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Precisamos curar do azedume pós pandemia

Eduardo de Ávila

Pode até ser cisma minha, mas sinto em algumas pessoas – até no meu entorno – um certo mau humor cotidiano. Não sei definir ou distinguir se essa condição era pré existente à crise sanitária que passamos, ou se foi adquirida durante o isolamento social duramente experimentado nas duas recentes temporadas de nossas vidas. Fato é que, preocupado, faço até uma reflexão pessoal se estaria também contaminado desse ambiente de hostilidade.

Circulo muito pela cidade, encontro pessoas o tempo todo, proseio e tento – na medida do possível – ser otimista por dias melhores que nos aguardam para serem cumpridos. Além disso, como participo deste blog Mirante – assino outro individualmente que é relacionado a futebol e especificamente sobre o meu time do coração, conhecido e reconhecido mundialmente como Galo – condição que abre portas para manifestações variadas sobre o pensar individual de cada pessoa e merece ter respeitadas suas opiniões.

Até aí, tudo bem. Porém, quando o contraponto sugere tom agressivo e até ameaçador, o otimismo dá lugar ao entristecimento e até uma quase desmotivação com o futuro da humanidade. Lá no outro espaço, cotidianamente, tem seis frequentadores – três deles já identificados – que não medem esforços para manifestações distantes dos padrões de civilidade e urbanidade. Um deles, que é fake, em suas observações deixa rastros de incrível periculosidade que indicam pré disposição para a prática de delitos. Triste!

Assisto, incrivelmente, até filhos contestando pais de maneira tão contundente que – nesse caso – me sugerem uma borrifada de depressão. Dias atrás, presenciando um dos progenitores recebendo um doce elogio à sua cria, que orgulhosamente reagiu citando a genética. Era num ambiente tão saudável e amistoso, que foi cortado pela reação daquela ainda criança – apesar das décadas já vividas – que deixou a todos boquiabertos em silêncio. Tive pena do bombardeio gratuito e sem sentido destilado para desqualificar o entristecido recebedor do elogio.

Entendo que, nesse caso, dos filhos dos tempos recentes a culpa é exclusiva da nossa geração. Fomos criados, num ambiente familiar de total respeito aos pais, tios e avôs, onde não cabia qualquer tipo de confronto com os mais velhos. Vi e pude assistir, embora tenha poucas lembranças de três entre os quatro avós/avôs, meus pais e tios ouvirem cuidadosamente as considerações, mesmo não concordando. Hoje, por culpa nossa, que optamos por dar voz ativa e liberdade aos nossos filhos, somos obrigados a – como na época que éramos filhos – a abaixar a orelha e enfiar o rabo entre as pernas. Enfim.

Idoso naquela época era considerado e, no máximo, com respeito – entre nós – dizíamos que a velha da esquina era uma bruxa da casa mal assombrada. Tudo isso, debaixo do medo e receio dos nossos pais tomarem conhecimento dessa quase brincadeira e tomar um castigo daqueles de nem sair de casa por dias. São os tempos modernos.

Divaguei um bocado, refletindo enquanto redigia para essa terça-feira, a pensar sobre as razões dessas mudanças de comportamento da atualidade. Seria esse azedume, que estamos experimentando e mesmo constatando, fruto dessa distensão na maneira que optamos por preparar as futuras gerações? Não tenho resposta, até porque não tenho qualificação profissional para buscar esse entendimento. Só sinto, isso todos nós sentimos. Tempos difíceis, onde a docilidade e bom tratamento seriam saudáveis ao bem viver.

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