A (in)tolerância nossa de cada dia

Eduardo de Ávila

Ando percebendo que estou caminhando na contra mão dos fatos. Ouvia, quando mais jovem, que com o passar dos tempos, as pessoas se acalmam e até acomodam, deixando de lado as rilias que a vida sugere. Pois que, tenho percebido diferente ao meu entorno, embora comigo – felizmente – os impactos e dissabores recebam menos reações que em experiências anteriores.

Faço, além dessa modesta participação semanal aqui no Mirante, um blog diário sobre o time do meu coração. Assunto excitante, por envolver paixão de torcedores, tanto convergentes quanto divergentes. Impressiona a quantidade de sabidões, que estão atentos às profecias do acontecido. “Eu disse, eu falei, eu avisei” e por aí vai.

Se ficasse por aí, não passaria do desabafo de momento, mas alguns partem para agressões pessoais. Até com o blogüeiro, que não joga, não escala, não contrata e tampouco tem ação na gestão do clube. Tento, tão e somente, deixar o espaço democrático para o Torcedor se manifestar. Tolero até alguns fakes, já inclusive identificados, com impropérios que morrem na lixeira do blog.

E essa constatação de que a intolerância vem ultrapassando barreiras, pode ser identificada também nas redes sociais. Não só futebolisticamente, assunto que vivo intensamente, mas ainda em debates políticos. Não me permito, no outro blog, agregar essa prosa ao propósito daquele espaço. Aqui no Mirante, sim, já demonstrei em várias oportunidades o meu pensar sobre o nosso triste momento atual.

Daí, seguramente por não terem chance dessa provocação lá, esses débeis dos tempos modernos, invadem as páginas pessoais e com as ferramentas do ódio, atacam a quem pensa diferente. Costumo dizer que a minha paciência vai até a página 8 de um livro de mil. Primeiro, sutilmente, mando um recado.

Se o imbecil insiste, mais incisivo, sugiro enfiar o rabo entre as pernas. Até agora tem dado resultado. Na última semana, três desses bobalhões optaram por deixar as provocações pelo caminho. São espertos, nada de inteligentes, sabiam onde eu pretendia chegar.

Ao tomar um carro por aplicativo, serviço que anda ruim esse creideuspai, presencio uma situação muito constrangedora. O motorista, aparentemente da minha idade, recebe um telefonema de sua casa. Ao que me pareceu, a esposa requisitando que ele a transportasse, daí ele explica estar terminando uma corrida. Ele me levava, por volta de 18h, do meu trabalho até a região da Savassi.

Com um semblante de cansaço, desabafou que teria de terminar minha corrida e ir para o outro lado da cidade para levar sua companheira num trajeto de quatro quarteirões. Ponderei, pra que fui fazer isso…, que ela devia ir a pé ou até mesmo tomar um carro por aplicativo. Ele, desconsolado, disse que ela sempre faz isso e exige a imediata mudança do seu itinerário. Não deu tempo nem da conversa render, a mulher ligou novamente para saber se ia demorar.

Ao que ele disse que o passageiro ia descer em dois quarteirões, não me recomendo contar o que tive de ouvir dirigido ao sofrido senhor que fazia uma corrida de dez reais comigo. Ele tentou encerrar a conversa e ela insistia aos xingamentos, o que o fez encerrar a ligação. Nesses dois quarteirões, ela ligou mais duas vezes – sem que ele atendesse – até que encerrasse a corrida. Na despedida, em meio a insistentes pedidos de desculpas dele, pude ouvir o seguinte comentário. “Como não parar num bar e beber umas cervejas antes de chegar em casa? E ela ainda reclama que era pra tomar lá. Como?”

Ontem, com a queda do WhatsApp, Facebook e Instagram, qual entre nós não ficou com os dedinhos aflitos e nervosos? Quem pagou a conta foi o Twitter. Pra que tanto stress? Saudade de brincar de pique esconde, passa anel, amarelinha e jogar “pelada” no jardim da Estação Ferroviária. Sério, essas e outras brincadeiras eram mais saudáveis e ralar um joelho nunca deixou ninguém nervoso e desarmonizado. Água com sal e mertiolate (esse hoje é condenado) trazia de volta para a brincadeira.

Em tempo: moro sozinho tem mais de uma década.

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