Eduardo de Ávila
Só não vale perder o humor. A longevidade, ainda que prematura, testa insistentemente nossa resistência física e emocional. Estou aproximado dos tempos que me será permitido andar em ônibus urbano gratuitamente. Faltam poucos meses e a exemplo da data que conquistei a vaga para idoso de estacionamento de veículo, pretendo ir no mesmo dia requerer meu cartão deste novo benefício.
E, apesar dos problemas inerentes à máquina usada, procuro levar sempre com o melhor humor esse envelhecimento. Tem tempos que não passo trinta dias sem uma consulta e/ou exame médico. Do mesmo modo que isso me motiva, por estar sempre atento, em contrapartida me faz lembrar dos longos períodos sem precisar sequer medir a pressão. Bons e saudosos tempos, porém a conta chegou. Daí me vem reflexões de que poderia, até deveria, ter sido mais comedido com isso ou aquilo.
Venho convivendo com uma hérnia de disco, hipertensão, além de outros desconfortos inerentes ao avanço do meu DNA – leia-se Data de Nascimento Avançada – tentando não perder o humor. Nem sempre é possível, mas tenho concluído que se ceder aos desconfortos, dores, mal estar e tantos “oides”, “ites” e “troses” suspeitas, isso pode te derrubar definitivamente. Paralelo a isso, presenciar partidas de pessoas tanto queridas e mesmo outras acometidas de doenças graves.
Enfim, como tudo é uma questão de escolha, por mais duro que seja vou tentando sobreviver ao envelhecimento de maneira mais branda e leve. Nem a dor lombar, causada pela hérnia e que já se arrasta por seis longos meses, tem conseguido me constranger. É um remedinho paliativo num dia, alongamentos e massagens noutro, procedimentos médicos indicados na crença que vai eliminar a dor, mas a danada é mais forte que tudo isso. Até medicamento com morfina, essa desgraça resiste.
Daí vai no exame de rotina da cardiologista confiante que vai tirar um dos dois medicamentos – que somados aos demais já passam de cinco – e volta pra casa com mais duas novas prescrições para levar na farmácia. Como se não bastasse, num dos exames de imagens, sugere agora procurar um pneumologista. A lista já era grande, agora esse novo general na minha vida vai se somar a essa cardiologista, ainda ao urologista, endocrinologista, neurologista, ortopedista. Isso só de doutoras e doutores permanentes, fora os ocasionais.
As vezes me pergunto, como consigo tolerar tudo isso e ainda manter minha rotina de bares, cafeterias, jogos do meu Galo, ocasionalmente ainda fazer uma viagem – mesmo que curta – para rever familiares e amigos. Até mesmo arriscar um passeio turístico como fiz em Tiradentes. Lá, pude me divertir visitando a Casa Torta e o Museu do Automóvel. Foram duas viagens no tempo. Na primeira com brincadeiras sadias dos meus tempos de infância e no museu revisitando a minha memória com modelos de carros dos anos 50 e 60.
E nem penso em aposentar. Não por amor ao ofício, mas por sobrevivência mesmo. Primeiro que se cometer esse desatino, vou sentir a redução drástica do poder de compra, uma vez que – diferente do resto do mundo – o valor dos vencimentos de aposentado mal cobrem os gastos com consultas e medicamentos. E também por perceber que se não mantiver a cabeça em permanente ritmo de produtividade, o atrofiamento dela irá – inevitavelmente – apressar os demais já debilitados membros do corpo.
Até que as pernas aguentarem, sigamos!
PVC é desse jeito!!!
Com fé em Deus e em Nossa Senhora Aparecida, o Atleticano nunca desiste, segue em frente quaisquer que sejam os obstáculos. Você vai superar a todos. Grande abraço.