Eduardo de Ávila
Longe de ser narcisista por amor, detesto essa condição e tenho alguns péssimos exemplos desse tipo de gente. E, me gabo ainda em afirmar que tenho um grande elenco de bons amigos, muitos desde os tempos da infância e adolescência, outros mais recentes, todos que a vida – ao longo dos tempos – foi me premiando e brindando com suas presenças ao meu entorno. Entretanto, não posso negar, que somando quase os dedos de uma mão estão meus desafetos. Isso mesmo, não chegam a cinco. Eles tem lá suas razões, como também – ainda que reservadamente – as minhas motivações se alimentam. Sei de gente que fala mal a meu respeito, porém aproveito melhor o meu tempo e dedico a eles minha indiferença. Tem coisa melhor para aproveitar na vida. Acredito que o oposto do amor não é o ódio e sim a indiferença.
Pois bem, o que trago hoje é que descobri neste carnaval quem – ao longo de 64 anos – tem sido meu melhor amigo e companheiro. Vendo à distância o movimento carnavalesco, tive muita vontade de ir para as ruas, mas as neuras do momento sugeriram que ficasse me resguardando. Desde a pandemia, que já me tira o segundo ano de folia, até a um procedimento médico recente que me limita o balanço do corpo.
Adoro carnaval. Desde os tempos de criança na minha Araxá. Lá fiz toda essa transição. Desfilei em escolas de samba, aqui em BH também já fui pra avenida quando uma agremiação homenageou o saudoso amigo Roberto Drummond. Mas, lá na minha terra, de Beja e de todos os araxaenses e amigos do Araxá, foram anos marcantes. Desde a inocência do carnaval infantil aos animados bailes do Grande Hotel. Lança perfume, até que um policial dissimulado confiscasse, fazia a cabeça daquela inocente juventude. Aderi aos blocos de Belo Horizonte, muito antes de explodir essa tradição para o Brasil e o mundo. Méritos, a meu juízo, do amigo Mauro Werkema quando passou pela Belotur.
Considerações à parte, quero falar dessa minha solitária conclusão durante esses dias do reinado de Momo e sem muita agitação. Minha idade, a intervenção médica recente, outra mais agressiva de tempos atrás, me condenaram (ou melhor, sugeriram) que ficasse mais contido em casa. Até fui ali e acolá, porém distante da folia. Como gosto muito de música, fiquei procurando links em busca de algo que me atraísse e confortasse. Sempre repasso em grupos e mesmo a amigas/os selecionados por essa sensibilidade.
Numa dessas, recebo de uma querida e discreta amiga dos tempos do ensino básico, a seguinte observação: “Muitas vezes, nós somos nossa melhor companhia”. Ainda era domingo e eu estava dividido entre a necessidade em resistir e o impulso de tentar curtir o carnaval. Foi a dica que precisava pra me conter. Aqui fiquei e estou até essa terça que marca o fim do meu segundo e mais quieto e discreto carnaval de todos os tempos. Ano que vem, com a graça dEle, e em forma, pretendo repetir minhas performances de todos os tempos.
Pois bem, aqui nessa solidão de quem mora sozinho, porém sempre rodeado de bons(as) amigos(as) e com a presença – insisto – dEle, recebo outro comentário da amiga Patrícia Lechtman. Ela, que esse mundo virtual me brindou, é uma atenta leitora que me sugere e até dá boas dicas de textos e edição deles aqui deste nosso Mirante. Solitária, como muitos de nós, ela me enviou uma mensagem sugerindo que falasse do bloco dos solitários e solidários. E é essa reflexão que trago como dito acima. Tenho muita gente conhecida, que essa solidão aparente (assim como eu), não impede ações de solidariedade de toda natureza. Desde atendimento fraterno, passando por gestões de atendimento aos carentes, até mesmo suporte financeiro a entidades.
Assim seja!
Duas considerações finais! Tenho uma amiga, Eliane Diniz, que tem a frase “eu me amo” no seu status do whatsapp. Acho legal, mas resistiria em postar no meu, porém depois desse quase retiro espiritual que estou passando neste carnaval, concluí – como sugere o título – que temos sim de nos amar para amar ao próximo. E o princípio disso e essa condição de sermos nosso melhor amigo. Eu já fiz tantas coisas na vida, algumas foram legais outras nem tanto, mas faria tudo outra vez. Acertando e errando.
A segunda e última consideração. Que também me colocou em reflexão nestes dias. Sobre a mentira. Se tem algo que incomoda a todos nós é a mentira. Desde aquelas cruéis que causam desconfortos inaceitáveis trazendo consequências irreversíveis até a mais inocente e sem sequelas. Causam, tanto uma quanto a outra, abalos na base do pilar que mais fortalece uma relação. Confiança. Quebram o lacre da confiança. Por mais que a gente tente superar, o pensamento sempre leva à tona a mentirinha dita sem intenção de causar qualquer impacto, mas foi uma mentira.
Decepções de lado, sigamos, sempre ao lado de boas e bons amigas e amigos, pois sem essas pessoas a vida seria sem graça e sem as graças. Eu me amo, me respeito e me admiro. Isso por estar sempre em dia com a verdade, pois por mais que certas pessoas defendam que mentiras caridosas evitam catástrofes, prefiro defender a premissa de que a verdade tem voz.
Como sempre boas reflexões. Triste aquele que não ama a si próprio.
Obg, dr. Leonardo. Aprendemos todo dia.
“A verdade liberta”.
Exato. Assim seja.