Sandra Belchiolina
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Escrevi sobre animais nas duas semanas que se passaram. Os temas que na sequência foram: os gigantes do mar – a baleia, os gigantes do ar – o albatroz; pensei para essa semana – o gigante da terra. Não será o tamanho físico que determinará o terrestre, mas algo especial. Falarei do homem e suas gigantes invenções. Melhor, falarei da gigante invenção que é o amor, afinal, passou-se há poucos dias essa data dedicada a Eros.
Não tenho a pretensão de desenvolver nenhuma teoria sobre tipos de amores conforme definições filosóficas ou demais. Mas os poetas falam dessa emoção, sonho, desejo de encontro e relação amorosa, do fazer par. O que segundo Lacan, psicanalista francês, é impossível. Não entrando nesse mérito, falando somente do lado romântico, busco o poeta para essa crônica e me mantenho no ritmo do mar também.
Começo o diálogo com nosso precioso Carlos Drummond de Andrade: “O mundo é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.” Sobre a areia e tendo o mar de companhia, caminhava no dia dedicado ao amor, quando avisto o que motivou essa crônica – um desenho na areia: “TE AMO” e o formado do romântico coração. Capturei a foto ilustrativa e segui pensando:
– Era um casal? Foi um ritual para celebração de cupido? Com declarações de amor? Casal apaixonado? Ou será que é uma dupla querendo apimentar algo que já está morno? Um novo casal e um dos pares resolveu declarar a paixão? Mas, também pode ser um solitário apaixonado dando vazão ao seu sentimento.
Fato é que o desenho na areia em menos de cinco minutos não existiria mais. O mar já lambia sem piedade esse momento fugaz. Menos fugaz pode ser o amor do casal ou do solitário andarilho. Sigo minha caminhada torcendo por eles e desejando que a vida seja mais generosa do que o mar para os corações apaixonados.
Maria, a pescadora de crônicas passadas. Eu a reencontrei na praia novamente. Tentei conversar um pouco, mas ela estava na correria e seu marido aguardava no barco para seguirem mar adentro. Corria para pegar a rede de pesca. Mas também, nesse breve encontro, confirmei o que já havia escutado sobre sua história.
Lembro sobre seu amor pelo mar e como seu marido havia-lhe salvado a vida. Na praia, Maria conta-me que ficou órfã de pai e mãe e uma tristeza tomou conta, estava desolada e sem vontade de viver. Momento que encontra Sr. Reis, pescador e o pede para leva-la para o mar. Conforme conta: “nunca mais sai”. Desde então Maria é uma pescadora – alerto que não é uma profissão onde encontramos muitas mulheres. Para minha alegre constatação, recebi um vídeo na véspera do dia dos namorados, onde sua amiga Geovanna filmava Maria saindo para pescar, e dizia: “lá vai Maria e Reis namorar no mar”.
Com certeza o amor tem seu valor quando dá sentido à vida de alguém e o faz desejante de vida.
Como já escrito por Drummond: “Amar se aprende amando”. Nos sonhos dos namorados da imagem na areia e o amor maduro de Maria, finalizo o texto nas ondas do mar – que se formam para logo se quebrarem na praia, num fluxo e refluxo contínuo, com:
Amor e Seu Tempo
Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.
É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe.
valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.
Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.