormida e com desconforto gerados pela paranóia. E nem sou hipocondríaco.

Mas, se na dúvida não ultrapasso em estrada, igualmente segui a determinação de averiguar “que se passa”. Nada detectado, depois de eletro, exame de sangue e até RX. Possibilidades várias, desde ansiedade até o acumulo de ar no organismo. Nas cirurgias modernas, no caso foi robótica, injeta-se ar para facilitar o manuseio entre os órgãos. Sábado, por curiosidade, gastei um bom tempo lendo, ouvindo palestras e assistindo vídeos do assunto. Não sugiro que o façam. Me esclareceu e até confortou, mas vídeos do processo cirúrgico são muito fortes.

Paralelo a isso, sem poder transitar – o que me causa grande desconforto – me prendo mais tempo nas redes sociais. Usuário crítico dessa invasão de privacidade, fico ainda mais chocado ao deparar com a quantidade de idiotices propagadas por gente que sempre me mereceu toda e total consideração. Pessoas que repassam fake News, conscientes de que a informação é falsa, com a intenção confessa de provocar, confundir e até difundir uma mentira.

A proximidade do pleito eleitoral, aliado aos números das pesquisas recentes, parece ter aguçado esse tiroteio de desinformação. Já disse aqui, por vezes, alguns chegaram até a me agredir por minhas opiniões e opções. Recentemente, por alguma razão, enfiaram o rabo entre as pernas (ou a viola no saco) e me esqueceram. Tomara que seja esquecimento definitivo. Até porque, conforme está no título dessa resenha de hoje, me livrai de outra. Refiro a processos cirúrgicos.

Foi a nona, sendo três nesse ano, e já avisei. Não faço mais nenhuma outra, por melhor que tenham sido os resultados de todas. Se não tivesse extirpado o primeiro tumor – isso mesmo, leia-se câncer – em 2017 talvez nem tivesse ocorrido esse segundo. O sucesso do primeiro alimentou a disposição dessa segunda cirurgia – que foi muito leve (agradeço a uma pessoa generosa que possibilitou ser robótica) – mas conviver com o pré, durante e o pós-operatório é muito estressante. E ainda ter de, em meio a isso, assistir ao mais triste debate eleitoral de todos os tempos. Me recordo sempre dos bons momentos que vivi e convivi na vida pública – ganhando e perdendo – sem qualquer tipo de agressão. Em 1985, lá no meu Araxá (eleições isoladas para a prefeitura), saindo do ginásio de apuração ao lado do presidente do partido que derrotou o meu candidato. Em perfeita harmonia. Hoje…

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  • Prezado amigo Eduardo. Tenho pra mim que ventos de esperança rondam o nosso Brasil. Não vai demorar muito iremos alcançar está harmonia que a democracia possibilita, mas antes vamos ter que fazer justiça social, aí sim as coisas começam a melhorar. Não dá pra admitir um país rico como o nosso que já fora em passado recente a sexta economia mundial, hoje ocupamos a décima, deixar que mais de 33 milhões de cidadãos passem fome. Sem falar em mais outros tantos que sofrem com a insegurança alimentar. Você é uma pessoa guerreira e sabe lutar um bom combate. Pode confiar, a vitória já chegou. O que falta é o time de vespasiano lhe trazer um pouco mais de alegria, pois neste momento está muito difícil.

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