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Força Divina e Resistência

Eduardo de Ávila

Revistando minhas memórias, veio à minha lembrança que já relatei aqui minha confiança no Criador. Assim como também, que embora frequente tem mais de duas décadas uma casa kardecista, mantenho meu respeito por todas as demais crenças. Até porque Deus e seu filho Jesus são únicos e seguimos seus ensinamentos. Daí, como ouvia desde criança, “felizes os convidados para a ceia do Senhor”.

Os tempos vividos são longos, já passei a marca da existência do meu saudoso pai, sendo que no final deste ano viro passageiro gratuito no transporte urbano e mesmo intermunicipal. Brinco com isso, pois quando papai nos deixou, eu já beirava 20 anos e – seguramente pelo processo de frágil saúde dele: coração e próstata – se mostrava combalido e bastante debilitado.

Os tempos são outros, a medicina avançou e a expectativa de vida aumentou consideravelmente. Na contramão dos dias atuais, que com tantos desafios nas relações, se apresentam muito mais chatos que aquela doçura que foram nossos tempos de criança e adolescência. Jogar bola na rua, brincar de pique esconde, amarelinha e outros joguinhos inocentes era muito melhor que essa parafernália eletrônica e a competição pelo último modelo.

Enfim, é uma discussão mais ampla, que nossos três mil caracteres seriam insuficientes para discorrer e confrontar vantagens e desvantagens dessa modernidade que impede até o diálogo doméstico. Porém, uma convicção pessoal eu cheguei e dela – para o tempo que ainda tenho aqui nessa existência – não vou abdicar é que consegui matar muito da minha ansiedade que me impulsionou por tempos. Desde a tenra idade, passando pela adolescência e boa parte da vida adulta.

Passei a perceber que, por exemplo, os longos anos de divã – que me foram importantes – poderiam e foram trocados por mais tolerância e afastamento do que não me agrada e de onde não sou bem aceito. Não foi fácil, mas afirmo que bem mais leve se tornou a minha vida. Nunca tive, e isso é algo que carrego desde sempre, ambição por poderio de qualquer espécie. Social ou financeiro, especialmente.

Vou revelar algo que sempre carrego comigo, teve uma pessoa em Araxá que – sem saber – me deu força nessa minha resistência em não ceder aos encantos momentâneos. Dona Regina Porfírio Botelho de Resende, dona da Rádio Imbiara, que quando eu tinha 24 para 25 anos, me elegi vereador da cidade e – afirmo – cumpri com dignidade meu mandato. Na ocasião ela disse num comentário da emissora que o então vereador não mudou sua conduta, era o mesmo menino de calça curta dos tempos do Grupo Escolar Delfim Moreira. Até hoje, por qualquer maior manifestação que recebo, recorro à essa fala dela para resistir à tentação de qualquer natureza.

E, com isso, percebo sintomas pessoais que me fortalecem. Como disse, meus tempos de terapia foram longos, a última delas – hoje uma grande e querida amiga, até confidente – me mostrou que eu estava bem e passei a enfrentar toda adversidade como oportunidade para reavaliar conceitos e até mesmo companhias. Sem consumir álcool já por mais de 20 anos, troquei a mesa de bar por cafeteria, salas de cinema e prosas mais interessantes.

Visito sistematicamente cardiologista, endocrinologista e faço check-up anual. Foi assim que, previamente, ao ser diagnosticado com tumor no intestino, imediatamente foi feita a cirurgia. O mesmo se repetiu com estreitamento de esôfago, cordas vocais e na última semana com uma chata hérnia de disco. Aos poucos fui me livrando desses males e desconfortos, assim como afastei de bons amigos que se aderiram ao newrichismo (adaptação de new rich/novo rico) e ficaram tão distantes e – na verdade – noutro patamá como diria torcedor de time de futebol. Me incluo neste último caso.

A força que me induz a seguir mais ameno, resignado e mesmo resiliente é que acredito na vida eterna. Estamos aqui, transitoriamente, em corpo físico. A alma e o espírito sobreviverão a toda essa ganância e empáfia, pois como diz um provérbio: “depois da tempestade vem a bonança (ou calmaria)”. Daqui não vamos levar nada que temos, mas sim o que somos. O ter não terá valor, mas o ser sim, esse vai avaliar sobre o reino da eternidade.

Recentemente, como sinalizei, tenho buscado a cura – confiando na medicina terrena e na medicina espiritual – e acredito que a crença brota da fé. A dádiva de inúmeras curas me foram concedidas e nesse processo de recuperação da minha coluna, estou confiante que caminharei com passos firmes e pernas equilibradas para o resto da minha vida. E quero comemorar o centenário, se não tivesse mudado hábitos, talvez nem pudesse digitar esse meu pensar para mais uma terça-feira do Mirante.

Sigamos! Acreditando no Deus Supremo e em suas belas características. A onipotência, o Poder Absoluto sobre todas as coisas. A onipresença, o Poder de estar em todos os lugares. A onisciência, o Poder de saber tudo. E a linda onibenevolência, o Poder da bondade infinita.

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