Terceira cirurgia na temporada

Eduardo de Ávila

E lá vou eu, daqui alguns dias para mais um novo procedimento cirúrgico. Será a nona na minha existência. Terceira vez só neste 2022. Diferente das duas que realizei na infância, garganta e retirada de apêndice, que deixaram a criança assustada, as demais foram e continuarão sendo sem pavor, medo e tampouco aflições que percebo em situações similares.

Já adulto, depois de acompanhar meu saudoso pai ter se submetido a essa nova que vou experimentar, e tendo passado por intervenção para dilatação esofágica (por estreitamento de esôfago), edema de cordas vocais (estava perdendo a voz pelo pelo cigarro, zona de Reinke), hidrocele (cisto no testículo) e o temido diagnóstico de tumor, sigo a vida. Nesse último caso, alojado no intestino. Só ai já somam seis.

Eis que, fruto de uma atitude impensada em caminhar de Belo Horizonte até Itabirito já no distante ano de 2006 – quando o meu Galo rebaixado conseguiu voltar à série A do Brasileiro – fui brindado com um grande estrago na coluna vertebral. De lá para cá, duas a três vezes alucinantes crises de dor por ano, que – gradativamente – aumentavam em repetição e intensidade. Devo ter percorrido algumas dezenas de consultórios.

Pois bem, no início do ano, precisamente em fevereiro, numa dessas consultas me foi sugerido um procedimento denominado Rizotomia. Não é exatamente uma cirurgia, mas com similares requintes e crueldade. Hospitalização, anestesia geral, repouso. Em nada resolveu, até que – na bacia das almas do desespero –, lá fui eu para nova cirurgia. O receio com a região cervical talvez tenha me feito – ainda que inconscientemente – adiar mais outra intervenção e agressão no meu corpo. Pois o sucesso, até prova em contrário, foi absoluto. A dor sumiu. Depois de 16 anos, esse desconforto acabou. Já são oito, sem perder as contas.

Em minha revisão anual, faço desde os 40 anos, vinha já sendo monitorado por alterações na próstata. Tudo sob a observação do médico e com os medicamentos recomendados. Até que, na última consulta e exames – em maio último -, os resultados começaram a evidenciar que mereciam preocupação. Tenho casos familiares, de pai e irmão, o que sugere ainda maior preocupação.

Daí o médico me manda fazer um ultra som; de posse do resultado, uma ressonância magnética; e na sequência a inevitável biópsia. E, como já era esperado, a condenação prevista no código da medicina. A exemplo do tumor anterior, o primeiro no intestino, em comum acordo com o doutor, a opção foi de fazer o quanto antes o procedimento cirúrgico. Foi assim que ocorreu da vez anterior, e – salvo melhor juízo – estou livre daquele primeiro enfrentamento à doença mais temida da humanidade desde os tempos que eu era criança. Era indicativo de pena de morte.

Mas, como acredito na ciência e na medicina, confio nos médicos e tenho fé nEle, no meu guia espiritual e na proteção de pessoas queridas que já estão na morada eterna, lá vou eu – sem medo de ser feliz – para mais uma cirurgia que haverá de ser coroada de pleno êxito. Sem perder o bom humor.

Como comprovação disso, vou relatar duas partes do meu diálogo com o doutor no dia da consulta/confirmação da presença desse tumor na minha próstata. Ele, ao que eu sentia, dando voltas para chegar à conclusão, contou com a minha colaboração. Disse: “doutor, desde o primeiro resultado, fui encaminhado para ultra som, ressonância e biópsia. Três médicos diferentes, porém com a mesma cara – apreensiva – perguntaram se na minha família tinha casos similares. Não estou surpreso a vamos marcar o quanto antes para ficar livre de mais essa”.

Relaxados, ele e eu, avançamos sobre o procedimento, cuidados, período de recuperação e tudo relacionado ao desejado sucesso. Até que, inevitavelmente, perguntei sobre o grande tabu dessa cirurgia. Perda de virilidade. Cuidadoso, ele disse que pode e deve recuperar, se houver algum prejuízo no desempenho será “pouquinho”. Emendei; “doutor, pouquinho é o que me resta, pois com a idade já perdi o tantão que tive nos tempos vividos”.

Quero deixar, nessa prosa meio estranha – que tenta misturar seriedade e humor -,que o mais importante a todos nós é viver com alegria e sabedoria.

E vida que segue!

*
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7 comentários sobre “Terceira cirurgia na temporada

  1. Vida que segue. Parabéns, menino.
    Feliz de quem não se furta
    de lutar, pois vale a pena;
    nossa travessia é curta,
    mas não pode ser pequena

    Da Cruz Coutinho

  2. Meu Amigo, você só não completou a frase aí no meio do seu texto. Pra dizer que, antigamente, câncer era SENTENÇA, mas hoje é DOENÇA. E é uma doença perfeitamente curável.

    Eu também já passei por 6 cirurgias, desde a primeira, em setembro de 2017, quando o rim direito foi retirado. Há 5 anos, portanto, o rim foi retirado porque carregava um tumor quase do tamanho dele. ..rs
    O que interessa não é se vamos fazer mais uma ou duas cirurgias (eu já fiz 6, incluindo também a de próstata). O que interessa é sabermos que a partir de agora não precisamos nos preocupar com a próxima ida ao centro cirúrgico. Nós já estamos curtindo o resto de nossas vidas da melhor forma possível. Aprendemos com Gonzaguinha que a vida “é bonita, é bonita e é bonita”. E com a chegada de nossos netos, nem o sexo convencional é melhor que passar algumas poucas horas com eles. Eles nos dão mais Amor e Alegria (muuuito mais) brincando com a gente no chão, do que qualquer “gostosona” que tenhamos esperado por anos e anos.

    Temos mais tempo para os amigos. E como é bom saber que os amigos são Amigos com A maiusculo. Assim como aprendemos que Amizade de verdade é muito mais que “amizade”. É AMOR. Como isso é bom.

    Como é bom desapegarmos de algumas frescuras do machismo que carregamos durante anos e anos. Pra que segurarmos o choro durante nossa vida quase toda? Chorar – seja de alegria ou tristeza, deveria ser parte obrigatória de nosso aprendizado de vida. Hoje eu choro cada vez que vejo o Henrique (meu “filhinho” de 36 anos) cuidando da Luna, a filha dele de 10 meses. Como é bom ver o paizão que meu filho se transformou. É alegria demais. E não dá pra segurar o choro! Pra que, meu Deus?

    Ah, e agora eu tô esperando o próximo. Quando você já estiver recuperado, me avise. Vou pegar um voo daqui de Brasília até Beagá. Vamos ao Mineirão ou Independência, e vamos nos abraçar chorando à vontade com cada gol do Galo. Dois sessentões vão mostrar aos jovens que a gente pode – e deve – chorar também de alegria.

    Grande abraço meu Amigo. Por quem tenho muito Amor

    1. É caro kpa7, essa nossa condição ainda de 60tão emociona mesmo. Fui lendo seu depoimento e revivendo nossos tempos. Ao final a tela estava embaçada pelo suor dos olhos. Sua netinha, tão curtida também pelos amigos, me faz viajar no Bento – meu neto emprestado – e nos dão muita vontade de continuar vivendo.
      Amanhã, no Mineirão, vou levar o Bento. É o único que me tira a atenção do gramado. Grita Hulk e canta todas aa músicas com a Massa.
      A Luna e o Bento também são Galo Doido.

  3. Eduardo antigo amigo , como está colocado no meu watts , você é bacana demais . Gostamos muito de você . Sabemos que com toda essa energia sempre estará bem . É o que desejamos com todo amor e amizade .Abraçamos e beijamos você . Obrigada , sempre . Muito importante pra nós todos . Obrigada .

  4. Eterno amigo. Quando o seu amigo Celcinho se foi você disse alto e em bom tom. Vai em paz um dia te reencontrei mas, vai demorar muito. Me espera deitado. Eduardo certamente ainda não é a sua vez. Vc sairá desta com mais tezao e amor a vida do que agora.
    Pat Van Sam

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