Brasil na corrida das vacinas

Reprodução/GettyImages
Guilherme Scarpellini
scarpellini.gui@gmail.com

Li que jovens americanos recebem vacinas nas esquinas e, em recompensa, escolhem levar para casa um baseado, uma cerveja, um “donuts” ou até cem dólares.

Do lado de cá dos trópicos, o jovem que vos escreve fumará um baseado bolado em uma nota de cem reais, comendo um “donuts” molhado na cerveja, se for vacinado até dezembro. Como recompensa, vem recebendo um soco do Bolsonaro na cara a cada dia que seus velhos passam sem receber a imunização completa. Só nesta semana, minha a mãe recebeu a primeira dose. Meu pai, uns dias antes.

Depois vem o Nelson Rodrigues — morto há quarenta anos, mas há quem ainda diz o que ele disse — que somos acometidos por complexo de vira-lata. É mais complexo do que isso. Aliás, é o mais complexo dos complexos que pode padecer uma nação: a falta de liderança. Quer mais complexidade? Eis a liderança que nos conduz direto para o buraco, isto é, para a cova.

O excelente documentário “A corrida das vacinas” é prova disso — além de ser prova documental para a CPI. Alô, Renan? Quem diria, Calheiros. É de graça, no Globo Play.

Aprendi com o documentário sobre a engenharia das vacinas. Como é bonito isto: engenharia das vacinas. Mas é isso mesmo. Cada imunizante é arquitetado de uma forma diferente, mas com um objetivo comum: enganar o nosso organismo, que passa a produzir anticorpos como se infectado estivesse.

A vacina da Pfizer é uma das melhores. Mais de 90% de eficácia e sem efeito colateral, salvo raras exceções. E por que nossos bracinhos não merecem a melhor picada? Porque Bolsonaro negociou as doses do imunizante americano, como se estivesse pechinchando o preço do abacaxi na feira.

Indagado por jornalistas sobre o fracasso da negociação, que poderia ter reduzido em milhares a conta de mortos no país, o celerado alegou que os americanos impuseram entraves para a compra e ainda questionou: “agora eu tenho que ficar negociando vacinas?”. Claro que não, senhor presidente, tem que negociar bitcoins no mercado de criptomoedas, oras bolas.

É mole? Como diz o Zé Simão: o Brasil é lúdico. Que eu vou fumar o meu “donuts” alucinógeno.

Guilherme Scarpellini

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